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A opressão é domesticadora. Um obstáculo gravíssimo para a conquista da libertação é que a realidade opressiva absorve os que nela estão e, assim, age para submergir a consciência dos seres humanos”. Paulo Freire

A cada dia o ódio que acomete uma parcela da população brasileira parece que está aumentando e, apesar da insanidade já presente, seu furor parece estar aumentando.

O falecimento de uma criança, não importa de quem seja filhou ou filha, ou de quem seja neto ou neta, é sempre uma coisa dolorosa e que deveria despertar, pelo menos, a pena de qualquer pessoa com um mínimo de humanidade.

São centenas de óbitos infantis por ano e, é claro, não temos como nos solidarizar com todas as famílias, porque não temos o conhecimento de todos os falecimentos de crianças no país. Mas ao tomarmos conhecimento, não seria natural que lamentássemos, que ao menos fosse respeitada a dor da perda de uma família?

O recente falecimento do neto do ex-presidente Lula e os comentários cruéis que foram feitos em algumas redes sociais, nos acendem o alerta de que a dor, por pior que seja, das pessoas que compõem a esquerda no país, tem sido motivo de regozijo para uma parcela da população que parece ter apagado de suas vidas um sentimento que é primordial para uma convivência civilizada e pacífica: a compaixão, a misericórdia. E esses sentimentos independem da pessoa ser religiosa ou não.

Odiar é um sentimento por demais negativo, que faz mal a quem o sente e que, se não for combatido, vai ganhando força, causando um gosto amargo na vida da pessoa, fazendo mal não apenas a quem é odiado, mas, acima de tudo, a quem odeia.

Quando soube do falecimento de Artur, fiquei profundamente triste, por imaginar a dor sem tamanho que a família estava sentindo. Mas a minha tristeza se aprofundou ao tomar conhecimento de comentários do tipo ”finalmente uma notícia boa”. Como, por favor, me expliquem, a morte de uma criança de sete anos pode ser alguma coisa boa? Como é possível um ódio tão grande a uma pessoa a ponto de achar bom que ela perca seu neto?

Não quero discutir aqui a questão política, esquerda, direita, ultra-direita. Quero entender por que tanto ódio. Por que tanta intolerância. Por que tanto preconceito.

Quero conversar sobre sentimentos.

Compaixão é definido pelo dicionário como um sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor.

E Misericórdia é definida como sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça; dó, compaixão, piedade. Ou ainda é um ato concreto de manifestação desse sentimento, como o perdão; indulgência, graça, clemência.

Ao ver a definição desses sentimentos a gente conclui, de imediato, que, realmente, ele está em extinção na parcela da população sobre a qual falo no início.

Então procurei o significado de Humanidade. E o dicionário diz que é o conjunto de características específicas à natureza humana. É um sentimento de sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos.

E então, definitivamente, concluí que uma parcela da população perdeu mesmo foi a sua humanidade. E não acho que corra o risco de ser injusta. A intolerância, o rancor, a raiva, que são externadas através dos comentários nas mídias sociais e das tais das fakes News que divulgam até vídeos de pessoas já falecidas sendo presas com carregamento de drogas e armas, nos mostram que a vida só tem valor se ela não tiver nada a ver com o alvo do ódio. E esse alvo, além de quem faz parte da esquerda, se estende aos índios, negros, pobres, homossexuais e a quem lutar pelos direitos humanos. Sem falar no desrespeito às mulheres, que parte, por incrível que pareça, não apenas de homens, mas também de mulheres.

Não estou escrevendo para fazer apologia à esquerda ou aos alvos do ódio, porque tudo que eu disser a esse respeito, será redundante, repetitivo. Afinal as minhas convicções, o que eu acredito e defendo, é público, seja através da convivência, seja através das postagens.

Mas seria bom que alguém escrevesse um livro falando sobre “As razões do meu ódio”, para que a gente pudesse tomar conhecimento das raízes de todo esse sentimento tão ruim. Fico imaginando se algumas dessas pessoas fizessem ao menos como exercício, colocar no papel as razões de seu ódio, não se deparariam com a falta delas?

Ficar feliz, comemorar a dor e a tristeza das outras pessoas não é saudável. É doentio e precisa de tratamento.

Se você não se compadece com as dores e os sofrimentos dos outros e se, ao contrário, comemora as perdas de pessoas que você odeia porque “quebraram o Brasil”, desculpa a sinceridade, mas está mais do que na hora de procurar ajuda e, enquanto ainda é tempo, tentar recuperar a sua humanidade.

A não ser que um dos seus sonhos seja a construção de um novo Coliseu no Brasil e que todos os que você odeia sejam jogados, literalmente às feras. Se assim for, lamento informa, mas não tem mais volta. Sua humanidade morreu e talvez, você já esteja bem perto de entrar na arena, como uma das próprias feras.

“Quem semeia a injustiça colhe a maldade; o castigo da sua arrogância será completo.
Quem é generoso será abençoado, pois reparte o seu pão com o pobre”. Livro dos Provérbios 22:8,9

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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