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1 – Domingo do Amor revelador
João 13,31-35
No final do capítulo 12 do Evangelho de João, se lê: “Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” vv. 45-46.

Hoje, no final do capítulo 13, Jesus vem nos entregar, hoje de novo, o seu “novo mandamento”: “Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também deveis amar-vos uns aos outros” E acrescenta, logo em seguida: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”.

 Num cartaz, na entrada duma igrejinha se podia ler: <<Procure viver como Jesus ensina, pois talvez você seja o único Evangelho que muita gente vai ler na vida>>.

 O passado “15 de Maio” ficará como um dia inesquecível da História deste país. Em centenas de cidades, capitais ou interioranas, milhares de pessoas marcharam e se manifestaram contra as investidas destruidoras do governo federal sobre a Educação e contra a tramada maléfica “Reforma da Previdência”. 90% eram Juventude. Um sinal luminoso de ESPERANÇA!

 Na verdade, em tempo de Pascoa, marchas como estas, que um dia fizeram vibrar o coração de Paulo Freire qual presságio ou mesmo ensaio de LIBERTAÇÃO, nos fazem vislumbrar, para não muito distante, um horizonte de MUDANÇA. E vem aí o “14 de Junho” conclamando toda a Classe Trabalhadora para a GREVE GERAL.

 “Idiotas úteis”, “massa de manobra”, para o tosco Capitão – igualando-os certamente à gente iludida que o elegeu – todo esse Povo, sobretudo toda essa Juventude, deu um grande testemunho de AMOR, que com certeza, fez vibrar o coração d’Aquele que hoje nos confia seu Mandamento. Não importa a fé que professem, a Igreja ou religião a que pertençam… Não importa sequer se creem em Deus… “Cristão”, discípulo, discípula de Cristo, de fato, é quem ama, quem, se solidariza com o mais precisado, quem corre riscos e dá a vida pelo bem do seu Povo sofrido. ALELUIA!

*

<<NÓS SOMOS A IGREJA>>

A Igreja é um povo chamado a ser livre e solidário com a multidão (cf. Mc 6, 34)

      Que maravilha, se a vida na Igreja nos provocar a dizer: “Se é possível entre nós, por que não pode ser assim também na sociedade?!”

     Que maravilha, se a intensidade de nossa experiência comunitária, de liberdade e de solidariedade, transbordar naturalmente em irresistível élan de luta política “para trabalharmos na transformação dos reinos deste mundo no Reino de Nosso Senhor!” (…)

     Que maravilha, se outras pessoas ao olharem para nós, para nosso jeito de sentir, de pensar, de nos comportar e de nos organizar, se sentirem atraídas a dizer: “Se o amor é eficaz, a ponto de ser capaz de provocar essa nova maneira de viver, por que não é possível na sociedade toda?!”

     Quando a Igreja será realmente “ecclesía”, aquela assembleia de cidadania, alternativa ao sistema social vigente, “luz e cidade situada sobre o monte” (Mt 5, 14), tão sonhada por Jesus e, particularmente, pelas comunidades do Novo Testamento (cf. Mc 10, 35-45)? Assembleia que se identificava como alternativa à “ecclesía” das cidades greco-romanas, constituídas só por machos, ricos e de famílias de prestígio.

     Sempre seremos pessoas imperfeitas e pecadoras, carentes de conversão. Mesmo assim, para Jesus, a Igreja é a assembleia da nova aliança, continuadora da assembleia do povo de Deus, nascida no deserto sob a liderança de Moisés. Para o Apóstolo São Paulo, é a “ecclesía”, isto é, a assembleia popular, “santa assembleia do povo de Deus”, que devia renovar a aliança do povo com Deus, e substituir a “assembleia” nas cidades greco-romanas, que só abrigavam quem era considerado “cidadão livre”, gente que se sentia superior aos demais: senhores versus escravos e mulheres.

Sebastião Armando, bispo anglicano

*

Em memória de ANTONIO HENRIQUE PEREIRA NETO
Mártir da Juventude Estudantil

      Dia 27 de Maio de 1969, pouco mais de seis meses do famigerado Ato Institucional no. 5, na Cidade Universitária, campus da UFPE foi encontrado o corpo deste jovem presbítero da Arquidiocese de Olinda e Recife, vítima da insanidade violenta do Regime Ditatorial a que fomos submetidos por cerca de 21 anos.

     Dedicou o melhor de sua breve existência ao exercício do ministério presbiteral entre os jovens estudantes do Nordeste, especialmente esta Arquidiocese: Evangelizar a Juventude Estudantil utilizando uma linguagem juvenil, em rodas de conversa que permitiam aos jovens entender o mundo em que estavam metidos, à luz da fé em Jesus Cristo, e se motivar à militância em meio aos colegas, no sentido de se conscientizarem e resistirem às forças da opressão que impunham ao povo o medo, o silêncio, a acomodação e a escravidão. Quanta atualidade tem esse testemunho!

