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Só os verdadeiramente livres sabem amar, 
perdoar e não julgar os outros. 

A homilia do sacerdote, no Sétimo Domingo do tempo Comum (24-02-19), despertou-me para reflexão sobre como nos percebemos humanos. Neste domingo, a liturgia que sucede as bem-aventuranças, trata do modo como Jesus viveu e pregou um ideário de ser humano: capaz de amar, perdoar e de se abster de julgar os outros.

“O verdadeiro amor é doação”. Tudo o que contradiz a doação não é amor; pode ser interesse ou egoísmo.  Amar é ser capaz de desprender-se um pouco de si para compartilhar com os outros o que temos de melhor e de mais sagrado dentro de nós. Amar é também investir, apostar e acreditar que todas as pessoas podem ser melhores do que já são, cada uma a seu tempo e a seu modo.

O verdadeiro perdão significa sermos capazes de re-considerar tudo aquilo que nos atingiu negativamente; que advém dos outros e também de nós mesmos. Como perdoamos aos outros, também temos de nos perdoar. Só conseguimos perdoar a pessoa: não é possível perdoar o mal que ela fez. Perdoar as maldades dos outros seria como concordar com elas. O perdão é necessário muito mais para quem sofreu o mal do que para quem o praticou. Perdoar é uma necessidade para manter o espírito da gente em ordem e em paz.

Abster-se de julgar os outros é uma aprendizagem necessária para reconhecermos a nossa própria limitação. Quem sempre julga os outros não é capaz de avaliar as suas próprias fragilidades e fraquezas. Abster-se de julgar os outros não significa que não devamos empenhar esforços para corrigir alguém, amorosamente. O condenável sempre é o julgamento inquisitório.

A soberba não pode ser virtude de quem julga. Como ensinou um certo juiz de direito: “o meu julgamento de alguém tem de ser justo. Quem está sendo julgado, sabe, como eu, o que é justo ou injusto, certo ou errado. Se eu usar o poder de julgador para humilhar ou enquadrar moralmente o acusado, perderei minha autoridade e o meu reconhecimento. Se o critério para julgar for a justiça (não a vingança, a raiva ou o desejo de punição) poderei andar de cabeça erguida e de forma livre na rua, pois embora contrariado, o julgado saberá reconhecer que sua condenação foi justa e merecida”.

Amar, perdoar e não julgar podem ser conjugados e vivenciados cotidianamente e permitem vivermos a liberdade. Liberdade, esse sonho humano que, embora necessidade íntima e pessoal, só concretizamos na relação com os outros. Só os verdadeiramente livres sabem amar, perdoar e não julgar os outros.

A bondade e a justiça são medidas que muitas pessoas usam apenas em relações de reciprocidade. Muitos são bons e justos somente para com aqueles dos quais imaginavam receber de volta o que lhes oferecem. De forma interesseira e egoísta, julgam-se bons ou justos a partir de suas obras. Mas os filhos de Deus aprendem que a gratuidade, a misericórdia e o perdão nos conectam ao espírito e aos propósitos do Criador. Somente aqueles que fizerem este grande esforço de superação das tentações humanas colaboram para fundir o humano com o divino. Nada fácil, mas Deus convida!

Obs: O autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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