15 de fevereiro de 2019
sentada na beira do barranco
ignorada
era isso o que via
:sua vida
a se transformar em lama
exatamente assim que seria
não sentia
estava seca
só sabia
o cheiro de seus clientes
a escorrer invisível acima do chão
sempre esteve sozinha
ela e o cachorro
na casa de taipa
onde só entravam
os trabalhadores da mina
e agora, maria?
não havia mais mina
não havia mais clientes
não havia mais comida
nem seu cachorro havia
para fotografia nos jornais
só havia o cheiro podre de enxofre
no estômago vazio dos próximos dias
e agora, maria?
maria se abraçava sozinha
a olhar seu sustento ser levado
– que ironia –
pela lama da mina do córrego do feijão.
Obs:Imagem: Wander Porto ( enviada pela autora)
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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