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Saudação fraterna

1.TUDO FOI TÃO RÁPIDO

Partiu, inesperadamente, nosso querido Dom Carlos Coelho; a Provi­dencia me trouxe pela mão para Olinda e Recife; o Papa Paulo VI, profundo  conhecedor da situação da América Latina e do Brasil, resolveu que deveria ser ocupado, sem perda de tempo, este posto-chave do Nordeste brasileiro; a pos­se foi marcada para o Domingo do Bom Pastor.

É uma graça divina descobrir os sinais dos tempos, estar ‘à altura dos acontecimentos, corresponder de cheio aos planos de Deus.

2.PROCUREMOS APROFUNDAR, JUNTOS, O QUE ESTÁ ACONTECENDO

Troquemos as primeiras impressões sobre o espírito que me anima ao iniciar meu pastoreio.  Conversemos, um instante, sobre as primeiras propos­tas, as primeiras sugestões.

Chegando aqui em 1916, também vindo do Rio de Janeiro, D, Sebastião Leme escreveu uma Pastoral que nasceu clássica.  Que diria, no Nordeste brasileiro 1964, o grande D. Leme? Que me sopra, do céu, o nosso Dom Carlos? Que me inspira o Espírito Santo, que me traz para aqui?

3.QUEM SOU EU E A QUEM ESTOU FALANDO OU DESEJANDO FALAR

Um Nordestino falando a Nordestinos, com os olhos postos no Brasil, na América Latina e no Mundo.  Uma criatura humana que se considera ir­mão de fraqueza e de pecado dos homens de todas as raças e de todos os can­tos do mundo.  Um cristão se dirigindo a cristãos, mas de coração aberto, ecumenicamente, para os homens de todos os credos e de todas as ideologias. Um Bispo da Igreja Católica que, ‘a imitação de Cristo, não vem ser servido, mas servir.

Católicos ou não católicos, crentes ou descrentes, escutem todos minha saudação fraterna: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Conversa clara faz bons amigos
I. O Bispo é de todos

Ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas como indignas e pecadoras.  Quem não é pecador?  Com pecadores, respondeu que justamente os doentes é que precisam de médico.

Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição. Antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionarias, tidas co­mo de boa ou de má fé.

Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades.

Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos.  Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.

II. Venho cuidar dos pobres?

Claro que amando a todos, devo ter, a exemplo de Cristo, um amor especial pelos pobres. No julgamento final, nos todos seremos julgados pelo tratamento que tivermos dado a Cristo, a Cristo, na pessoa dos que têm fome, têm sede, andam sujos, machucados e oprimidos…

Continuando atividades a que já se entrega nossa Arquidiocese, cuidaremos dos pobres, velando sobretudo pela pobreza envergonhada e tentando evitar que da pobreza se resvale para a miséria.  A pobreza pode e ‘as vezes deve ser um dom generosamente aceito ou até espontaneamente oferecido ao Pai.  A miséria e revoltante ou aviltante: fere a imagem de Deus que cada homem; viola o direito e o dever do ser humano ao aperfeiçoamento integral.

É evidente que estão, de modo especial, em nossas cogitações, os Mocambos e as crianças abandonadas.

Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma? quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do Bispo.

Mas não venho ajudar ninguém a se enganar, pensando que basta um pouco de generosidade e de assistência social.  Sem dúvida, há misérias gritantes diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes. Muitas Vezes, o jeito é dar um atendimento imediato. Mas não vamos pensar que o pro­blema se restringe a algumas pequenas reformas e não confundamos a bela e indispensável noção de ordem, fim de todo progresso humano, com contratações suas, responsáveis pela manutenção de estruturas que todos reconhecem não podem ser mantidas.

III. Recife, cidadela na luta pelo desenvolvimento

Se quisermos ir à raiz aos nossos males sociais, teremos que ajudar o país a romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento e da miséria. Há quem se escandalize quando se afirma que este é o nosso problema social numérico um.  Há quem pense em demagogia quando se fala em criaturas que se acham em situação que nem chega a ser humana.

Um dia, os Bispos do Nordeste pediram aos técnicos do Governo que se unissem, tentando pôr em comum as minguadas verbas e os raros especialis­tas que se dispersavam em miúdas iniciativas isoladas.  Foi uma atitude pio­neira que ajudou a fazer surgir a SUDENE, que, esperamos, mereça ter sempre o nosso apoio, como instrumento destinado a romper o desequilíbrio criminoso entre áreas altamente progressistas e áreas estagnadas. Através da SUDENE, não só está sendo possível, em termos perfeitamente compatíveis com a digni­dade nacional a colaboração do capital estrangeiro, mas, o que ainda mais alegra, está se dando o início de investimentos do sul na área nordestina.

