Na “véspera” da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, conhecida como Rio+20, e no aniversário de um ano da tríplice tragédia (terremoto seguido de tsunami e acidente nuclear) que se abateu sobre o Japão, muitas reflexões se fazem oportunas. Uma delas, ainda incipiente, é sobre as ditas “forças destruidoras” da natureza e de nosso planeta e que expõe a nossa vulnerabilidade. Além dos três adjetivos do título, outros mais caberiam para descrever Gaia: dinâmica, mutante, volátil, sensível, imprevisível, turbulenta e impiedosa. Nenhum é errôneo ou inadequado e são “motivadores” para aqueles que se preocupam com o fenômeno “Vida Planetária”, particularmente com a Vida Humana.

Stephens Hawkings (uma das grandes mentes do presente meio científico) tem defendido que “se queremos preservar a humanidade temos que investir na possibilidade de colonizar outros mundos”, empreitada nem um pouco trivial no atual desenvolvimento científico-tecnológico. Se, por um lado, quanto maior é o nosso entendimento sobre o nosso planeta, sistema solar, galáxia e universo mais reverenciamos a beleza, a riqueza, a complexidade e a unidade entre o singular e o todo (reforçando nossa identificação com a imagem de “grão de areia num deserto incomensurável”), por outro este mesmo conhecimento (que aumenta numa escala exponencial) nos traz inquietações, robustecendo-nos como espécie pensante e importante parte, consciente, responsável e protagonista do Holus.

Se aceitarmos que o humanismo contemporâneo é (como propugno) aquele onde o ser humano deixa de ser o centro das atenções (como no humanismo clássico) e passa a ser o sujeito ciente de sua corresponsabilidade por tudo e por todos, deveríamos (neste século XXI) ter uma prática consistente com o diagnóstico de que a fragilidade do planeta e de seu ecossistema não está baseada apenas nas danosas repercussões causadas pela atividade humana, mas também pode ser evidenciada nos riscos de explosões solares, tsunamis, furacões e atividades vulcânicas (de todas as intensidades e durações), colisões de placas tectônicas (causadoras de terremotos de variadas magnitudes), quedas de asteroides (estima-se que 4700 sejam potencialmente perigosos) e intensas mudanças climáticas, entre muitos.

Vale lembrar que esses fenômenos ocorrem com muito mais freqüência do que imaginávamos e que não só parecem ter afetado outros planetas e sistemas como já vitimou a própria Terra em várias ocasiões, alguns levando ao extermínio da imensa maioria das formas de vida que nela habitavam outrora (aliás, foi um deles, há cerca de 65 milhões de anos, que facilitou nossa atual hegemonia animal).

A tarefa não é corriqueira e talvez não seja prioritária para o aqui e agora de tantos outros desafios do nosso cotidiano, particularmente aqueles causados por nosso modelo econômico-social. Entretanto, se aceitarmos que os seres humanos possuem um papel relevante nesse admirável “script” conhecido como Vida, ao lado de fundamentais intervenções que assegurem o equilíbrio e a sustentabilidade do ecossistema planetário, devemos começar a nos preocupar com o futuro e sobrevivência da espécie humana, que deve ser acompanhada de medidas concretas, como planos de evacuações para megatsunamis, construções resistentes a sismos e melhorias tecnológicas específicas (ex: dessalinização mais eficiente e de menor custo de águas salobras e dos oceanos).

Este tipo de preocupação já vem produzindo resultados, como o grande banco de sementes de Svalbard (na ilha norueguesa de Spitsbergen), os projetos LINEAR, WISE e o NEOWISE (que já identificaram 170 asteroides de risco) e o ensino do plantio de alimentos, como está ocorrendo nas escolas públicas do Reino Unido. No mínimo (essa consciência de nossa vulnerabilidade) nos deixará menos arrogantes e mais humanos, auxiliando a todos neste planeta a se relacionar mais como gente, e menos como coisa, construindo um mundo novo e uma humanidade nova, ajudando-nos também a degustar (com muito menos vaidade, egoísmo, assédios morais e com mais justiça e fraternidade) o prazer diário de estar presente (e sendo sujeitos atuantes) naquilo que um dia Einstein, numa sapientíssima reflexão, denominou de milagre: “Existem duas maneiras de viver a vida. Uma é não acreditar em milagres. A outra é acreditar que tudo é um milagre”.

Publicado no Jornal do Comercio, Recife, dia 12 de junho de 2012, página 10.

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina, professor da UPE, Coordenador do Programa Ganhe o Mundo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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