Um questionamento que sempre me fazem é o seguinte: “O modelo Bíblico é compatível com a Seleção Natural?” Ou ainda: “Por que há criacionistas que são evolucionistas?” Para responder a isso, temos de começar analisando o que são a macro e a microevolução.
Sendo assim, vejamos que parece que há mesmo evidência suficiente para nos convencer de que há um processo seletivo, decorrente de adaptação (e da mutação), que gera mudanças dentro do mesmo tipo de ser vivo (ou espécie, dependendo da tradução bíblica) ao longo do tempo. O que não se verifica é a evidência para a ideia de que este processo seletivo seja capaz de gerar novo tipo.
Quando falo de tipo, utilizo a nomenclatura bíblica. Por “tipo”, queremos aqui designar cães, gatos, bactérias, ursos, humanos, etc. O termo equivalente nas Escrituras é o hebraico מינּ (miyn), que tem o sentido de grupo de organismos vivos que descendem do mesmo grupo de genes.
Algumas traduções bíblicas traduzem “miyn” por espécie. O ponto aqui é que “miyn” não deve ser entendido exatamente como a taxonomia moderna conceitua espécie, pois não podemos conceituar uma palavra bíblica pela forma como a ciência contemporânea o faz, mesmo porque a taxonomia é uma construção intelectual humana e não algo que está na natureza e é descoberto pela ciência.
Por essa razão, preferimos sempre utilizar “tipo” em lugar de “espécie” ao traduzirmos o hebraico “myin”. Caso você prefira “espécie”, o único cuidado que tem de ter é o de entender que “espécie” na Bíblia é a tradução de “myin” e não encontra correspondência imediata com a descrição feita na taxonomia moderna. Aliás, nem a taxonomia moderna concorda sobre o que seria “espécie”, sendo inúmeras as posições presentes neste ramo de estudo.
De qualquer forma e, feitas tais considerações, veja que o que temos é que o cachorro por meio de um processo natural pode evoluir, em várias gerações, até se tornar um outro tipo de cachorro, mas nunca um outro animal. Não há registro científico de mudança de tipo: de peixe virando ave ou de bactéria virando outra coisa que não seja outra bactéria.
Em outras palavras, a evolução dentro do mesmo tipo (chamada de microevolução) é algo para o que temos bastante prova, mas, no que diz respeito à macroevolução, contudo, a situação não é a mesma. Podemos mesmo dizer que as provas que algumas pessoas utilizam para eventualmente sustentar a macroevolução são na realidade provas para a microevolução que são utilizadas indevidamente.
A microevolução, devemos registrar, é absolutamente compatível com a Bíblia e explica até certas passagens, como a da arca de Noé. Não houve necessidade que se colocasse um casal de cada variedade do tipo, mas apenas de cada tipo (Gênesis 7), tendo a microevolução se encarregado da grande variedade que temos hoje.
Por exemplo, voltando à referência aos cães, Noé não precisou levar um casal de cada variedade de cachorro (ilustrativamente: poodle, dálmata, pastor alemão, etc.), mas apenas um casal de cães, que gerou toda esta variedade. Assim, a Bíblia é compatível com a microevolução, mas não como a macro, conforme veremos.
Antes disso, notemos que é verdade que há criacionistas que são evolucionistas. Isso se dá, em grande parte, em razão da ideia de que o evolucionismo não explica a origem da vida. É dizer, o macroevolucionismo nada tem a dizer sobre como a primeira vida apareceu sobre a Terra.
Assim, a ideia do macroevolucionismo não é ateísta, embora seja incompatível com a Bíblia (pelo menos com alguns dos versos de Gênesis), já que esta descreve que Deus criou os tipos um a um. Ser ateu em razão do macroevolucionismo, portanto, não é um passo racional, mas uma opção de crença cega e indevida em Darwin.
Ademais, note que teorias de que a vida teria chegado à Terra a partir de outros planetas (seja por meteoro ou trazida por ET’s) só fazem mudar a questão de endereço, pois ainda resta a necessidade de explicar como a primeira vida teria aparecido nesses outros planetas. Assim, muitos que ainda mantém a defesa do macroevolucionismo se rendem ao criacionismo quando entendem que, mesmo sendo evolucionistas, a melhor explicação para o aparecimento da vida é o milagre.
