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1 – Domingo da paciência divina
Lucas 13,1-9

Jesus, hoje, nos desafia, mais ou menos, assim: “Vocês pensam que os viciados e traficantes de todas as “bocas de fumo” de nossas cidades, são piores que os jovens ‘de bem’ dos condomí-nios de luxo, das Alpha Villes… ou bem piores que a juventude dos colégios católicos ou evan-gélicos de nossas cidades?…

“Vocês pensam que aqueles dois jovens que mataram oito pessoas e depois se mataram na Escola Professor Raul Brasil, de Suzano SP, dias atrás, eram mais pecadores que os jovens que todo domingo vão à missa, ao louvor ou ao culto, neste país?”…

“Se vocês não olharem para dentro de si mes-mos, e não mudarem de vida por uma resposta generosa aos apelos que Deus lhes faz, através dos ‘sinais dos tempos’, vocês vão passar por coisas semelhantes ou piores!”…

A paciência de Deus não tem limites, mas nossas vidas têm, e nós não sabemos “nem o dia nem a hora” em que pode terminar o prazo de nossa existência… Por isso que a pior das opções é continuarmos tranquilos e contentes com as aparências, feito árvores de folhagem verde, mas estéreis, como que desafiando a paciência de Deus…

Como sermos menos preconceituosos, mais compreensivos e acolhedores, sobretudo com relação à juventude “transviada”? Como sermos mais abertos ao diálogo com as pessoas e grupos diferentes?… Como sermos mais solidários e generosos, sobretudo, com os que mais sofrem ao longo do nosso caminho, à seme-lhança do Deus do Êxodo, o Deus “Samaritano”? “É agora é o tempo favorável, é agora é o dia da salvação!” nos disse o Apóstolo, há pouco. E hoje nos alerta: “Quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair!”.]

E a Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a nos engajarmos na luta por POLÍTICAS PÚBLICAS que atendam com urgência às necessidades básicas da maioria do povo: trabalho e renda, moradia, saúde, educação, cultura e lazer, transporte, segurança … Não pergunte se esse mundo tem jeito; procure você tomar jeito e cuidar melhor deste mundo. E não vale cuidar sozinho. Um caminho poderá ser criar “RODAS DE FÉ E CIDADANIA”, onde a gente conversa, combina, organiza e cai em campo, não perdendo oportunidade de realizar algo para o BEM de quem precisa, o povo do seu bairro, da Classe Trabalhadora.  

2- Semana Santa: O canto das Comunidades de Fé e Resistência
Conselho das Comunidades Eclesiais de Base
no Morro da Conceição e Adjacências
Semana Santa,
depende de nós, se ela, de fato, vai ser “santa”:
Se tivermos levado a sério a Quaresma que está terminando…
Se a esta altura da nossa vida, Jesus Cristo tiver se tornado, realmente, a grande referência da nossa vida…
Se, no Domingo de Ramos,
a homenagem que vamos fazer ao Rei dos Pequeninos
sair do fundo de um coração solidário…
e ao contrário dos que conspiram para morte do Senhor,
a gente se juntar com quem luta pela causa da vida…
Se a celebração da Reconciliação
nos fizer experimentar a Paz, fruto da conversão  e do perdão…
Se os TRÊS DIAS de comemoração do MISTÉRIO PASCAL,
nos fizerem, de fato, vivenciar a passagem do Deus Libertador,

  • por uma comunhão profunda
    com aquele que lava os pés dos outros
    e nos manda fazer o mesmo…
  • por entendermos qual é o segredo do Pão e do Vinho partilhados, “em sua memória”…
  • por desvendarmos o significado maior da sua Cruz
    e resolvermos tomar a nossa, indo atrás dele,
    no caminho do amor de quem dá a vida pela causa da vida!…
  • por, finalmente, chegarmos a vibrar com o ALELUIA da Ressurreição,
    porque nos sentimos de pé com Aquele que venceu a morte
    e queremos fazer acontecer o Reino da PAZ,
    a Terra Prometida,
    aqui e agora.

Boa Semana Santa!
Procure chegar pontualmente para cada celebração
Melhor ainda se puder chegar um pouco antes, para o ensaio.
Melhor ainda mais, se você se dispuser a colaborar
na preparação da cada celebração,
dando suas sugestões,
assumindo tarefas e colaborando como puder,
para que tudo se faça de maneira bonita e significativa
para o proveito espiritual de todos e todas que virão participar.
Você vai ver como esta experiência vai torná-lo(a) feliz,
diferente, melhor, o que vai, com certeza, contribuir para que o mundo, em torno de você, melhore também.

