Estranho é observar através da persiana.
A sombra coando o café, a satisfação contida e aliviada do prazer.
O rabo de olho passado no jogo da TV, como quem não quer se envolver. Não agora.
Estranho é ir e vir nessa linha do tempo. Visão da serra, da mata, das grades e paredes.
Raivas e risos se cruzando tantas vezes entre a sedução, o carinho, a dúvida e a dor.
É que a vida dói um pouco, sabe. E às vezes a gente sente falta do Merthiolate.
Sim, aquele que ardia na hora, mas o carinho de quem o passava fazia esquecer o ardor.
É que a vida arde também. Mas sempre tem alguém para soprar e quando não tem fica algo triste.
Encher a lata vazia, nem que seja com rolhas de vinhos abertos em momentos de alegrias. Rolhas imaginárias. Talvez tivéssemos enchido várias latas.
Não, não estamos tão vazios. Estamos bem cheios e nem mesmo sabemos.
Estranho, estranho é olhar através da persiana e ver a sombra largar a xícara de café no balcão, seguindo mais leve, sentindo o chão.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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Imagem enviada pela autora