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DOMINGO DO AMOR AOS INIMIGOS
Lc 6,27-38

O cristão, como o próprio Cristo, aliás, não é um ser imune à inimizade, ao ódio ou à perseguição. Desconfie de sua maneira de ser, de suas posturas, nos ambientes por onde passa, se agrada a gregos e troianos. Um grande teólogo latino-americano costumava dizer que para sermos verdadeiramente cristãos “precisamos ter pelo menos um inimigo, senão, como vamos poder cumprir o mandamento de Jesus: Amai os vossos inimigos?…”.

Não é por nada que Lucas nos apresenta Jesus desde criança, pela boca do velho Simeão, como “sinal de contradição”. Mas a medida da nossa compreensão e misericórdia, de nossa capacidade de amar e perdoar, deve ser a própria misericórdia divina. Não se trata, porém, simplesmente, de “tirar por menos” ou “deixar para lá”. Trata-se de um amor desinteressado, capaz de iniciativas que vão do “fazer o bem” a quem te faz o mal e “orar” por quem te persegue. É a única maneira, talvez, de cativá-lo para o bom caminho, a única esperança de reconciliação.

E somente um coração liberto da mesquinhez do ódio poderá ofertar e cantar com alegria o louvor dos perdoados e reconciliados.

Diante de tragédias hediondamente criminosas como a de Brumadinho… Diante dos pacotes de maldades contra a Classe trabalhadora, como a “Reforma Trabalhista” e a planejada “Reforma da Previdência”…  Diante da matança de jovens negros por policiais nas favelas… Diante da corrupção de poderosos e de políticos… como não indignar-se e protestar com veemência?… Como não redobrar a luta por Direitos, por um mundo de Justiça e igualdade?… Esse é, sem dúvida, o jeito mais eficaz de conseguir quebrar os corações de pedra, oferecendo-lhes uma chance de conversão e salvação… a maneira melhor de amar esses inimigos do povo… E a Campanha da Fraternidade deste ano, por POLÍTICAS PÚBLICAS, tem tudo a ver. Vamos lá, “caminhando e cantando e seguindo a canção”.

Em memória de Ricardo Boechat

 <<(…) O que se poderia dizer do comportamento ético apresentado nos mais distintos ambientes jornalísticos e não jornalísticos, por esta figura emblemática? É conhecida e reconhecida sua postura de transparência. Com frequência, é capaz de expor, sem restrições, sua posição jornalística e de cidadão, ao ancorar situações e fatos, os mais espinhosos. Independentemente dos riscos de equívocos, que tantas vezes enfrentou, ao comentar questões extremamente polêmicas, não hesitava em dizer seu lado, agradasse ou desagradasse a ouvintes e telespectadores. Qualidade rara, num contexto dominado pelo “paradigma da pós-verdade” principalmente considerando-se os limites de sua função de jornalista, perante as redes de comunicação a que estava profissionalmente vinculado. Comentários e críticas contundentes dele se ouviam, diariamente, a cerca de tantos fatos e situações, seja no âmbito da Política, seja no âmbito da economia, etc. Quando eventualmente se sentia flagrado em equívoco, não hesitava em reconhecer publicamente, após o cuidado habitual de averiguar suas fontes, algo nada comum no jornalismo dominante, no Brasil e alhures. A despeito de seus limites como ser humano, suas atitudes sinalizavam uma paixão pela verdade. E o fazia, não em nome de alguma religião ou de algum deus – declarava-se ateu -, mas em razão de sua consciência e de seu compromisso com a verdade. Tal atitude contrasta, frequentemente, com a de tantas figuras que, em nome de Deus ou de sua religião, agem com esperteza, com meios termos, reféns da conveniência e de seus interesses inconfessos. “Este povo me louva com os lábios, mas longe de mim está o seu coração”…>> (trecho de um artigo de Alder Júlio)

E vale a pena escutar o depoimento de sua Mãe:

“Eu tenho muito orgulho do que foi meu filho. (…) Honesto, correto, sincero. Um homem que tanto falava com um faxineiro, com um mendigo de rua, com o mesmo carinho com que falaria com qualquer outra pessoa. Um homem que (…) fazia o tipo da verdadeira caridade, sem demonstração. Então, esse respeito à vida, esse respeito ao ser humano, esse respeito, que todos somos iguais. Aqui, não há raça superior a nenhuma, e que tem tanto valor um porteiro como um médico, porque cada um, no seu trabalho, se o desempenha com dignidade, é necessário e importante para toda a sociedade. (…) Que não vamos mudar os problemas sociais, (…) se não mudamos as cabeças, e se não exigirmos o respeito que o povo tem que ter (…)”

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE. 
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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