……………………….

Domingo de Ramos: I – MEMÓRIA DA ENTRADA EM JERUSALÉM

O Domingo de Ramos, abertura da Semana Santa:

nós o dedicamos, primeiro,
à comemoração da Entrada de Jesus em Jerusalém.
É sobretudo o povo pobre, os pequeninos, as crianças,
quem mais se alegra com este rei diferente, simples, humilde
e cheio de mansidão, o Rei dos Pequeninos!
Mas, naquele tempo, a festa foi só por um momento,
pois logo os poderosos e invejosos se reuniram
para tramar a morte de Jesus.
Por isso, num segundo momento,
a gente faz memória da “conspiração” contra nosso Senhor.
“Alegria de pobre dura pouco!”, sempre foi assim.
E o Domingo de Ramos é também o da Paixão!
De qualquer maneira,
a Entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa do seu povo
foi já um ensaio da sua vitória final, da sua glória definitiva.
A dor, a tortura, a morte vêm aí, mas a última palavra será da VIDA!
E o luto, o roxo, desses primeiros dias da Semana Santa
será vivido, então, em profunda solidariedade
com todos os que hoje sofrem as consequências
da maldade do mundo,
e continuam em sua carne a Paixão de Cristo,
mas na firme certeza de que a luta a favor da vida vale a pena,
pois o destino de quem dá a vida pela Vida e a felicidade dos outros
é a Ressurreição!
Assim foi com Jesus,
assim será com os que seguem a Jesus,
no caminho da cruz, isto é, do amor apaixonado pela humanidade,
do tomar para si a dor alheia,
do colocar-se a serviço de quem mais precisa,
da solidariedade, da renúncia por amor,
da partilha generosa dos bens,
da militância capaz de correr riscos pela causa da justiça e da paz,
para que os sem vez deste mundo

“tenham vida e a tenham em abundância”
…………………….

Véspera da 6ª Feira da Paixão: ÚLTIMA CEIA
(Quinta-Feira Santa à noite)

Naquele tempo, na véspera do dia da sua morte, à boca da noite,
Jesus e seus amigos se reuniram na casa de um conhecido
para comer a Ceia da Páscoa.
Era uma refeição festiva, que os israelitas tomavam, todos os anos,
dando graças a Deus pela sua passagem libertadora,
e experimentando vivamente a presença
d’Aquele que sempre está com seu povo,
nunca falha à sua Aliança, sempre passa e liberta!
Jesus teve, primeiro,
uma longa e comovente conversa com seus amigos,
ao longo da qual, entre outros lances, lavou os pés deles
e pediu-lhes que fizessem o mesmo uns com os outros…
Deu-lhes um Novo Mandamento: que se amassem uns aos outros,
assim como ele próprio os amou…
Orou pela unidade dos cristãos,
como condição para que o mundo pudesse crer no Evangelho…
que Jesus os surpreendeu:
o pão repartido haveria de ficar como lembrança e presença
do Corpo, isto é, da vida, que ele iria entregar por nós…
o Vinho compartilhado haveria de ficar como lembrança
do Sangue que ele iria derramar por nós…
e o pedido incisivo: “Façam isto em memória de mim!”
O recado era mais que claro e insistente:
Lavar os pés uns dos outros, dar a vida uns pelos outros,
cuidar de viver numa bela e profunda união,
capaz de convencer o mundo de que o Evangelho vale a pena,
tudo isso se alimenta pela participação naquela Ceia,
que eles e elas haverão de repetir em sua memória.
E é o que a gente faz cada domingo, pela vida a fora,
“até que Ele venha”!
A Ceia do Senhor anuncia e resume antecipadamente
todo o Mistério que está por se desdobrar
nos três dias que se seguem:
a Morte (sexta-feira), a Sepultura (sábado)
e a Ressurreição (domingo) do Senhor,
onde acontece a mais espetacular passagem do Deus libertador,
a Páscoa, isto é, a vitória do Amor!

