Dênis Athanázio 1 de janeiro de 2019

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Aqui na terra Tupiniquim, principalmente no começo do ano, se você passar perto da entrada de alguma creche verá uma cena muito comum hoje em dia: Filhos chorando de um lado, e alguns pais chorando de outro, na difícil despedida e separação entre eles, mesmo que por algumas horas.

Parece que os filhos foram conduzidos para um tipo de matadouro e os pais se sentem culpados por terem sido os carrascos que levaram suas joias raras para o “abate”. Conheço alguns pais que ficam tristes em saber que seus filhos ficaram bem sem a presença deles na escola. Não é à toa que os pequeninos são chamados de príncipes e princesas, estes estão se apoderando desses adjetivos e já sabem que é chegada a hora deles mandarem nos adultos!

Alguns estudiosos chamam esse fenômeno de Supervalorização da Infância, inclusive muito comum no Brasil e nos EUA. Mas antigamente não era assim. Os pais não se sentiam muito culpados por contrariar os desejos dos filhos ou por se separar deles por um período de tempo.

Na Idade Média, por exemplo, a sociedade via a criança como um pequeno adulto. Logo, não exista o reconhecimento do “período ou fase infantil” no indivíduo. Philippe Ariès, no livro História Social da Criança e da Família, cita que “Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda atividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, cultos e rituais. O cerimonial dessas celebrações não fazia muita questão em distinguir claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos”.

Não sou radical quanto a esse assunto e sei que não é fácil para os pais de hoje entenderem toda essa mudança. É necessário reconhecer a importância do cuidado na infância e, inclusive, a valorização desse período da vida”.

Mas, seja criança ou adulto, quando se faz tudo pelo outro, existem no mínimo dois fenômenos que se entrelaçam em nossa mente. O primeiro, é o sentimento de conforto, comodismo e de gozo por não gastarmos muita energia e por alguém fazer todo o trabalho pesado por mim. É o sentimento de “vida mansa”, aquilo que você sente ao ser servido em um hotel ou pousada. Está tudo sempre pronto para você apenas desfrutar.

Mas por outro lado, existe uma força que considero negativa e também inconsciente, que nos diz, de forma velada, que não somos capazes de fazer aquilo ou desempenhar determinada tarefa. E é por isso mesmo, que tem alguém fazendo por mim. É um atestado de incapacidade invisível que, aos poucos, vamos acreditando e ficando cada vez mais inseguros e inertes.

Penso que, o mais importante é conseguirmos mostrar que estamos “por perto” e disponíveis para as pessoas ao nosso redor. Esse “estar por perto” é mais emocional do que físico. É você ajudar a criar um ambiente suficientemente bom para as pessoas se desenvolverem, sem fazer todo o trabalho por elas.

É você deixar a criança na escola e acompanhar seu desenvolvimento do “lado de fora”. Ou, quando, nós adultos, esperamos aquela ligação perguntando se está tudo bem, se fomos contratados ou se nos recuperamos de um problema de saúde.

Esse é o verdadeiro “estar por perto”. Acredito ser essa uma das tarefas de um terapeuta bom e ético: conduzir seu paciente rumo à autonomia para pensar e andar com suas próprias pernas. Mas, se algo não vai bem, ele tentará estar disponível para te ouvir e lhe ajudar na medida do possível.

Todos sabemos da existência daqueles dias, que estamos cansados das palavras e não queremos ouvir ninguém. Para esses dias, se solicitado, apresente seus ombros, seu silêncio e “fique por perto”.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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