Marcel Camargo 1 de janeiro de 2019

“Tentemos, todos os dias, sem delongas, mesmo alquebrados. Tentemos de novo e de novo, enquanto houver vida, enquanto existirem chances, imensas ou ínfimas que sejam, mas jamais fugindo à essência daquilo que somos e sempre de mãos dadas com o amor de nossas vidas.”

Desistir deverá ser sempre a última das opções de nossa caminhada, algo a ser evitado, algo a nem ser cogitado. Adormecer nossos sonhos por um período de tempo pode ser válido, mas enterrá-los no esquecimento somente deve ser tido como opção quando percebidos como uma utopia inútil ou uma forma de fugirmos a uma realidade que deve ser enfrentada.

Nada é fácil de se obter e de ser conquistado, sejam bens materiais, sejam sentimentos humanos. Da mesma forma, manter nossas conquistas juntinho de nós é trabalhoso, pois necessitam de cuidados e de atenção, ou escaparão de nossas mãos para sempre. E é exatamente por conta das dificuldades que elas se tornam prazerosas e honradas, pois inegavelmente damos mais valor àquilo que tirou de nós muito suor e acirradas lutas.

Muitos são os desejos que acumulamos ao longo dos dias e que nos motivam a sermos melhores e a nos dedicarmos com afinco ao nosso trabalho. O desejo é combustível de vida, imprime velocidade e propósito ao pulsar de nossos sentidos. Sonhar com um amanhã melhor e mais feliz haverá de ser sempre o motor dos avanços pessoais e sociais da humanidade.

Infelizmente, nem tudo – ou quase nada – daquilo com que sonhamos acaba se realizando. É preciso, portanto, que nos preparemos tanto para desfrutar nossas conquistas quanto para enfrentar as frustrações frente a tudo o que não conseguiremos alcançar. Quando a desesperança bater à nossa porta, teremos que retirar forças de dentro de nós, junto de quem trilha os caminhos ao nosso lado, para sabiamente manter acesas as esperanças com o que realmente vale a pena, com o que certamente nos acrescentará felicidade verdadeira.

Muitas vezes, os objetos de nossos desejos parecem, num primeiro momento, imprescindíveis a que possamos ser felizes. No entanto, vários desses sonhos são irrelevantes, visto que, sem eles, poderemos perfeitamente continuar nossa jornada, felizes e satisfeitos, com quem já está ao nosso lado. É o caso de bens materiais supérfluos, uma aventura extra-conjugal danosa, uma promoção cujos encargos nos distanciariam de quem amamos, um automóvel novo, uma amizade que não nos acrescentaria em nada.

Há, sim, muito do que abrirmos mão em nossas vidas, seja porque há coisas que não valem tanto a pena, seja porque aquilo poderia acabar nos distanciando de nossas verdades e das pessoas que merecem o melhor de nós. Saber discernir entre o que deve ser buscado incansavelmente e o que deve ser deixado de lado nos poupará de esforços inúteis e dissabores desnecessários. E esse exercício de filtrar o conteúdo e a intensidade de nossos sonhos deve ser praticado a cada amanhecer, incansavelmente.

Contudo, não devemos desistir dos sonhos que vêm ao encontro de nossas verdades e que são capazes de proporcionar o nosso reconhecimento, o lugar a que temos direito e o amor que nos alimentará a alma. Portanto, é necessário lucidez e discernimento, para canalizarmos nossas energias e nossos esforços em direção aos caminhos que nos tornarão mais humanos e úteis à vida de todos que caminham conosco, pois ninguém conseguirá ser verdadeiramente feliz rodeado de vazio e de solidão.

Tentemos, enfim, todos os dias, sem delongas, mesmo alquebrados. Tentemos de novo e de novo, enquanto houver vida, enquanto existirem chances, imensas ou ínfimas que sejam, mas jamais fugindo à essência daquilo que somos e sempre de mãos dadas com o amor de nossas vidas. Porque, sem amor, nenhuma conquista terá o sabor completo que merecemos sorver enquanto vivermos.

Obs: O autor é graduado em Letras e Mestre em “História, Filosofia e Educação” pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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