Ina Melo 15 de março de 2019

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Abri os olhos e tentei reencontrar o sonho. Recusei em acordar. Apesar do aconchego das cobertas o frio lá fora  é intenso. O silêncio povoava o quarto. Todos pareciam mortos, até Alpho  o amigo fiel, que  dormia enroscado aos pés da cama. A cabeça está  confusa e  de pálpebras cerradas, retomo o sonho.

 Recuso a congelar o tempo e viver num casulo. Gosto da vida, por isso volto  àquela cidade tropical, cheia de luz e calor.

 É carnaval, eu não sou eu, e sim um homem com mil caras. Cada dia ponho uma máscara diferente. Resolvi deixar de lado as formalidades e junto com aquela gente simples, caí na folia. Antes, era um mero observador dos bailes nos camarotes, onde o povo só tinha acesso através de olhares distantes.

Não quero ser palco, e sim platéia. Agora tenho muitos anos vividos, envelhecimento é transformação, recomeço. O importante  é que estou vivo, por isso voltei ao meu paraíso particular.

Neste sonho de carnaval, procuro entre as mulheres a  que mais tocou meu coração e que hoje, provavelmente, deve estar  marcada pelas névoas do tempo. Lembro quando a conheci no apogeu dos trinta anos, pele morena, cabelos encaracolados, olhos negros e boca de rubí.

Procuro na multidão  a mulher dos meus sonhos. O  carnaval era sua paixão, no reinado de momo se transformava: cigana misteriosa, odalisca, colombina e tantos outros disfarces que ajudam a enganar a vida.

Estou no meio da rua, sou um palhaço solitário,  com mil mulheres à volta. Os olhos cansados de hoje  buscam a amada de ontem.  Alguém se aproxima. Apontado para mim,  um tridente dourado, vejo uma bela diaba, vestida de vermelho, usando meia máscara,  rindo e mostrando os  dentes, pequeninos como pérolas. Mulher e diabo – que  comparação! Quem temeria o inferno em tão bela companhia?

Saímos dançando, não consigo tocá-la, ela vai me levando. Estou rejuvenescido. Sou leve como pluma. Chuvas de confetes e serpentinas caem sobre nossas cabeças. Ela me entrega um tubo com um líquido perfumado, derrama um pouco no coração e manda que eu cheire. Abraço-a e me embriago dela e do perfume.Uma alquímia perigosa, pele, líquido, suor e desejo. Continuamos a dançar. Nos beijamos e parece que estamos sós na multidão.

Reacende-se o meu furor sexual .A mulher desconhecida se mexe e balança os quadris tentadora e lascívia, um convite ao pecado. Não resisto. Passo as mãos ávidas pelo seu corpo, beijo sua boca, mordo-lhe com fúria os lábios rubros de paixão. A música triste fala de amores passados e perdidos, lágrima e risos. Acompanho a dama de vermelho, não sei pra onde me leva.

Não bebi, mas estou embriagado. De que, pergunto? Não sei, talvez da mulher diaba, cheirando a pecado, remexendo-s, convidando-me ao amor. Saímos da rua e segurando minhas mãos ela me leva para uma casa. Entramos. Ninguém. Estamos sós. Só a música continua animada falando de saudades, de risos e alegrias com mil palhaços no salão.

 Eu, um triste palhaço, ela uma diaba fremente. Ao som das marchas românticas vai se despindo, dançando e descobrindo o corpo dourado. Nua, apenas de máscaras e tridente nas mãos, me convida a mergulhar no seu inferno. Jogo a fantasia e quando vou abraça-la sinto que acordo do sonho de carnaval. Procuro a mulher, estou explodindo de desejo. Perdido na cama, não encontro ninguém. Por isso quero retomar o sonho e fazer amor com a bela diaba. Fev/04

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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