Mas desenvolvimento não se faz de cima para baixo, não pode ser imposto.  Não tenhamos medo das ideias certas mesmo que andem muito explora­das: desenvolvimento supõe despertar de consciência, despertar de sentido público, despertar de cultura, autopromoção, planificação técnica…

A Igreja não se marginaliza da história. Ela vive no coração da história através de seus leigos livres, adultos e responsáveis.

Cristo deu à Hierarquia uma missão específica de evangelização. Mas, de modo algum, afastou, a comunidade crista da grande aventura do desenvolvimento. Pelo contrário, o laicato cristão deve assumir suas responsabilidades na primeira linha. Nossa confiança é grande para com os cristãos que se comprometem com o real e aí dão testemunho de Cristo. Temos que assumir, hoje, a planificação técnica, com toda a complexidade que ela envolve. Para evitar o risco de uma tecnocracia de cúpula, e necessário que toda a comunidade nordestina se torne consciente e responsável, e assuma o desenvolvimento planificado da região.  É urgente ajudar a formação de quadros, em todos os níveis. E podemos confiar, tranquilamente, na riqueza humana do nordestino, que saberá encontrar o modelo de seu desenvolvimento, dentro do solo e do clima em que Deus o situou.  Ajudemos a fazer, sempre mais, do Nordeste uma comunidade em desenvolvimento, aberta para o Brasil e para o mundo.

IV – Convite a um raciocínio

Quem estiver se espantando com o rumo desta Mensagem, quem estiver se afligindo com as ideias e a linguagem do Bispo, me acompanhe neste raciocínio.

Deus fez a inteligência voltada para a verdade. Quando a inteligência adere ao erro é seduzida pela alma de verdade que existe dentro de todo erro.  A melhor maneira de combater o erro e libertar as parcelas de verdade prisioneiras dentro dele.  Quando o erro perde a verdade que nele se esconde, deixa do ter poder de sedução e consistência interior.

Tenhamos serenidade de espírito e coragem crista para salvar ideias justas encarnadas em expressões que, no momento, soam quase como   palavras proibidas e feias. Cultura popular; conscientização; politização; autopromoção talvez sejam nomes a serem provisoriamente esquecidos e até trocados. Mas não podemos largar bandeiras certas pelo fato de terem andado em mães erradas. Como temer movimentos que se interessam ‘a autêntica democracia e só se podem realizar em regimes que respeitam a liberdade !?… Como temer movimentos que são de essência profundamente cristã?

Seria escandaloso e imperdoável que as massas fossem abandonadas pela Igreja em sua hora mais dura, o que daria a impressão de desinteresse em ajudá-las a atingir um nível de dignidade humana e crista, elevando-se a categoria de povo.

V. Valores humanos e cristãos a desenvolver

Nós todos acreditamos que todos os homens são filhos do mesmo Pai que está no céu. Quem tem o mesmo Pai e irmão. Vamos nos tratar de verdade como irmãos!

Nós todos acreditamos que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e o encarregou de dominar a natureza e completar a Criação. Vamos fazer o possível e o impossível para que no Nordeste todo trabalho seja trabalho em que a criatura sinta que está ajudando o Criador a construir o mundo.

Nós todos acreditamos que a liberdade é um dom divino a salvar a qualquer preço. Vamos libertar, no alto e profundo sentido da palavra, todas as criaturas humanas que vivem em torno de nós.

Nós todos acreditamos que o ideal a atingir e o desenvolvimento do homem todo e de todos os homens. Temos, diante dos olhos, nos nossos dias, exemplos da indiferença religiosa e até do ateísmo a que estão chegando países altamente desenvolvidos. Não é para esquecer nosso Deus que nós   vamos desenvolver. Quanto mais avançamos no progresso material, mais precisaremos de uma fé esclarecida e firme, capaz de iluminar, por dentro, a construção ao novo Nordeste.

Por enquanto tudo isto e vago. Mas nas vamos viver juntos; nós vamos viver juntos, com a graça de Deus. E iremos examinando, por dentro, cada uma destas afirmações. Iremos estudando a maneira de transformá-las em realidade, sem que isso importe nunca é demais repeti-lo em engajamento da Igreja a qualquer pessoa, partido ou movimento de caráter político ou econômico.

