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Quero, antes de mais nada, esclarecer que não se trata aqui de um Brasil católico. Muito menos queremos regredir no tempo e voltar à situação, de triste memória, de uma Igreja unida ao estado, sendo o catolicismo religião oficial do Brasil e as demais obstaculizadas em  sua ação. Êsse tempo, de infausta lembrança, deixou-nos, de um lado, mártires intrépidos como Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Olinda, e Dom Macedo Costa, bispo do Pará, e do outro lado, prelados submissos à Coroa e comprometidos com o poder imperial, maçônico, que os havia indicado como bispos para nomeação da Santa Sé.

A indagação é outra: O Brasil, como nação, respeita os princípios cristãos,, oriundos do Evangelho e de seus ensinamentos anunciados através dos séculos? Isto é,  em nossa pátria, seja nos poderes constituídos, nos detentores do poder público,  seja na sociedade como um todo, os valores cristãos são realidades tangíveis,  a honestidade administrativa, a lisura nos negócios governamentais e no uso do dinheiro da nação são evidentes? Homens como Graciliano Ramos, apenas para citar um exemplo alagoano, que ao deixar a prefeitura de Palmeira dos Indios, após alguns poucos meses de governo, deixou como verdadeiro exemplo para todos os administradores minuciosas contas do pouco dinheiro, que achou no erário, o que recebeu e o que gastou.

Reconheçamos: diante da licenciosidade dos costumes na sociedade e a corrupção generalizada na trato da coisa pública, o Brasil de hoje não é mais cristão e sim (eu chamaria) é pós-cristão. Quero dizer: temos lindas igrejas barrocas, milhares de devotos da Virgem Santa acompanham sua procissão, como vimos no último dia 27 em Maceió. Fervorosos peregrinos vão a Juazeiro (a maioria de Alagoas), a Canindé e a Aparecida – só para citar os mais notáveis. Multidões participam de caminhadas pela vida e outros objetivos dignos e acompanham a “marcha com Jesus”, promovida pelos nossos irmãos cristãos. Milhares e milhares acorrem para ouvir um padre-cantor ou um cantor “gospel”. As nossas redes de televisão católica contam com apreciável número de tele-espectadores. Tudo isso são lembranças de uma cultura cristã, que perdeu sua força plasmadora da sociedade.

Essas lembranças de cristianismo estão ao lado da aceitação do divórcio, do aborto, do esfacelamento ou deturpação da sociedade familiar. O consumo das drogas destrói a juventude e a prática do sexo dispõe de templos modernos chamados motéis.

Decididamente, o Brasil de hoje não é mais cristão. Afirmamos com tristeza.

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.