……………………

6ª Feira Santa: MEMÓRIA DA PAIXÃO DO SENHOR

São 3 horas da tarde!
No monte Calvário, nos arredores de Jerusalém,
um homem está se ultimando, pregado numa cruz…
Por causa de quê?… Por culpa de quem?…
Ora, “ele passou por toda parte fazendo o bem”.
De fato, Ele se havia feito companheiro dos pobres,
dos pequeninos e excluídos de toda sorte,
tomara pra si as dores de todos os sofredores,
curara os doentes, abrira os olhos aos cegos,
multiplicara o pão para os famintos,
ressuscitara os mortos e anunciara a esperança do Reino da Vida,
da vida em plenitude, Reino da partilha e da solidariedade!
Mas, também, ele tinha falado claramente a verdade,
denunciado o egoísmo, a ganância, o orgulho, a prepotência
dos ricos e poderosos…
e, sobretudo, a hipocrisia dos chefes religiosos,
que se aproveitavam da fé ingênua do povo…
O Reino que ele anunciava, realmente,
não tinha nada a ver com os reinos deste mundo!
Sua religião era diferente: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra!”
Por tudo isso, ele pagou com a morte de cruz, a mais vergonhosa!
Nesta tarde de luto e de dor, lembramos
que Ele continua sendo crucificado
na pessoa de todo aquele ou aquela que é vítima da violência,
dos preconceitos, da exploração, da exclusão, do desemprego,
da fome, da violência urbana e rural, das guerras…
“Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores
dos meus irmãos e irmãs, foi a mim que o fizeram!”
Mas nós queremos, acima de tudo, celebrar sua Paixão, isto é,
mais que padecimento, seu amor apaixonado pela humanidade,
paixão que o levou a dar a vida pela nossa redenção…
paixão que continua, igualmente, na vida e na luta
de todos aqueles e aquelas que, por amor, se consagram
ao serviço do seu povo, sobretudo, dos mais necessitados,
correndo riscos, sofrendo perseguições,
até a morte, por esta causa…
“Neste mundo, vocês terão aflições, mas tenham coragem;
eu venci o mundo!”… O AMOR vale a pena! A VIDA vencerá!

………………….

Véspera do Domingo da Ressurreição:
VIGÍLIA PASCAL   
(Sábado Santo à noite)

Páscoa é a festa maior dos judeus e dos cristãos.
Os judeus celebram a passagem libertadora de Deus,
quando os israelitas sofriam a escravidão no Egito
e puderam atravessar o mar, a pé enxuto, liderados por Moisés,
saindo deserto afora, em demanda da Terra Prometida!
Os cristãos celebram a passagem libertadora de Deus
na escuridão do sepulcro em que jazia Jesus de Nazaré,
ressuscitando Aquele que dera sua vida por amor à humanidade!
Da Páscoa antiga, resultou a libertação política de um povo.
Da nova Páscoa, resulta a libertação profunda
do coração do ser humano, com todas as consequências:
Aqueles e Aquelas que creem no Ressuscitado e vão por Ele
se libertam do egoísmo, raiz de toda injustiça e violência,
aprendem a servir e dar a vida pela felicidade do seu povo,
e ensaiam um Mundo Novo,
onde as pessoas passam a ter um só coração, uma só alma,
e cultivam atitudes e estruturas de partilha e solidariedade,
de maneira que ninguém passe necessidade
e todos repartam entre si, na liberdade e com alegria,
o pão da fraternidade.
É uma nova Criação, um recomeço de tudo!
É uma retomada, na fé, do caminho iniciado por Abraão…
É uma nova experiência de libertação,
de caminhada para a Terra Prometida!
É a realização das antigas Profecias!
É o novo Ser Humano, que renasce do Batismo
na Morte-e-Ressurreição do Senhor!
É o Mundo Novo que se alimenta na Ceia do Pão e do Vinho,
Sacramento maior do Corpo e do Sangue, da vida entregue por nós
Em torno da Mesa do Ressuscitado, experimentamos sua PAZ,
e nos apressamos, na força do Espírito do Cristo,
em retomar os caminhos do cotidiano,
anunciando por toda parte esta mesma Paz,
por um novo estilo de vida,
por uma militância que não se cansa de lutar,
por uma vontade eficaz e criativa de fazer o AMOR acontecer
em todas as expressões e estruturas da vida humana, aqui e agora!
Aleluia! Aleluia! Aleluia! Feliz Páscoa!

 Vidas renovadas!
Mundo Novo!
Terra Prometida à vista!
Se caminhar é preciso, caminharemos unidos!
A gente chega lá!
Feliz Páscoa!

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)                 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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