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Se tivéssemos de atribuir uma profissão a Deus, qual seria a que você atribuiria? Eu não teria dúvidas em responder e diria logo: artista. Veja que nem é preciso folhear a Bíblia de um lado para o outro procurando a resposta, basta que a gente leia logo a primeira frase de Gênesis: “No princípio criou Deus o Céu e a Terra” (Gênesis 1:1). A criatividade é, portanto, a atividade que mais caracteriza Deus e aqui, entre nós humanos, é a que por excelência descreve a função do artista.

Eu sei que muitas igrejas não se sentem confortáveis em aceitar a arte como uma manifestação genuína para se glorificar a Deus e, temos de admitir, essas igrejas têm lá as suas razões. Em muitos lugares, as artes (especialmente as visuais) têm levado pessoas à idolatria e, portanto, ao afastamento de Deus. Fora disso, a igreja ainda vê na arte contemporânea o esforço em passar a ideia de que não há verdade absoluta e de que, portanto, o fazer artístico não pode servir Àquele que é a própria Verdade, ou seja, Jesus Cristo (João 14:6). Isso tudo fora inúmeros problemas que acometem outras manifestações de arte como o teatro, o cinema, a música, a dança, etc.

Um argumento que alguns de forma inadvertida utilizam é o de que a Bíblia é contra as artes visuais, pois estabelece que

“Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” (Êxodo 20:4)

Ora, quando lemos o versículo imediatamente anterior a esse, vemos que Deus está dizendo que não devemos fazer esculturas para termos como deuses, como ídolos.

“Não terás outros deuses diante de mim.” (Êxodo 20:3)

Ou, de forma ainda mais clara:

“Não fareis para vós ídolos, nem vos levantareis imagens de escultura, nem coluna, nem na vossa terra poreis alguma pedra com figuras, para vos prostrardes diante dela; porque eu sou Jeová vosso Deus.” (Levítico 26:1)

Assim, vemos que a Bíblia não é contra as esculturas, mas sim contra a adoração delas; em outras palavras, o Cristianismo não é contra o uso da arte, mas sim contra o seu abuso. Deus criou as pessoas em Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26) para que, entre outras coisas, pudéssemos exercer a principal de suas atividades, a criativa.

Tendo isso em mente, Deus chamou alguns exatamente para exercerem a criatividade com frequência, para criarem por profissão. Em relação a isso, aparecem sempre questionamentos como os seguinte: quais seriam as diretrizes para que alguém possa ser um artista segundo a vontade de Deus? Quais seriam as características que esse artista deve ter para agradar a Deus? Essas são algumas das perguntas que gostaríamos de abordar no bate-papo de hoje. Espero que gostem.

Antes de entrarmos propriamente no assunto, peço-lhe que leia com calma a passagem bíblica que passaremos depois a examinar:

“Disse mais Jeová a Moisés:

Eis que chamei por nome Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá;
e o enchi do espírito de Deus, no tocante à sabedoria, à inteligência, à ciência e a toda a sorte de obras,
para fazer invenções, para trabalhar em ouro, em prata e em cobre,
para gravar pedras de engaste, para entalhar madeiras e para trabalhar em toda a sorte de obras.

Eis que eu designei juntamente com ele a Aoliabe e filho de Aisamaque, da tribo de Dã; e pus a sabedoria nos corações de todos os homens hábeis, para fazerem tudo o que eu tenho ordenado.”
(Êxodo 31:1-6)

Como base nesta belíssima passagem, gostaria de destacar alguns pontos:

  • Artistas podem ter chamado de Deus para a sua arte

Nessa passagem, Deus designa duas pessoas, Bezalel e Aoliabe, para exercerem funções artísticas.

Sim, há pessoas que tem o chamado artístico, que tem o chamado de auxiliar o Corpo de Cristo por meio das manifestações das artes como as visuais, a dança, o teatro, o cinema, etc.

Pela má experiência que a igreja tem tido com a arte, às vezes é difícil para alguns líderes cristãos reconhecerem em pessoas o chamado artístico para áreas que não seja a música, que é mais fácil de controlar dentro da igreja.

