Padre Beto 1 de janeiro de 2019

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A primeira parte do filme sobre a trajetória do líder revolucionário argentino, Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara, tem início no ano de 1956, quando Che e exilados cubanos como Fidel Castro encontram-se no México, articulando resistência militar contra o governo ditador de Fulgencio Batista, em Cuba. Steven Soderbergh mantém-se fiel ao diário de Che e mostra, assim, o idealismo, as contradições e a integridade de um homem que deixou sua vida particular para viver por uma transformação coletiva.
A passagem de Marcos 4, 35-41 é impressionante e extremamente atual. Nela, Jesus acalma a ventania e repreende seus discípulos: “Por que sois medrosos? Ainda não tendes fé?” Mas, afinal, qual foi a atitude dos discípulos que mereceu tal repreensão? O que os discípulos fizeram? Ao se verem em perigo recorreram a Jesus. Justamente esta é a atitude de muitos de nós ao nos encontrarmos em uma situação difícil. Quando nos vemos em dificuldades nos recorremos a Jesus. Mas, qual o mal desta atitude? Apesar de parecer normal, a atitude de se recorrer a Deus em um momento de dificuldade é sinal de alienação de nossa condição de filhos de Deus e de alienação do próprio Deus. Um sinal de fraqueza humana e de falta de convivência com o próprio Deus. Ao pedirmos socorro em um momento de “ventania” temos a atitude da criança carente que vive na superficialidade da vida. Ser filho de Deus significa abraçar a vida em seu todo, ou seja, em seus momentos bons e em seus momentos ruins. Se recorremos a Deus em nossos momentos difíceis é sinal que não convivemos com Ele. É sinal que nosso relacionamento com Deus é extraordinário, ou seja, não é uma convivência que está no ordinário do dia. Jesus em sua repreensão faz uma oposição entre medo e fé. “Por que sois medrosos? Ainda não tendes fé?” O oposto da fé não é a dúvida. Ter dúvidas é um direito nosso, pois procuramos compreender todas as coisas. A dúvida está na dimensão do intelecto. A fé e o medo são atitudes. Ter fé é possuir coragem diante da vida tendo a consciência de vivê-la em sua totalidade. Esta coragem nasce da convivência diária com Deus e não simplesmente em seus momentos difíceis. Este convívio com Ele nos faz perceber que nossa vida é um dom divino e como tal possui a força de enfrentar todos os momentos da vida com dignidade. O medo diante da vida é sinal da falta de Deus. Jesus não fala simplesmente em ter medo, mas em ser medroso. O medo que nos fala Jesus é algo relacionado ao ser como a fé. O medo, em primeiro lugar, está relacionado à perda. Temos a falsa consciência de que somos possuidores deste mundo: fama, sucesso, bens materiais, convívio com outras pessoas, etc. Se nos prendemos às coisas do mundo não estamos vivendo de forma consciente nossa simples passagem por este mundo. Como peregrinos neste mundo não somos possuidores de nada, nós apenas usufruímos das coisas e da convivência com nossos semelhantes. Mas nada nos pertence realmente. O medo também possui uma outra causa: o querer. Nós não queremos nos desprender deste mundo e muito menos vivenciar o seu lado ruim. Porém, cada situação de nossa vida nos pergunta: você não pode ou você não quer? Em nossa vida podemos ter várias ventanias: doença, crise financeira, perda de alguém que amamos, inveja, inimizades, pessoas que querem nos prejudicar, etc. Nossa atitude é tentar fugir de tudo isso. Nós temos a tendência de querer somente viver o lado bom da vida e não percebemos que podemos enfrentar as situações difíceis e com elas nos enriquecer muito. Nossa atitude de filhos de Deus deve ser o abraçar a vida em sua totalidade. Isso não significa submissão diante das misérias da vida, mas sim enfrentamento destas situações e iniciativa de transformá-las em VIDA. Ser cristão é ter a coragem de enfrentar as ventanias. O papel de Deus não é fazer desaparecer os momentos difíceis, mas nos dar forças para podermos enfrentá-los. Deus não está aí para nos colocar em uma redoma de vidro e nos proteger dos males da vida, mas para nos acompanhar durante nossa atuação neste mundo para que possamos nos enriquecer e enriquecer o mundo com nossa presença.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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