A Igreja não quer dominar a marcha dos acontecimentos. Quer servir aos homens ajudando-os em sua libertação. E ela estará aí para dizer que essa libertação, que começa no tempo, só poderá ter seu acabamento completo quando o Filho de Deus voltar, no fim dos tempos, que é o verdadeiro começo.

VI) Responsabilidade grave dos cristãos nordestinos

O Brasil e o Mundo inteiro olham o Nordeste

Já repararam como o Nordeste se transformou em tema nacional e em centro de atenções internacionais? Quase sempre, porém, dentro e fora do país, são distorcidas as imagens que apresentam de nós.

O Nordeste virou clichê, virou slogan, mas clichê que precisamos tomar objetivo; slogan que precisamos corrigir.

O Nordeste não aceita a profissionalização da miséria e não pode, e não deve aceitar ser tido como a região explosiva, por excelência, da América Latina.

Unamo-nos em torno da decisão de fazer do Nordeste a antecipação do Brasil do amanhã, a prefiguração da nova América Latina e da face nova do Terceiro Mundo.

Unamo-nos; pois, desenvolvimento autêntico não pode ser trabalho de um grupo ou de uma classe. Ou a região inteira, com todos os seus grupos, se desenvolve, ou haverá arremedo e distorção de desenvolvimento.

Esta é a razão pela qual não me contento de pedir a patrões e trabalhadores, a ricos e pobres, a esquerda e a direita, a crentes e não crentes, que concordem numa simples trégua. Necessário e que se abra, confiante e largo, um diálogo crescente. É grave diante de Deus e diante da história negar-se à reconstrução do mundo.

3. A parte crista do Terceiro Mundo

Além do mais integrados no Brasil e na América Latina, carregamos a responsabilidade de ser a porção crista, o Continente cristão do Terceiro Mundo.

É evidente que nem por sombra nos julgamos por isso maiores ou melhores de que nossos irmãos da Ásia e da África, mas somos mais responsáveis.

É preciso que o cristianismo nos inspire a mística de servir de tal modo que à medida que nos desenvolvamos não nos tornemos egoístas e prepotentes.

O aviso tem razão de ser. Tenhamos a coragem de ter presente que, enquanto nos muros de nossas cidades se leem frases contra imperialismos estrangeiros, em cidades como as capitais do Paraguai e da Bolívia se leem slogans contra o imperialismo brasileiro.

Da parte da América Latina cristã, a fraternidade real dentro do Continente, o intercâmbio fraterno com o Terceiro Mundo, o diálogo de irmãos com o Mundo desenvolvido serão o testemunho de Cristo mais fácil de ser entendido por nossos irmãos africanos e asiáticos.

4. Cristo que é Zé, Antônio Severino

Aceleremos, sem perda de tempo, como obra crista e de evangelização, o esforço do desenvolvimento. De nada adiantará venerarmos belas ima­gens de Cristo, digo mais, nem bastará que paremos diante do Pobre e nele reconheçamos a face desfigurada do Salvador, se não identificarmos o Cristo na criatura humana a ser arrancada do subdesenvolvimento.

Por estranho que a alguns pareça, afirmo que no Nordeste, Cristo se chama Zé, Antônio, Severino… “Ecce Homo”: eis o Cristo, eis o Homem Ele e o homem que precisa de justiça, que tem direito a justiça, que merece justiça.

Para conseguirmos que os oprimidos não se entreguem a violências estéreis e destruidoras, é preciso superar a aparência de concórdia que con­siste na impossibilidade de diálogo.

Longe de indignar-se vendo os trabalhadores se apoiarem em Associações, o patrão, honestamente, lealmente, haverá de reconhecer que som seus irmãos operários, o trabalhador só por exceção consegue ser escutado e atendido. Mas as Associações, por sua vez, se enfraquecem moralmente quando es­quecem limites justos. É preciso que não se passe do abuso da força dos patrões para o abuso da força dos trabalhadores. Diálogo supõe respeito mútuo e um mínimo   de confiança e boa vontade.

5. Missa sobre o Nordeste, o Brasil e o Mundo

Peçamos a Cristo, o verdadeiro Sacerdote a quem o padre representa, que celebre o Santo Sacrifício da Missa sobre o Mundo e, de modo especial, sobre o Brasil e, de modo particular, sobre o Nordeste.

O Papa João XXIII achava que estamos vivendo o primeiro dia da Criação. Diante dos nossos olhos pasmos, o homem desagrega o átomo, joga estrelas cio céu, prepara-se para os primeiros desembarques nos astros em cavalgada.

