Duas horas (cronometradas) depois do pipoco seguido da falta de energia, ligo ao prontidão da CELPE e recebo como resposta: “meu senhor, não está faltando energia no seu bairro, estou olhando nos computadores e não tem nada aqui.” Computadores, a culpa é sempre deles. A perdição do homem contemporâneo. Não mandei os computadores para aquele canto porque já basta o que o meu precisa ouvir quando o Windows trava. E, cá para nós, trava muito.
Quarenta minutos depois, o jeito é descer pelas escadas até a quitanda mais próxima (yes, nós ainda temos quitanda) e comprar qualquer substância nutritiva palatável. Notavelmente, os elevadores funcionam mesmo sem energia. Movido por uma curiosidade atípica, o super ranzinza resolve perguntar como é que os elevadores funcionam, sem energia elétrica, quando o edifício não tem nem mesmo gerador à manivela.
“Ô Super, acorda. Não está faltando energia”. Evidente que está. Nada funciona lá em cima. Depois de me certificar — acendendo e apagando as luzes da portaria pelo menos umas vinte vezes seguidas — é hora de analisar o que ocorreu. É, parece que não mataram outro hoje de manhã; o pipoco foi meu fusível que queimou … pela segunda vez neste mês.
Onze horas da manhã em pleno sábado. Sem banho, fedendo, suado, cabelo despenteado, de chinelo e ceroulão, é hora de correr duas quadras atrás de um fusível novo.
Pronto, fusível novinho em folha instalado na caixa central do edifício. Energia? Neca de pitibiribas. De volta à loja, matando cachorro a grito, troco o fusível por outro; prometendo que não volto lá nem que seja a última loja na face da Terra que venda fusíveis, nem de graça. [tá bom, de graça eu reconsidero.]
Fusível trocado. Energia? Nem um suspiro. “Super, não é melhor ligar ao prontidão da Celpe”? — sugere o zelador. Prontidão da Celpe? Agora que privatizaram, é capaz de dizerem que só podem vir na segunda-feira!
“Super, você olhou a chave-geral dentro do apartamento? Ela está ligada mesmo?” É claro que está ligada. Ranzinza pode ser chato, cabuloso, rabugento e lerdo, mas não é retardado e nem tem poderes paranormais. A chave de força não vai se desligar sozinha, ela não tem vontade própria. Ou agora tem? Hein, hein, hein?
“Super, suas tomadas estão todas funcionando bem?”
E como é que eu vou lá saber, por acaso eu tenho cara de eletricista? “Super, acontece que a chave de força tem um sistema de proteção que, quando ocorre um curto-circuito no apartamento, ela desliga sozinha para não causar incêndio ou não dar choque. Mas é claro que você sabia disso e é claro que você verificou antes de ir comprar o fusível, né?”
“Hãn?”
(… silêncio … )
“Quer tirar onda, é?”
Claro que verifiquei, mas acho que minha lente de contato estava embaçada. Eu havia terminado de acordar, sabe como é… Quer dizer que na improvável hipótese de haver acontecido isso, basta eu ligar a chave de força e tudo volta ao normal? Claro que não vai voltar ao normal, mas tudo bem, vou testar…
Por que ninguém me avisou antes do tal “sistema de proteção”? Se deu curto-circuito, alguma tomada deve estar com problema. Após passar horas verificando tomada por tomada (como se eu entendesse alguma coisa do assunto) chego à brilhante conclusão que só pode ter sido a tomada do microondas. Afinal, estava novinho em folha, recém-comprado, e o pipoco ocorreu justamente quando foi usada. Maldito microondas. Não uso mais.
Trim-trim-trim.
“Mãe, tem almoço aí?
“Gás e fósforo também? Tô chegando.”