Quando Deus criou o mundo, se muniu de pinceis de cores diferentes, para evitar a uniformidade de cores. A preocupação predominante era a de dar a cada objeto uma cor que se adequasse com perfeição, de sorte que, para pintar o firmamento, se utilizou do pincel azul, cuidando de fixar para as nuvens a cor branca, no que teve a concordância dos anjos, na harmonia do azul com o branco. Para as matas – que eram tantas -, invocou o pincel verde, em várias tonalidades, aqui mais escuro, ali mais claro, acolá mais ou menos, inserindo um amarelo um tanto, um marrom também, a depender da árvore, visando sempre a perfeição na combinação das cores. O resultado está aí, milhões e milhões de anos depois, sem nenhuma crítica de quem que seja, todo mundo satisfeito.

As matas e o verde, desde o capim rasteiro aos arbustos que o vento balança e as árvores, nos seus tipos e tamanhos variados, tudo coberto de verde, que, afinal, das cores, é a única verdejante. Fosse outra cor para a vegetação, vermelho, por exemplo, daria a paisagem uma tonalidade estranha. Daí o verde que se debruça sobre os galhos, sem cansar a vista.

No entanto, há uma árvore que se cansa do verde. A maioria do ano, se veste de verde, mas, lá para outubro e novembro, como se quisesse chamar a atenção de todos, trocando a timidez, que a assinala, para se transformar em atração, se despe do verde, e, num desses milagres que só a natureza pode explicar, se cobre de rosa, de roxo e de amarelo, e, durante dois meses, é o ponto de atração da mata, sobretudo pelo contraste da nova cor com o verde, chamariz dos olhares até dos menos curiosos. É a sua vez, então, de brilhar.

A árvore em foco é a tabebuia, ou seja, o ipê, cujo nome também varia, sendo paud´arco, peúva, ipê e ipeúna, nos seus dois meses de glória, como se suplicasse, através da mudança das cores, pelos olhares de todos, na condição solitária de ser apenas uma em meio a tantas árvores que não o são. O ipê, assim, vestido com roupa de festa, tem curta duração, porque, logo logo, a nova cor cai, para, outra vez, num ciclo invariável, voltar a se trajar do verde, esperando, silenciosa e pacientemente, o outubro chegar para viver, outra vez, seus dias de domingo. (20, 21 de novembro de 2017)

 Obs: Publicado na Folha de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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