Existe atualmente uma grande batalha jurídica que envolve milhões de dólares em torno de quem descobriu e a quem pertence a patente do CRISPR. De um lado temos as pesquisadoras geneticistas Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier da Universidade de Berkeley, na Califórnia, EUA e de outro Junjiu Huang, da Universidade de Sun Sat-sem, em Guangzhou, na China. Nesta Universidade a técnica do Crispr-Cas9 foi utilizada para a edição de um embrião humano para reparar um gene responsável pela beta-talassemia (uma doença sanguínea potencialmente ameaçadora de vida), utilizando-se embriões não viáveis, isto é que não resultariam em nascimentos, pois tinham sido fecundados por dois espermatozoides. Neste experimento, publicado no periódico cientifico “Protein & Cell”, Huang relata que só conseguiu atingir seu objetivo em 4 dos 81 embriões utilizados. Diante deste resultado o próprio Huang como líder da equipe de cientistas, reconheceu que o experimento foi um fracasso, mas mesmo assim defendeu a realização de novas experiências para melhorar a precisão da técnica de edição genética, conhecida como Crispr-Cas9. Frente a tantas iniciativas de pesquisa que começam a em mexer com embriões humanos, reacendeu-se o debate a respeito do uso das ferramentas biotecnológicas que tem o potencial de alterar o genoma humano, a bioética e os limites da ciência.

Tal experimentação atualmente está sob moratória voluntaria nos EUA e fortemente regulada na Europa. Jennifer Doudna, uma das geneticistas pioneiras na descoberta desta nova técnica de edição de genes, com prudência ética afirma que “na prática, ainda teremos anos antes que possamos com segurança editar o DNA de um embrião humano. Contudo, ela observa que a prospectiva de editar embriões, de maneira que eles não carreguem genes doentios, está no coração do Crispr como potencialidade” (New York Times, 15/11/2015).

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Alguns pesquisadores publicaram um alerta na prestigiosa revista cientifica Revista “Nature” (março de 2015) solicitando uma moratória total nos estudos que envolvam a manipulação genética de espermatozoides óvulos e embriões humanos. Edward Lanphier, presidente da Aliança para a Medicina Regenerativa e um dos cinco cientistas que assinaram o artigo da revista afirma: “Não somos ratos de laboratórios, muito menos algo como um milho transgênico. Somos uma espécie única na natureza, com característica próprias que nos trouxeram onde estamos. Quando discutimos a modificação de embriões, estamos refletindo sobre a alteração permanente da espécie. Por décadas, os países desenvolvidos debateram a modificação de genes em células reprodutivas e se posicionaram contra isso”.

A edição do DNA nas primeiras fases da vida humana tem a potencialidade nos livrara de doenças devastadoras, como o câncer, gerar órgãos humanos que poderiam ser usados para gerar pâncreas, corações, fígados, rins pulmões, etc. O que enche de otimismo em relação a continuação da pesquisa na área, mas neste momento histórico traz concomitantemente muitas inquietações éticas frente as possibilidades de se criar sub ou super-humanos, formas sofisticadas de novas eugenias, além de novas doenças e desvios genéticos ainda não conhecidos que podem comprometer a vida humana no futuro.

Obs: Texto retirado de www.a12.com/redacaoa12/pe-leo-pessini

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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