Lúcia Helena Galvão Maya 1 de dezembro de 2018

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Falar de simbolismos, hoje, nem sempre conta com a simpatia do ouvinte. As associações entre quaisquer acontecimentos e os supostos simbolismos a ele associados, pelo fato de as interpretações resvalarem, em algumas ocasiões, em algo que soa como ficção e fantasia, fez com que a abordagem simbólica caísse em descrédito para alguns.

Mas aqui cabe muito bem a colocação dos filósofos da antiga escola romana do estoicismo: “Nada em excesso”. Negar conteúdo simbólico a tudo devido à fantasia de alguns peca pelo mesmo exagero de quem interpreta presságios em asas de borboletas. É uma prática normal e assimilada por muitos o fato de buscarmos interpretar a expressão facial do ser humano que se encontra diante de nós para perceber elementos como insegurança, desconfiança, segundas (e até terceiras) intenções… Assim como mensagens insinuadas nas entrelinhas das palavras: “O que ele quis dizer com isso?”, ou seja, o que há de não dito, mas igualmente expresso por trás do que foi dito?

Assim, se quebrarmos a inércia do hábito e refletirmos enquanto agimos, neste Natal, chamará a nossa atenção o antigo pinheirinho com a estrela de cinco pontas no alto: por que pinheiro, e não outra árvore? Onde já se viu árvore coroada por estrelas? É lógico que se trata de um conjunto de símbolos: o pinheiro, em forma de cone (conífera), é a espiral da evolução humana, que se estreita, à medida que se eleva, em direção a um ideal celeste e luminoso. A estrela de cinco pontas, equivalente ao pentalfa dos pitagóricos e ao Homem Vitruviano, de Leonardo, representa a imposição do quinto elemento, a consciência humana fundamentada em valores universais sobre os quatro elementos de base: corpo físico, energia vital, emoções e mente prática.

A neve que nosso algodão simula é associada ao frio, ao recolhimento da vida exterior, ao convite a entrar em si próprio e a gestar e dar nascimento ao “infante divino”: nossa consciência espiritual. Ou seja, além da base histórica tão bela, que recebemos em nossa educação ocidental cristã, o Natal, visto simbolicamente, também está associado a este outro especial “nascimento”.

Nos natais antigos, oferecia-se aos que se amava algo que pudesse relembrá-los da presença do Divino dentro de si: uma vela, uma lamparina, um suporte material para o fogo do Espírito, associado obviamente ao próprio homem. De presença… Vêm os presentes de Natal. Hoje, perdida a memória disso, é comum que entreguemos presentes “ausentes”, isto é, sem qualquer chamado simbólico à memória, desprovidos de qualquer convite à vida interior.

Devemos lembrar também que o Natal faz referência ao solstício de inverno no hemisfério norte. Marca a noite mais longa do ano que acontece por volta de 21 de dezembro. Depois dessa noite, a luz do Sol volta a crescer, a batalha contra a escuridão é vencida. Na mitologia grega, a descida ao Hades (à escuridão do submundo) simbolizava a prova mais difícil dos heróis (Ulisses, Orfeu). Era o maior desafio e ao mesmo tempo a porta para a redenção. Não é exatamente nos momentos mais difíceis da vida que descobrimos mais as nossas potências e surge mais força dentro de nós? Por isso, a necessidade desse jogo de luz e sombra para sabermos quem somos.

E o que dizer do Papai Noel? O Bom Velhinho faz referência a São Nicolau, arcebispo de Mira, na Turquia, no século 4. Nicolau era muito generoso e, por vezes, ofertou moedas de ouro a um homem pobre que precisava dar o dote de sua filha. Foram as campanhas publicitárias mais modernas que o transformaram neste senhor com vestes brancas e vermelhas. E faz sentido as crianças acreditarem nele? Do ponto de vista simbólico, sim, pois o Papai Noel existe enquanto necessidade de expressão humana. Nenhuma imagem cai tão fortemente no gosto popular se não tem por trás algo mais profundo arraigado no inconsciente humano. O arquétipo da generosidade existe e pode ser visto como o próprio espírito de Natal. Quando o homem abre o coração para a vida e compartilha o melhor que tem, cumpre o seu papel e assim se realiza.

Obs: A autora é professora de Filosofia da Nova Acrópole há 30 anos (www.acropole.org.brwww.acropolis.org), autora de quatro livros de poemas e crônicas, com cerca de 200 palestras no Canal da Nova Acrópole no Youtube, com 126.000 seguidores, dona dos blogs luciahga.blogspot.com.br e observacoesmatinais.blogspot.com.br e da página do , facebook Lucia Helena Galvão – Poesia Filosófica, com 91.000 curtidas, já realizou palestras no Brasil e no exterior e participou de inúmeros programas de entrevistas, podcasts etc.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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