Que depois de tanta maravilha que anda realizando, a humanidade não se divida em blocos, não se arme como nunca, não brinque com forças que amanhã poderão arrasar a terra. Que, ao invés de tanto medo e de tanto sobressalto, o homem saiba que, nos momentos mais difíceis, na escuridão mais escura, na noite mais noite, há o começo de uma luz… Que o homem, meu irmão de grandeza e de miséria, reencontre a Esperança!

Quanto ao Brasil, síntese do Mundo, cresce e se desenvolve, apesar de tudo e de todos.

O Brasil oferece, hoje, a quem tem grandeza d´alma, razão de ser para, em uma vida, viver mil vidas. O Brasil que, dentro das próprias fronteiras, possui áreas desenvolvidas e áreas em desenvolvimento (eu aberta e escandalosamente subdesenvolvidas e até áreas não ocupadas) pode e deve ensinar ao mundo o mais importante diálogo do século: entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento.

Em nosso país todos entendem e proclamam a inadiabilidade das reformas de base, havia da parte de muitos, desconfiança em relação aos executantes das reformas e, sobretudo, medo da infiltração comunista. Agora que a situação mudou, não temos tempo a perder. Que venham sem demora as espera das reformas. Que venham justas e equilibradas, mas sem de modo algum darem a impressão de mistificação.

Que venham as reformas sem necessidade de coação e sobretudo sem choques o sem rancores. Que o povo brasileiro seja sempre mais incapaz de ódio e saiba que este, sim, é o grande pecado, o pecado máximo, o desamor, pois Deus é Caridade, Deus é Amor!

E quanto ao Nordeste que, através de esmagamentos e esperanças, começa a emergir para o desenvolvimento, que ele de a todo o Brasil o exemplo de paz dinâmica baseada na justiça, de verdade na caridade, de diálogo e entendimento fraterno,  para além de divisões que podem arrastar o pais a guerra civil e ao caos.

Que do Nordeste parta para todo o Brasil o exemplo de rápida recuperação da crise política de que estamos saindo. Sem prejuízo das medidas de segurança nacional e da posição de alerta em relação ao comunismo, não acusemos de comunistas os que simplesmente têm fome e sede de justiça social e de desenvolvimento do país.

Que o Nordeste ajude o Brasil a não fraudar as esperanças do povo. Provemos que a democracia e capaz de ir a raiz de nossos males.

6. Conclamação geral

I. É Hora de Concílio

É responsabilidade grave viver nos dias do Concílio Ecumênico Vaticano II. O Papa João XXIII ao abri-lo dele quis fazer um Concílio diferen­te. Declarou abertamente que não se tratava de Concílio para lançar condena­ções e acrescentou, sorrindo, que os erros a condenar, já estavam mais que condenados.

O Concílio deveria reformar a Igreja, divina em sua origem, mas confiada a homens frágeis e pecadores. No pensamento do Papa João, na medida em que a Igreja se renovar, se reformar, facilitará a união com as famílias cristas e atrairá inúmeros homens de boa vontade. Pensa, sente e age nesta mesmíssima direção o Papa Paulo VI.

Aos Padres, Religiosos e Leigos da Arquidiocese proponho esta linha do Concilio. Ao invés de querer reformar os outros, tratemos, em primeiro lugar c com seriedade, da nossa própria conversão.

A diferença que há entre o fariseu e o santo á sobretudo esta: o fariseu o largo consigo e estreito com os outros; quer obrigar todo mundo a ir para o céu à força, o santo só exigente consigo: com os pecadores é largo como a bondade divina, sem limites como a misericórdia do Pai.

II. Hora de Colegialidade

O Concílio Ecumênico podemos, sem imprudência, anunciar vai ser marcado, de modo especial, pela decisão de levar ‘a pratica uma verdade antiga como o Evangelho: a Colegialidade dos Bispos, sob o primado do Papa.

Com a graça divina, viveremos da melhor maneira a Colegialidade : seremos um com o nosso querido Auxiliar D. José Lamartine} um com os queridos Sufragâneos da Província de Olinda e Recife; um com o Secretariado Regional do Nordeste; um com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; um com o Conselho Episcopal Latino-americano; um com os Bispos do mundo inteiro; um com o Santo Padre, garantia e fecho da Colegialidade. Guardem esta palavra, este cartão da visita: Arcebispo de Olinda e Recife e Bispo da Santa Igreja.