Deus chama pessoas para exercerem o seu papel artístico dentro e fora da igreja. No contexto da passagem que estamos abordando, vemos que os israelitas haviam exercido funções pesadas no Egito, o que do ponto de vista natural não os qualificaria para obras artísticas mais refinadas. Mas, mesmo assim, Deus escolheu dois entre eles e não os abandonou, pois se Deus chama, Ele capacita. Passamos, assim, ao nosso segundo ponto.

  • Deus capacita o artista que Ele chamou

Aqueles artistas que são chamados por Deus são também capacitados por Ele (Êxodo 31:6). Temos muitos exemplos de pessoas que realmente tocam o coração de outros por meio da arte, que conseguem traduzir as Verdades divinas por meio de suas obras artísticas. Se você se sente realmente chamado para isso, não se preocupe que o Senhor irá lhe ajudar no desenvolvimento das habilidades necessárias.

Um outro aspecto muito relevante aqui é o seguinte: o chamado de Deus não é sempre para o ministério na igreja ou para a teologia. Deus pode lhe chamar para ser artista e por meio da sua arte tocar o coração das pessoas. Se for este o caso, aja segundo o seu chamado e o que Deus tem para você, descubra qual o trabalho que Deus quer que você desenvolva em cada momento.

  • Deus tem trabalho específico para o artista desenvolver

Quando Deus nos chama, Ele nos capacita para diversas obras (Êxodo 31:3), mas o chamado é para obras específicas segundo a Sua vontade, para fazer o que ele tem ordenado (Êxodo 31:6).

O chamado de Deus na vida do artista o direciona para trabalhos específicos que Ele quer que o artista desenvolva para a honra do Seu nome. Isso é uma proteção para guardar o coração do artista, que muitas vezes é seduzido por trabalhos que lhe parecem bons, mas representam o afastamento dos caminhos do Senhor.

É De fato, é muito comum os artistas, principalmente na área de música, se sentirem seduzidos por valores outros e passarem a desenvolver trabalhos que não são aqueles que Deus tem em mente. Artistas que, embora possam ter tido um começo certo, passam a agir trazendo a glória para si e não para Deus, e acabam saindo do seu chamado. Somente os artistas que priorizam o relacionamento com Deus, mantem-se no caminho certo. Para que você também seja assim, nunca coloque o relacionamento com o Espírito de Deus em segundo plano na sua carreira.

  • Deus enche o artista do Espírito Santo

Deus enche Bezalel com o seu Espírito para que desenvolva a atividade artística. Isso quer dizer que artistas podem ser cheios do Espírito e que podem desenvolver a sua tarefa inspirados por Deus. A atividade do artista cheio do Espírito de Deus é tão importante quanto a de qualquer um outro membro do corpo de Cristo e isso deve ser valorizado entre nós cristãos.

Para terminar, eu gostaria de convidá-lo a ver a arte de forma diversa. Convidá-lo a pensar a arte não como inimiga do Cristianismo, mas sim como uma oportunidade de mostrar como conceitos tão sublimes como Verdade e Beleza podem estar juntos em uma obra artística. Se nós, cristãos, fecharmos os olhos para isso e não fizermos nada para incentivar as pessoas que honestamente foram chamadas por Deus para serem artistas, estaremos colaborando para que a sociedade contemporânea passe a associar cada vez mais a manifestação artística com destruição e imoralidade. Não é isso que queremos, não é mesmo?

Obs: Tassos Lycurgo é presidente do Defesa da Fé Ministério (defesadafe.org) e do Faith.College, pastor da Igreja Defesa da Fé em Natal – RN, ordenado pelo RMAI (EUA), advogado (OAB/RN), professor da UFRN no Programa de Pós-graduação em Design, professor do RBT College (Guatemala), professor convidado do RBT College (EUA) e professor visitante da Oral Roberts University (EUA, 2012-2015). É Pós-Doutor em Apologética Cristã (ORU, EUA) e em Sociologia Jurídica (UFPB), PhD em Educação – Matemática/Lógica (UFRN), Mestre em Filosofia Analítica (Sussex University, Inglaterra), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (UNIDERP), Graduado em Direito (URCA), Filosofia (UFRN), Liderança Avançada (Haggai Institute, Tailândia), Ministério Pastoral e Estudos Bíblicos (RBT College, EUA), tendo também estudado na Noruega. Publicou nove livros, sendo o último deles: “Job. Betrayed by God? Delivered to the Devil?”, cuja publicação para o português se deu pelo título “Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo?”

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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