O macroevolucionismo, contudo, não é defensável mesmo em razão de vários argumentos científicos. Um dos principais argumentos contra a macroevolução decorre da segunda lei da termodinâmica. Esta lei, mais conhecida como entropia, estabelece que há uma tendência natural à transformação de energia utilizável em não-utilizável ou, explicando de forma mais simples, há uma tendência natural das coisas a dirigirem-se para um estado de maior desorganização.
Em um ambiente de entropia, como é o universo, o aumento de complexidade de sistemas não se dá naturalmente. Assim, a criação de novo tipo (macroevolução), que pressupõe a ideia de que os tipos foram gerando tipos mais complexos por um processo natural, até que se chegasse ao ser humano, seria absolutamente impossível. Fora esse argumento, há ainda muitos outros, tais como a ausência de fósseis de transição, a complexidade irredutível, o fato de mutações aleatórias nunca trazerem vantagens competitivas, a incrível complexidade informativa do DNA, o fato de não se verificar qualquer evidência de macroevolução hoje em dia, etc.
É verdade que há fatos que eventualmente sustentariam o macroevolucionismo que são bem estabelecidos. O principal deles é o de que há muita semelhança genética entre as espécies. Para que se tenha uma ideia, vejamos que o código genético do homem é mais de 95% semelhante ao do chimpanzé, em torno de 90% semelhante aos dos gatos, 80% semelhante ao das vacas, 75% semelhante ao dos ratos, 60% semelhante ao das galinhas e, preste bem atenção a este detalhe: 50% semelhante ao das bananas. Ninguém, até hoje, defendeu a hipóteses de que decorremos do mesmo ancestral das bananas, certo? E isso não seria por si só um disparate completo, já que temos metade do nosso código genético semelhante ao dessas frutas.
O que ocorre é que a semelhança genética é um fato, mas a interpretação macroevolucionista que se dá a ela não é. Assim, penso que é muito mais plausível entender que a semelhança genética decorre do fato de termos sido todos – das bananas aos homens – produtos do mesmo Criador do que da ideia de que evoluímos uns dos outros por um processo natural. Como somos todos obras do mesmo artista, Deus, nada mais razoável do que haver traços comuns em toda a criação.
Assim, parece bem mais razoável se crer que a microevolução é um fato, que explica inclusive passagens da Bíblia, e a macroevolução é uma teoria sem comprovação científica, de maneira que a criação de cada espécie por Deus é a explicação mais razoável da diversidade biológica que encontramos nas mais diferentes manifestações da vida. Thomas Nagel, um filósofo ateu que é honesto o suficiente para dizer que não consegue encontrar provas convincentes para seu ateísmo, tem demonstrado que mesmo que aceitemos como verídicas todos os métodos da macroevolução (mutação aleatória mais seleção natural), o tempo que a ciência diz haver vida sobre a Terra não seria nem de perto sucificente para justificar a existência de tamanha diversidade de formas de vida.
Em resumo, a própria ciência demonstra que apenas a microevolução tem evidências ao seu favor, enquanto a macroevolução é absolutamente questão de fé de muitos cientistas. Da mesma forma, verificamos que apenas a microevolução é compatível com o Cristianismo, ao passo que a macroevolução é claramente antibíblica.
Caso pretenda se aprofundar um pouco mais no assunto, sugerimos a leitura das postagens sobre Deus e a Vida e também que assista ao vídeo abaixo, em que explico não apenas sobre a Evolução, mas também sobre a origem da vida.
Deus abençoe,
Obs: Tassos Lycurgo é presidente do Defesa da Fé Ministério (defesadafe.org) e do Faith.College, pastor da Igreja Defesa da Fé em Natal – RN, ordenado pelo RMAI (EUA), advogado (OAB/RN), professor da UFRN no Programa de Pós-graduação em Design, professor do RBT College (Guatemala), professor convidado do RBT College (EUA) e professor visitante da Oral Roberts University (EUA, 2012-2015). É Pós-Doutor em Apologética Cristã (ORU, EUA) e em Sociologia Jurídica (UFPB), PhD em Educação – Matemática/Lógica (UFRN), Mestre em Filosofia Analítica (Sussex University, Inglaterra), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (UNIDERP), Graduado em Direito (URCA), Filosofia (UFRN), Liderança Avançada (Haggai Institute, Tailândia), Ministério Pastoral e Estudos Bíblicos (RBT College, EUA), tendo também estudado na Noruega. Publicou nove livros, sendo o último deles: “Job. Betrayed by God? Delivered to the Devil?”, cuja publicação para o português se deu pelo título “Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo?”
Imagem e vídeo enviados pelo autor.