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No ano de 1965 chegou ao Brasil o macarrão instantâneo, mais conhecido como Miojo. Famoso pela facilidade de prepará-lo e pelo preço acessível, o macarrão japonês é consumido em vários lares brasileiros.
Penso que estamos procurando (mesmo que inconscientemente), a facilidade que temos ao preparar o miojo também na nossa forma de viver. Explico. Procuramos facilidades o tempo todo em nossa vida diária, buscando sempre o resultado instantâneo e satisfatório sem nos atentarmos aos processos de cada ação, ao tempo de cada escolha e a mudança gerada por termos feito determinada escolha.
As escolhas da nossa vida não são assim tão simples, como dizem os gurus dos livros de autoajuda. Tenho a impressão que toda vez que preciso escolher entre duas ou três opções, e opto por uma, instantaneamente ficarei feliz e realizado com essa escolha. Pronto! Tudo ficará bem. Será?
Uma pessoa com medo de sair de casa, ou uma pessoa que está tentando se separar do cônjuge, ou alguém que está mudando de emprego, quase sempre tem uma sensação inicial de que fez a escolha errada. Por quê? Porque estão nos ensinando que, se não ficamos “bem” imediatamente com o resultado das nossas escolhas, é porque não deu certo, erramos. É a época do Miojo, da funcionalidade e da velocidade.
O problema maior é que se não refletirmos sobre essa maneira de pensar, possivelmente não ficaremos felizes com nada nesse mundo. Não estamos conseguindo enxergar nosso processo vital e as pequenas conquistas.
Uma pessoa que tem pânico de sair de casa e, mesmo com muita ansiedade, conseguiu chegar até a esquina e voltar, talvez não veja valor no seu esforço e deixa de perceber que, aos poucos, está caminhando fora de casa. E quem sabe daqui a pouco tempo estará mais confiante e menos ansiosa por ter dado o primeiro passo? Quem sabe a pessoa que está passando por um processo de divórcio poderá perceber que se desvincular de alguém leva tempo e paciência, por mais que a mesma não tenha sido um bom marido ou uma boa esposa? Quase toda mudança gera desconforto, mas não quer dizer que será desconfortável para sempre. Ou melhor ainda, pode ser uma libertação de um comodismo que parcialmente nos faz bem, mas que nos destroi aos poucos e não percebemos, pois nos acostumamos com esse sofrimento, com esse tipo de vida.
Essa geração (e eu me incluo nela) lida muito mal com o desprazer e com as dificuldades inerentes a nossa existência, excluindo a oportunidade de aprender com os momentos difíceis, de dúvidas, das escolhas certas e erradas. Estão querendo nos ensinar a vencer o tempo todo, mas não nos ensinaram a levantar quando caímos. A vida não é só vitória, mas ainda creio que a dor de não ter tentado é maior que a dor de ter fracassado.
Precisamos entender que a vida é construção, e construção precisa de tempo, dedicação e luta. Precisamos de paciência e consciência de que a caminhada da vida não são só flores, mas também não são só espinhos.
Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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