
Sei que por vezes caminho aceitando as diretrizes que me são impostas e, então, vejo meu corpo padecer em dores que me vêm articuladas com máscaras que aprisionam o meu sorriso. Reconheço a leitura que faço de mim e conheço minha trama. Sou enredada e, se sou enredada, sei também que não estou sozinha, pois sou parte e comparte do todo que forma essa trama.
E, por ser enredada, sou convidada a lançar luz no melhor de mim. Meu olhar inquieto não percebe e ainda não alcança esse mistério, por isso, sigo à procura de respostas. Como evidenciar o melhor de mim numa roda com música e movimentos? O carinho no convite é a porta de entrada que me incentiva a participar. Escuto que o grupo é acolhedor. Escuto, também, que em Biodanza não se ensaia.
Vive-se a dança. Então, aceito o convite e vou experimentar essa dança que não se explica. Chego no grupo e, para minha surpresa, lá estão, com a mesma busca – a busca por “colocar mais vida na vida” rostos conhecidos de outras danças, gente comprometida que, como agente transformador da crueza da vida, buscam no seu fazer a renovação de sonhos. Que bom! Estou em casa. Sinto-me em casa.
Encanto-me com o ambiente. Deixo-me seduzir por um olhar, em especial. Um? não, vários, que são um, espalhados no ambiente, conferindo um quê de amabilidade refletida nos espelhos. Encontro nestes olhares o ponto de luz que anseio e sinto-me buscando a compreensão do meu Eu que também se reflete no jeito e no sentir do outro.
Percebo-me partícipe de um grupo que me remete à constituição familiar – grupo tão necessário para o bom desenvolvimento do Eu. Constato que ocupo o meu lugar no mundo em harmonia com os demais sistemas que sustentam a vida no meu corpo, e sei que também sou o corpo que tem em mim a possibilidade de expansão para o bem viver.
Entrego-me à dança e vivencio cada movimento. Permitindo-me ser criança, sou alegria no compasso das brincadeiras. Compondo o trenzinho, sou peraltices que percorrem o trilho rumo à estação felicidade. Tornando-me árvore, sou forte com a suavidade de quem se deixa tocar pelo vento e com ele balança acolhendo a carícia dos passarinhos.
Abrindo meu peito e meus braços, vejo-me aberta para novas conquistas, pois nesse movimento renovo-me e me faço ser geradora de sentimentos bons diante do existir. Oferecendo e recebendo colo, absorvo o fortalecimento de vínculos que se traduzem no prazer de ninar e me fazem sentir grávida de mim mesma. E se me espero, preciso nascer. Então, faço o parto.
Nasço, renasço em movimentos que me desafiam a uma nova postura e se fazem em vivências de pura beleza. Sinto-me motivada a manter a chama acesa e nascer-renascer… nascer-renascer… nascer-renascer para fazer “morrer a morte” e (re) descobrir a incessante renovação de AMOR.
Mas, por que volto à Biodanza? Onde está a resposta? Penso que me fazendo a pergunta de outro modo, tenho mais possibilidades de respostas. Então pergunto: volto à Biodanza para quê? Ah! Agora fica fácil. Volto para iluminar o que tem de bom em mim e enxergar o outro com o olhar amoroso e acolhedor.
Volto para experienciar a alegria do encontro. Volto pelo prazer de estar junto. Volto pela festa. Volto pelo cuidado. Volto para brindar ao amor, à paz e ao perdão. Volto para brindar à vida que se faz viva no meu viver, pois no grupo percebo-me com capacidade de renovar a esperança e fazer, em cada aurora, o primeiro dia para nascer para a vida que em mim pulsa com a coragem de “colocar mais vida na vida”.
Obs: Imagem enviada pela autora (retirada da internet)