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Me parecia que a pequenina não tinha história. Na verdade, essa criança tinha muitas histórias para contar mesmo sendo tão jovem. Mas o que contava para ela, na verdade, era esse momento chamado agora. Crianças são cheias de “agora” e ficam de saco cheio dos “depois”.

Talvez por dificuldade em se expressar sobre aos problemas dolorosos que já viveu, ou quem sabe, por perceber a atenção afetuosa direcionada a ela, e somente a ela, a pequena nem esperou o meu olá e foi logo entrando com suas perninhas ligeiras para dentro da sala. Isto é, para dentro dela mesma. O que ela queria? Apenas brincar e brincar.

Senti que ela gostava muito de estar nessa salinha. Aquela sala tinha um abraço do tipo de mãe amorosa, que nem te aperta demais e nem é frouxo demais. Te acolhe na medida certa.

As crianças sabem muito bem que não podem perder a oportunidade de brincar com quem quer brincar de verdade com elas. Não é aquela brincadeira de certos adultos incertos que brincam voltando a atenção para muitas coisas ao mesmo tempo. Esse espaço era dela, era o agora e nada mais importava. Felizes são as crianças que conseguem separar as suas dores das suas brincadeiras. São as que conseguem deixar suas tristezas do lado de fora da sala. Hoje, ali, as lágrimas não são bem-vindas nem bem vistas. Talvez outro dia, mas hoje não.

É claro que os pequeninos sofrem e também não têm apenas a face angelical. Elas têm seu lado negro ou, pelo menos, cinza. Mas se você conseguir mesmo que minimamente atenuar o sofrimento de uma delas nesse mundo, nossa! Já valeu a pena ter nascido.

As suas brincadeiras são repetidas centenas de vezes como se fosse sempre a primeira vez. Os adultos não conseguem fazer isso. Estes se entediam rápido, querem sempre fazer diferente até o tédio os alcançar novamente. Brincar é coisa séria para as crianças. Sua saúde mental depende disso. Já muitos dos adultos, mentem que brincam para disfarçar a falta de saúde mental. Quando não estão bem, fingem com sorrisos vazios para ninguém perceber sua tristeza.

Quando se cresce e se casa, temos vergonha de brincar. Os amantes, que escolheram morar na mesma casa, precisam brincar. O casal que brinca de forma espontânea se esquece de brigar. É claro que é uma brincadeira diferente, pois agora se é adulto. Mas também é um sinal de que a criança interior ainda mora aí no seu interior.

A sala onde a criança veio brincar é onde mora o seu coração. Você pode ajudá-la a decorar de várias formas. Mas, por favor, não se esqueça das cores dentro dela. Nem dos brinquedos para os dias de medo. Mas, principalmente, da atenção empática a tudo que é seu e pertencente ao seu mundo infantil.

Na sala desses pequeninos, ou melhor, dentro de seus tenros coraçõezinhos a única coisa que importa é o eterno hoje. Estão certas. Pois o que será do amanhã? Quem sabe?

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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