Padre Beto 15 de fevereiro de 2019

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Grant e Fiona são casados a cerca de 45 anos. Graças à sua perda de memória, Fiona é encaminhada a uma casa de tratamento para idosos. Lá, a senhora conhece outro homem enfermo que mexe com seus sentimentos. A partir deste momento, Grant possui um forte desafio: o desapego. “Longe Dela”, de Sarah Polley, nos propõe a reflexão sobre o amor e a liberdade.

Em Marcos Mc 6, 7-13, Jesus fala a seus discípulos sobre o domínio dos espíritos impuros e sobre a liberdade. Estes dois aspectos são importantes no contexto do anúncio da Boa Nova. Um caminho religioso é sempre um processo de transcendência. No caso da religião cristã, nós caminhamos para a transcendência de nosso ser à medida que temos como horizonte, como objetivo final, o Cristo vivenciado por Jesus. Nós transcendemos o que somos à medida que buscamos viver o conjunto de princípios que chamamos de Cristo, que Jesus viveu, e que possibilitam o desenvolvimento de nossa vida e da vida em sua totalidade. Neste contexto podemos compreender em primeiro lugar o que significa o domínio sobre os espíritos impuros. Narrativa semelhante à de Marcos encontramos em Lucas 9, 1-6. Nesta, Lucas não utiliza da expressão espírito impuro, mas demônio, o que possui o mesmo significado. Ao contrário do que muitos acreditam, demônio não significa a personificação do mal que pode nos possuir e controlar nossos atos. Nós não somos marionetes entre Deus e o diabo. O demônio, ou a força demoníaca é a distorção, a deformação da transcendência. Esta distorção da transcendência não acontece por um fator sobrenatural, mas quando colocamos em nosso horizonte, como objetivo final de nossa existência, algo finito. A partir daí este algo finito nos possui, somos possuídos por ele e passamos a ser uma coisa e não uma pessoa. Nós estamos possuídos por um demônio, quando, por exemplo, colocamos o dinheiro como objetivo último de nossa existência. Quando fazemos isso utilizamos pessoas, perdemos nosso caráter, podemos nos corromper, enfim, fazemos qualquer coisa para atingir nosso objetivo último, que é o acumulo de capital. Assim, também, distorcemos a transcendência da própria vida. Por exemplo, quando movidos pelo dinheiro passamos a fazer parte de uma ONG que luta pela ecologia. Nós nos engajamos nesta ONG não pelo ideal de transformar o universo em um lugar melhor para todos os seres humanos, mas por uma questão de sobrevivência econômica ou por acúmulo de capital. A ONG passa a ser composta por pessoas que irão instrumentalizá-la para seus interesses particulares. Outro aspecto da vida que pode facilmente se transformar em um demônio é o poder. Eu posso participar da política e ter como objetivo o poder para benefícios particulares, para beneficiar meus amigos ou meu grupo. Eu posso passar de mandato a mandato, mas estou sendo movido por uma força demoníaca que não só distorce minha transcendência, mas faz com que a função do político seja também distorcida. Qualquer coisa a nossa volta pode se tornar nosso demônio e possuir nosso ser. Quando isso acontece, nós somos possuídos e transcendemos sim, mas esta transcendência é disforme, é deformada e as consequências são ruins, tanto para nós como para nosso universo. Porém, o demônio mais sutil e perspicaz pode ser o nosso próprio ego. O ego pode nos possuir de tal forma que nada mais é importante do que nós mesmos. Tudo deve girar a nossa volta e nós encarnamos a ideologia do progresso individual. O Ego talvez seja o demônio mais perigoso, pois ele está dentro de nós e é difícil reconhecê-lo como força demoníaca. A transcendência só é vivenciada através da liberdade plena. Quem vive a transcendência religiosa tendo o Cristo como horizonte não é escravo de nenhuma força demoníaca e vive em grande liberdade, pois constrói sua vida na verdade, na transparência. Pode caminhar de “cabeça erguida” e não teme a ninguém, pois ninguém pode destruir o que há de mais importante: seu caráter.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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