Mas em nossa Arquidiocese, a Colegialidade Episcopal só completará pelo Presbitério, comunidade entre o Bispo e seus sacerdotes diocesanos, em união sincera e sobrenatural com os sacerdotes do Clero religioso. Que os meus Padres saibam que, com a graça divina, chegaremos a uma fraternidade total e a um clima de corresponsabilidade, confiança, diálogo adulto, serviço.

É fácil adivinhar o que representa o Seminário para quem fala assim sobre o Clero: Padres e seminaristas terão o melhor de nosso tempo.

Quanto as Religiosas, avanço, desde já, que elas são simplesmente indispensáveis aos nossos planos de apostolado. Respeitando, em absoluto, o espírito de cada Ordem ou Congregação, parece evidente que, sobretudo, áreas em pleno desenvolvimento como o Nordeste brasileiro estão maduras para adotar a promoção apostólica das Religiosas, tal como a propaga o grande Cardeal Suenens.

Várias vezes, como trasbordamento de convicção profunda, aludimos aos leigos. Acrescentemos, de uma vez por todas, que não só sabemos que o leigo tem, na Igreja, missão própria e insubstituível, mas que, sobretudo a ele cabe dar testemunho cristão nas tarefas de civilização. Ajuntemos ainda que respeitaremos a liberdade de opção: diversidades de opinião e posições diferentes, em questões abertas, revelam espírito criador e desejo de autenticidade. Não vemos aí quebra de fidelidade, mas desejo de, por mil maneiras, viver o sentido da Encarnação Redentora. Esperamos apenas que, ao adotarem ângulos diversos em campos livres, todos salvem o respeito mútuo e a caridade. Mais ainda; que todos sejam capazes de encontro em verdades mais altas que a todos congracem. E que o esforço de união seja uma constante da querida Ação Católica, de quem podemos exigir mais, de vez que é nossa por motivos particulares.

Todos Clero, Religiosos e Leigos formamos, em Cristo, a Comunidade da Igreja, Comunidade que desejamos aberta, acolhedora, sedenta de diálogo sincero.

III. Hora de Ecumenismo, em sentido amplo

Ainda é o Concílio quem nos está alargando, sempre mais, o coração.

Sempre teremos, ao menos espiritualmente, presentes, em nossas reuniões, em nossos estudos e em nossas preces, não só pessoas que pertençam a outras religiões, mas que até imaginem não possuir religião nenhuma. Confesso mesmo carinho especial pelos que, sem fé, tateiam na sombra, sobretudo quando se trata de ateus de nome e cristãos de atos.

E a quantos constituem o que se convencionou chamar o Mundo, quero aqui repetir as palavras verdadeiramente inspiradas de Paulo VI, no Discurso inaugural da 2a. Sessão do Concílio Vaticano II: “Que o Mundo saiba: a Igreja olha para ele com profunda compreensão, com admiração sincera, com o leal propósito não de o conquistar, mas de o servir; Não o de desprezar, mas de o valorizar; não de o condenar, mas de o confortar e salvar”.

IV. Palavras ao povo fiel

As pessoas piedosas que me escutam, talvez estejam imaginando que o Bispo pensou mais nas ovelhas distantes do que nas noventa e nove que não largam o aprisco.  Mas não foi exatamente o que o Bom Pastor ensinou a fazer?

Claro que haverá tempo para as queridas ovelhas, sempre fiéis. Nosso trabalho junto a elas se inspirará na Transfiguração do Senhor, Titular da nossa Arquidiocese; somos um com Cristo, desde o nosso batismo ao invés de Cristo andar apagado e desaparecido em nós, é preciso que em nós se transfigure, como no Monte Tabor.

Nossa Senhora, patrona de Olinda e Recife, acompanhará feliz a glorificação de seu Filho em nós e por meio de nós.

V) Prece final

Lembram-se do espetáculo impressionante da morte do Papa João XXIII? Parece-me que uma grande; uma enorme lição, entre outras, decorre da cena inesquecíveis quando católicos e não católicos, crentes e descrentes  homens de todas as raças, todos os credos e todas as ideologias  acompanharam, aflitos; a agonia do Papa e choraram sua morte como se chora a morte de um Pai, ficou implícita a indicação do povo: Prelado Bispo deve ser bom como o Papa João.

Peçam ao Pai Celeste de Quem nos vem toda graça e toda luz que esta seja a marca do novo Arcebispo: que ele lembre o Papa João. XXIII. Será uma excelente maneira do lembrar o próprio Cristo, o Bom Pastor.

  Recife, 11.04.1964

Praça do Diário de Pernambuco

Obs: Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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