Padre Beto 15 de abril de 2019

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Filipa, uma menina de 13 anos, encontra-se em pleno ritual de passagem da adolescência para a idade adulta quando é sugada pela crise inesperada no casamento de seus pais. A família de classe média passa as férias de verão em Búzios, Rio de Janeiro, e a viagem se configura como um esforço coletivo entre os pais e seus três filhos de reconstruir a família. Ao longo do filme “À Deriva”, de Heitor Dhalia, Filipa tenta desvelar um caso amoroso entre seu pai e uma mulher mais jovem. Na verdade, a menina vivencia o confronto de sua transparência com a falsidade existente nas relações adultas.

O texto de João 6, 41-51 começa com a atitude dos contemporâneos de Jesus murmurando contra o seu discurso. Esta já é uma introdução ao tema que será tratado a seguir. Murmurar é uma postura de falsidade frente a quem a se está falando. Murmurar é falar baixo e às escondidas, uma atitude contra a franqueza. Nós vivemos em uma sociedade da Aparência, na qual a transparência é revestida pela imagem. Quando se preocupa com a aparência se cultiva a obscuridade e a essência do que somos acaba, com o tempo, sendo perdida. Nós acabamos sendo aquilo que nos reveste, o nosso exterior: a nossa roupa, condição social, local onde moramos, o carro que possuímos, etc. José Ortega y Gasset escreve em um de seus trabalhos sobre o “homem-massa”. Este possui como características pensamentos superficiais, é esvaziado de sua história, dócil à moda e carece de um “dentro”. Se olharmos para a maioria de nosso povo encontraremos uma situação muito semelhante. Os contemporâneos de Jesus possuem também as mesmas características e, por isso, o analisam através de seu exterior: “Não é este Jesus o filho de José? (…) Como então pode dizer que desceu do céu?” Além de analisarem somente a sua imagem, os judeus não possuem a coragem de expor com transparência aquilo que pesam. Por esta razão, murmuram sobre Jesus. A primeira atitude do Cristo é a de chamar seus contemporâneos para um diálogo franco. Logo em seguida, inicia um discurso que possui como centro a mensagem fundamental do Evangelho de João: “Eu sou o pão vivo descido do céu”. O ponto central não é o pão vivo descido do céu, mas a afirmação “eu sou”. Por todo Evangelho de João, Jesus irá repetir esta expressão. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, eu sou a luz do mundo, eu sou a porta e, como no texto acima, eu sou o pão vivo. Esta afirmação do “eu sou”, na verdade, é uma citação do Antigo Testamento. Quando Moisés encontra-se com Deus, que se manifesta como uma sarça ardente, o diálogo termina com o questionamento de Moisés sobre o nome de Deus. Moisés indaga a Deus como ele deveria anunciá-lo ao povo. Deus responde: diga ao povo que “sou aquele que é”. Em hebraico “Ehyeh asher Ehyeh” é uma expressão mais forte do que o simples “ser”, a expressão fala sobre um ser ativo, uma presença ativa. Eu sou (Ego Eimi) é um chamado de Jesus para ser. E só compreende isso quem é chamado por Deus, ou seja, quem já compreende que Deus é aquele que é. Como escreve Paulo “Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama”. Seguir a Jesus significa imitar a Deus, se libertando da imagem, daquilo que nos reveste, e questionando sobre aquilo que verdadeiramente somos. Ao lado deste chamado, Jesus faz um paralelo entre o pão vivo que desce do céu e o maná recebido por Deus no deserto. O maná era somente um alimento para matar a fome, o pão vivo é aquilo que nos oferece a vida eterna, pois é fruto de nosso caráter, de nossa veracidade, daquilo que somos. O cristão é aquele que age com transparência, pois ele possui a necessidade de ser aquilo que é e procura com autenticidade ser um pão vivo que alimenta esse nosso mundo de vida. Aqui temos a vida eterna, ou seja, a eterna vivacidade. Assim compreendemos que não são as circunstâncias que decidem nossa história. Elas são dilemas diante dos quais temos que nos decidir. Se vemos que uma grande parte dos políticos são corruptos, depende de nós ser ou não corruptos. Se muitas pessoas não cumprem suas obrigações, cabe a cada um decidir ser ou não responsável. Se as pessoas se calam diante de situações que não estão corretas, cabe a cada um decidir ser omisso ou ser ativo diante da destas.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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