 2 – DOMINGO DA PROMESSA DO ESPÍRITO E DA PAZ
João 14,23-29

De que coisa a gente precisa mais na caminhada da vida senão de discernimento e de paz?…

Discernimento, capacidade de distinguir o certo do errado… de encontrar caminhos no emaranhado das conjunturas… de ler os “sinais dos tempos”… para poder fazer as escolhas acertadas e tomar decisões sensatas que melhor se adequem à realidade, melhor respondam aos desafios que estão postos, aos apelos que Deus nos está fazendo.

Só então, encontraremos os caminhos da Paz, pelo menos, daquela Paz que nasce da Verdade e é fruto da Justiça, coisa que o mundo, com suas mentiras, enganações e injustiças, nos nega… Coisa que só Deus e seu Filho nos podem dar.

É o que hoje, a 15 dias de PENTECOSTES, Jesus vem nos prometer, nos garantir.

Tudo isso tem sabor de Páscoa: tudo isso só acontece porque nosso Deus é um Deus que passa, e sua passagem é libertação, é renovação, é ressurreição, é “Vida em abundância”. Por isso a gente canta “Aleluia!”.

E como tudo isso é tão atual nesses dias que vive nosso país!

Cristãos e cristãs, não temos direito de baixar a crista e ceder à desesperança, ao desengano.

Às vezes, esse sentimento de não acreditar mais em nada é um jeito camuflado de se negar ao que a História e o Deus da História nos estão pedindo.

É uma desculpa esfarrapada para nosso comodismo e acomodação.

Mais que nunca, lutar por POLÍTICAS PÚBLICAS

<<No nosso último encontro, na Bolívia, com a maioria de latino-americanos, pudemos falar da necessidade de uma mudança para que a vida seja digna, uma transformação de estruturas; além disso, do modo como vós, movimentos populares, sois semeadores de mudança, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo, como numa poesia; foi por isso que vos quis chamar «poetas sociais»; e também pudemos enumerar algumas tarefas imprescindíveis para caminhar rumo a uma alternativa humana diante da globalização da indiferença: 1. pôr a economia ao serviço dos povos; 2. construir a paz e a justiça; 3. defender a Mãe Terra>>. Papa Francisco aos Movimentos Populares – Vaticano 05.11.2016

 O LOUVOR DAS OBRAS

Jesus ensinou-nos a pedir, antes de tudo, ao Pai do Céu: “Santificado seja o vosso nome”. Mas, antes, Ele nos havia alertado:

“Brilhe a luz de vocês diante das pessoas, para que elas vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês que está nos céus” (Mateus 5,16).

 3 – FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR
Lucas 24,46-53

Quantas vezes, ao longo de nossas vidas, já dissemos a oração que Jesus nos ensinou, o PAI NOSSO? E os primeiros pedidos dessa mais importante das orações são:

– para que o nome do Pai seja “santificado”, isto é, respeitado por nós seus filhos e filhas…

– para que o Reino do Pai “venha a nós”, isto é, venha, aqui e agora, para nosso espaço de existência, nosso chão…

– e para que sua “vontade” seja feita “assim na terra como no céu”, sim, porque ele só reina, verdadeiramente, lá onde sua vontade á cumprida… E é para ser cumprida aqui, nessa terra, como é perfeitamente cumprida no céu. Sendo assim, o destino dado por Deus à nossa terra, é que ela vire um céu!

Por isso mesmo é que aqueles homens vestidos de branco disseram para os apóstolos que não ficassem olhando pra cima, para o céu… Jesus subia para o Pai, estava desaparecendo dos olhares deles… Agora era chegada a hora de arregaçar as mangas e sair em missão!

A partir daquele momento, começava o tempo de exercer, na terra, nossa cidadania celeste:

– sairmos as ruas, em nome de Deus, o Pai, denunciando todas as injustiças feitas a seus filhos e filhas, e à própria Terra…

– irmos ao encontro de todas as pessoas que vivem oprimidas e excluídas, e, em nome de Deus, prestarmos nossa solidariedade…

– marcar presença em todas as frentes de luta da Classe Trabalhadora e dos Movimentos Sociais Populares, para que os direitos conquistados pelo Povo sejam respeitados e se avance para novas conquistas: a Reforma Política, tão urgente… a Reforma Agrária, tão adiada… a causa maior da EDUCAÇÃO, ameaçada por um governo obscurantis-ta, reacionário e fascista…

Jesus fez a sua parte e se foi. Agora, é nossa vez: é na força do Espírito que ele nos envia, façamos a nossa!

 Santo Agostinho bispo de Hipona, África, século V:

<<Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu: suba também com ele o nosso coração.

   Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrestres”.

(Cl 3,1-2). E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.

   Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros.

Deu testemunho desta verdade quando se fez ouvir lá do céu: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4).

E ainda: “Eu estava com fome e me destes de comer” (Mt 25,35).>>

 Coisas “terrestres”: são os valores do mundo, que se opõem às coisas “celestes”, aos valores do “Reino de Deus”, que a gente quer ver triunfarem nesta terra, assim como a gente pede no Pai Nosso. Apoiar quem luta pela Verdade e pela Justiça… ser solidário com que mais precisa… são coisas do céu, causas de Deus!

 Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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