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Meus queridos amigos

Trabalhador! Permite que, no Dia do Trabalho, eu te saúde! Vem sendo heroica a tua luta para seres respeitado em teus direitos essenciais.

Tens teus documentos oficiais: tua carteira assinada, tua profissão reconhecida, teu descanso dominical e tuas férias respeitadas, tua carteira de saúde, com direitos de saúde.

Vem sendo apaixonante tua luta pacífica, mas corajosa, para  limpar teu Sindicato do peleguismo. Vem sendo apaixonante tua luta pacífica, mas corajosa, pelo direito de greve. Que pena a ganância de quase todos os patrões! A chamada revisão salarial (que nem cobre os aumentos da inflação escandalosa) vai ser pretexto para muito desemprego.

Permite, meu Irmão trabalhador, que eu chame tua atenção, como irmão, para alguns pontos essenciais: Não penses, de modo algum, apenas no núcleo forte dos trabalhadores de São Paulo e Rio, simbolizados no ABC. Penses nos sub-trabalhadores, nos biscateiros teus irmãos, penses nos boias-frias, penses nos sindicatos ainda dominados pelo peleguismo…

Há quem tenha interesse em tratar bem a fina flor dos trabalhadores, desde que não haja vez, nem voz, para teus irmãos das pequenas cidades. Ai da classe trabalhadora, se ela aceitar que os sindicatos do Sul sejam tratados na linha das enormes federações de sindicatos dos USA e Canadá, deixando uma massa enorme sem voz nem voto! Cuidado com quem quer dividir a classe trabalhadora!

Já reparastes como foi conseguida a divisão não só da oposição, mas também da classe trabalhadora? Há trabalhadores nos diferentes partidos, e já começa a divisão apaixonada, a luta, entre irmãos trabalhadores…

Parabéns, pelas vitórias que vens obtendo. Alerta para não esqueceres a grande massa trabalhista, que ainda se acha em plena condição de escravos! No Dia do Trabalho, quero saudar-te, meu irmão boia-fria, meu irmão biscateiro, meu irmão sem trabalho…

Deus não só trabalhou nos primeiros dias da Criação. A Criação não para. O Filho de Deus, ao fazer-se homem, quis ser operário, foi carpinteiro. Que Deus Pai, amigo do trabalho e Ele mesmo trabalhador e que o Cristo Trabalhador cubram de bênçãos a classe trabalhadora e a livre da tentação de violência.

Mais este esforço: coragem sem ódio e sem a loucura de apelo as armas, quaisquer que sejam as explorações!
Quinta-feira, 1.5.1980

Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa. 

 Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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