Padre Beto 15 de janeiro de 2019

pt-br.facebook.com/PadreBetoBauru
https://www.youtube.com/padrebeto
Padre Beto oficial (@padre_beto_oficial) – Instagram

Por ser portador de paralisia cerebral, Bill Porter possui poucas perspectivas como vendedor. Por essa razão, ele se oferece para trabalhar em uma região rejeitada pelos colegas. Bill, que com um corpo, mas não um espírito deficiente, faz uma vitoriosa carreira de porta em porta causando grande impacto nas vidas de seus clientes. De coração em coração, Bill Porter sabe como se comunicar com as pessoas. Steven Schachter motiva através de seu filme “De Porta em Porta” qualquer pessoa a reivindicar um direito básico: ser como ela é.
Em Mateus 16, 13-19, Jesus e seus discípulos se encontram em Cesareia de Felipe. O lugar ficava ao norte da região habitada pelos judeus, na fronteira com outros povos. O pano de fundo geográfico, portanto, é o final de uma região habitada por um povo monoteísta e o inicio de um mundo pagão, com uma imensa diversidade de religiões e deuses. Justamente frente a esta paisagem diversificada e de muitas opções Jesus faz, pela primeira e última vez, a pergunta: “quem dizeis que eu sou?” Pedro, representando seu grupo responde: “Tu é o Messias, o filho do Deus vivo”. Na bíblia “Deus vivo” é um termo técnico que existe sempre em oposição aos falsos deuses, aos deuses criados pelo ser humano. Jesus responde a Pedro que ele será o fundamento da ekklesia, da igreja, da comunidade. E mais, lhe diz que tudo o que ele ligar na terra será ligado nos céus e tudo o que ele desligar na terra será desligado nos céus. As expressões ligar e desligar na linguagem rabínica significa permitir e proibir. Com estas informações podemos compreender e atualizar o texto para os nossos dias. Nós vivemos em um universo diversificado, com muitas opções. Neste contexto, somos levados a responder a uma pergunta fundamental: quem é Jesus para nós. A partir do momento que respondemos esta pergunta afirmando que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, nos tornamos fundamento da ekklesia, da comunidade, do povo do Deus vivo, pois assumimos os critérios pregados e vividos por este Jesus como Cristo. Ao mesmo tempo, assumimos a missão de ligar ou desligar, de permitir ou proibir tudo aquilo que existe em nosso universo. Assumimos de forma consciente o poder de permitir aquilo que gera vida e proibir tudo aquilo que gera a morte. A responsabilidade é nossa: envolver-nos com nosso universo sendo pessoas críticas e fazendo sempre o discernimento do que nos une ou desune ao Deus vivo. Esta união se inicia com o reconhecimento de que cada ser humano é pessoa humana. O ser pessoa é o aspecto que nos une e, ao mesmo tempo, nos permite ser diferentes. Ao reconhecermos os outros como pessoas encontramos o elo que nos une, pois somos pessoas também, seres do mesmo material. Mas, ao mesmo tempo, temos que aceitar que nenhuma pessoa é igual à outra. Nos reconhecendo como pessoas humanas aceitamos que os outros podem ser diferentes como eu posso ser diferente. Aqui se inicia a regra mais básica do Deus vivo: não fazer ao outro o que não gostaríamos que fizessem conosco ou fazer ao outro o que gostaríamos que fizessem conosco. Para viver isso é necessário algo mais fundamental, o que nos lembra o rabino Nilton Bonder: nos odiar como odiaríamos os outros. Se fechamos  outro veículo no trânsito, deveríamos nos odiar da mesma forma que fazemos quando alguém nos fecha no transito. Nós deveríamos nos odiar quando furamos uma fila, da mesma forma que odiamos quando percebemos que alguém nos passou a frente furando uma fila. Este “odiar a si mesmo como você odiaria o outro” é a percepção mais básica de nossa situação como pessoas. A partir daí, podemos evoluir para o “amar ao próximo como amo a mim mesmo”. Se declaramos em nosso universo que nosso Deus é o Deus vivo, nos tornamos fundamento de comunidade, vivemos a unidade na diversidade, criamos consenso social, respeitamos os outros como pessoas e estamos em comunhão com a vida. Isso significa se interessar pela vida comum a todos exigindo, por exemplo, o retorno dos vários impostos e taxas pagos por nós ao Estado em educação, saúde e benefícios básicos, para que todas as pessoas possam viver dignamente.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]