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O aumento da população, a aceleração do crescimento econômico e tecnológico, a busca incessante de conforto e facilidades, somado a outros fatores, estão exigindo cada vez mais energia. De acordo com a Agência Internacional de Energia (2007), cerca de 80% da oferta energética em nível global está baseada nos combustíveis fósseis, responsáveis pela emissão de grande quantidade de gases de efeito estufa. Segundo o Ministério de Minas e Energia, em 2008 a matriz energética brasileira estava assim constituída: 37,4% de petróleo e derivados; 15,8% de derivados da cana-de-açúcar; 14,9% de hidroeletricidade; 12,0% de lenha e carvão vegetal; 9,3% de gás natural; 6,0% de carvão mineral; 3,2% de outras energias renováveis e 1,4% de urânio. No que se refere especificamente à eletricidade, as hidrelétricas representam cerca de 90% do total da energia gerada no país. A maior parte dessa energia (75%) é produzida por grandes usinas.

Conforme a Comissão Internacional de Grandes Barragens, em 2008 havia no mundo em torno de 50 mil grandes barragens em operação. Não obstante seu representativo poder energético, elas também causam sérios impactos sociais, ambientais e simbólicos. Participam com cerca de 4% dos gases que provocam o aquecimento global. Inundam vastas áreas de terras, destroem florestas, extinguem espécies animais, expulsam muitas famílias de seu habitat etc. Só no Brasil, cerca de um milhão de pessoas já foram expropriadas de suas terras por esses empreendimentos, sendo que a absoluta maioria não foi indenizada nem reassentada. A instalação de hidrelétricas tem provocado desestruturação de famílias e comunidades, traumas diversos, desenraizamento cultural, doenças, depressão, violência etc. Em vários locais, entre os trabalhadores na construção de barragens, foram constatadas situações de trabalho degradante, superexplorado e sem equipamentos de segurança. Aliam-se a essas questões, as elevadas tarifas cobradas à população pelo uso da energia.

Em face do contexto de crise socioambiental que se verifica, a ONU declarou 2012 como o Ano Internacional de Energia Sustentável para Todos com o objetivo de chamar a atenção para a importância da utilização de energia renovável em todas as partes do planeta. Atualmente, um quinto da população mundial ainda não tem acesso à eletricidade e cerca de 3 bilhões de pessoas depende de fontes energéticas como carvão, lenha e outros tipos de biomassa tradicionais em suas necessidades diárias. A ONU pretende estimular o acesso universal a serviços energéticos modernos, dobrar o crescimento da eficiência energética e aumentar a participação de fontes renováveis no total da energia consumida. Uma vez transformadas em ações efetivas, essas metas podem contribuir para mitigar as emissões de gases que geram o efeito estufa.

No Brasil, fatores político-econômicos também fazem parte dos grandes debates sobre o assunto, onde aparece, por exemplo, a questão da reestatização do setor elétrico e o subsídio da energia para as camadas mais empobrecidas da população. Visando reduzir os impactos oriundos da geração de energia elétrica, o Movimento dos Atingidos por Barragens aponta diversas medidas. Entre elas, o repotenciamento das hidrelétricas mais antigas com a utilização de equipamentos eficientes; a limpeza dos reservatórios que sofreram perdas de capacidade em virtude do assoreamento; a manutenção na estrutura de distribuição para diminuir o “vazamento” de energia e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), com potência instalada entre 1 e 30 MW. O Movimento também luta por políticas de incentivo às energias renováveis e alternativas.

Em 2004, as energias renováveis representavam 12,7% da oferta energética mundial. Entre elas estão a solar, a eólica, a hídrica, a marítima, a geotérmica, além dos biocombustíveis  derivados de produtos agrícolas como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas, biomassa florestal e outras fontes de matéria orgânica. O Brasil possui um elevado potencial para a produção dessas energias. Contudo, não basta alterar e alternar as fontes energéticas se o monopólio da geração, distribuição e comercialização permanece com as grandes empresas, que acabam sempre praticando a exploração capitalista. Também não é suficiente que as fontes sejam renováveis. Elas têm que ser sustentáveis do ponto de vista social, ambiental e econômico. É fundamental, pois, um novo projeto energético, baseado em fontes mais limpas de produção e em padrões responsáveis de consumo, visando o desenvolvimento humano integrado. (24.04.12)

Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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