Padre Beto 15 de maio de 2019

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Em 1988, o Papa João Paulo II visitou a humilde cidade de Melo, que fica na fronteira do Uruguai com o Brasil. Os moradores mobilizaram-se numa série de preparativos para a grande visita. Estimava-se a vinda de centenas de milhares de visitantes e os moradores contavam com esse evento para mudarem de vida. Muitos venderam casas, terrenos e outros pertences para comprar carnes, linguiças, pães e afins para abastecer o público esperado com comida suficiente. O filme “O Banheiro do Papa”, de César Charlone e Enrique Fernández, acompanha o drama de Beto, que tem a ideia de construir um banheiro coletivo para o uso dos visitantes.

Apesar de tentarmos arrumar muitos “bodes expiatórios” para justificar nossas omissões ou nossas escolhas, nós sempre temos a liberdade de escolher. Justamente nesta situação se encontram os doze discípulos de Jesus em Jo 6, 60-69. Jesus os coloca na situação de escolha: ficar ao seu lado ou ir embora como outros já haviam feito. É uma escolha radical que pode modificar suas vidas por completo. Assim também acontece conosco, pois diante de qualquer circunstância podemos escolher deixando a vida como está ou modificando-a, tendo uma determinada conversa com alguém ou mantendo-se em silêncio, aceitando o aumento da tarifa do ônibus, da taxa de água, do próximo IPTU ou protestando contra qualquer aumento abusivo. Na vida não há neutralidade, somente escolhas. O que precisamos fazer é refletir sobre elas e nos posicionar conscientemente. Como saio de uma sala? Levantando, abrindo a porta e saindo. Existem pessoas que querem sair da sala, mas se mantêm sentadas esperando que alguém venha buscá-las ou que alguma coisa aconteça para que elas justifiquem sua saída.

Diante das escolhas dois aspectos são fundamentais e devem ser refletidos. O primeiro é a intenção de fazer ou não fazer alguma coisa. Esta sempre existe. Muitos discípulos que deixaram Jesus talvez o tenham feito porque Jesus já demonstrava que não iria ser um rei poderoso e não iria dominar nações como os judeus esperavam de um Messias. Eram pessoas que procuram talvez estar ao lado de Jesus para adquirirem poder econômico e político. Da mesma forma, quando muitos trabalham em uma eleição não pela convicção de que seu candidato fará um bom governo, mas esperando ganhar um emprego na máquina do Estado. Muitos motivos podem nos levar a uma escolha: manter o status, a popularidade, não ofender as pessoas, ser querido por todos.
Outro aspecto importante que precisamos pensar diante das escolhas é a consequência que elas terão. Nem sempre a consequência está ligada ao motivo da escolha. Muitas vezes, deixamos de fazer ou fazemos alguma coisa por puro egocentrismo e, no final, a consequência é a situação do ridículo, a vida medíocre e empobrecida.

Os discípulos fazem a escolha de ficar com Jesus e justificam sua escolha: “tu tens palavras de Vida Eterna!” Aqui a intenção não está centrada no “eu”, mas em virtudes que eternizam a vida, que tornam a vida possível. Justamente esses valores devem nortear tanto nossas intenções como as consequências de nossas escolhas. Os discípulos poderiam voltar para suas casas e retomar sua rotina de vida, mas preferem continuar a seguir Jesus. De certa forma, sua escolha é uma escolha para o desconhecido, para o risco, para o inesperado. Mas, ao mesmo tempo, é uma escolha para a vida e não somente para suas vidas, para a vida como um todo. Justamente esta escolha que faz com que os discípulos se tornem verdadeiramente humanos. Aqui se encontra o ponto principal da escolha consciente, madura, sem “bodes expiatórios”: a ação humana gera um fazer que nos faz. Nós não somos o que pensamos, o que sonhamos, o que gostaríamos de ser, não somos uma imagem construída e muito menos o que os outros podem pensar. Nós somos o que fazemos.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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