Dênis Athanázio 15 de dezembro de 2018

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Todo início de ano é a mesma coisa: planos e mais planos sobre o duro destino de nossas vidas. “Se isso não der certo então…”, “Seu eu conseguir fazer desse jeito…”. Outros aconselham: “Tenha sempre um plano B, C ou até D”.

Em nosso país, poucas pessoas têm estabilidade financeira, e se tempo é dinheiro, não posso perder tempo com escolhas erradas. Não faltam escritores gurus tentando ensinar o caminho do sucesso e das escolhas corretas onde tudo é planejado e programado. Se tem gente que escreve esses livros e vende bem, tem gente que compra e acredita neles,infelizmente.

Numa cultura onde somos estimulados a todo o momento a sermos perfeitosfísica, intelectual e emocionalmente, quem faz uma escolha e essa dá errado, o pobre errante sente –se culpado, incompetente e a mais infeliz das criaturas.

Mas essa mesma culpa e sentimento de fracasso que se sente não é amparado por uma sociedade que lhe impõe tamanho padrão de perfeição. Então, o monstro sociedade (que somos todos nós), cria demandas das quais não conseguimos dar conta.

Aqui, não escrevo sobre pessoas que, por alguma limitação física ou psíquica, não conseguem ou não gostam de trabalhar ou estudar. Falo da maioria das pessoas que luta pelo seu lugar ao sol.

Tudo bem, sei que planejar minimamente sua vida e de forma responsável é necessário e importante. Mas temos que entender que não temos controle de quase nada em nossa nada mole vida. Quem nunca teve uma angustiante dor de barriga em algum lugar em que você não avistava o banheiro? Ou quem já depositou sua confiança em alguém que te frustrou logo depois? “Quem por alguma fatalidade não teve que enterrar seus sonhos? A vida tem dessas coisas, é sem ensaio e é tudo ao vivo.

Lembro do Rubem Alves contando sobre uma resposta que deu para seu aluno de como ele conseguiu ser o que era. “Sou escritor por acidente. Só cheguei onde cheguei porque tudo que planejei deu errado”.

Aprendemos a nos conhecer nos descaminhos da vida também. Entramos em contato com um Eu estranho que existia em algum lugar dentro de nós, mas que, até então, não teve a “oportunidade” de aparecer. Por isso que em algumas situações dizemos “Esse cara não era eu ali, não sei o que me aconteceu”. Manoel de Barros escreveu sobre si mesmo “ O melhor jeito que achei para me conhecer, foi fazendo o contrário”.

Uma boa notícia: Sim, você vai fracassar e muito ainda. Você fará escolhas e planos que te frustrarão também. Me atrevo a dizer que, se bem trabalhado internamente, o fracasso pode nos ensinar a viver muito mais que a vitória. Diariamente, poesias nascem da angústia de alguém que as transformou embeleza grega. O poeta Pablo Neruda escreveu: “A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem”.

É incrível como para muitas pessoas, o “sucesso” pessoal e o conforto pode gerar uma miopia da realidade ao seu redor. Se está tudo bem comigo, também está tudo bem ao meu redor. Até o dia em que você cai, se frustra, faz uma escolha errada e percebe que o mundo também sofre, porque você sentiu o sofrimento. Isso se chama egocentrismo. Tudo vem e existe a partir de mim.

Por isso, na dança da vida, é melhor nos reinventarmos, sempre com humildade para, aos poucos, conseguirmos voltar para o ritmo da música. Mesmo que seja com um passo do nosso tamanho, do nosso jeitinho de ser.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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