Malu Nogueira 15 de dezembro de 2018

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Uma lagartixa que vive a se arrastar pelo solo, escondendo-se em locas de pedras e dando suas escapadas quando pensa não ser vista por ninguém, levantou seu pescoço e olhou a sua volta. Na sua ótica arquitetava o plano de mudar essa situação: sair da lama.

Queria ver o mundo por outro prisma: de cima. Estava cansada de suas acrobacias, de se arrastar, de comer terra e olhar os outros sempre de baixo para cima. Desesperadamente e urgentemente tinha que mudar, nem que para isso usasse de meios escusos, como sempre estava acostumada a fazer.

Assim pensando, foi caminhando em direção aos lindos sapatos que estavam bem a sua frente. Aqueles sapatos eram masculinos, bem o que ela procurava, porque o seu aspecto mostrava dignidade no couro reluzente. Seu dono devia ser uma pessoa de posses. Então mais do que depressa, quase voando, para não perder a oportunidade de sua vida, mergulhou de cabeça naqueles grandes pés e se pregou neles, fazendo-se de doida, coitada e sanguessuga e assim, ter o homem na palma da mão, ou melhor, que ele a colocasse na palma de sua mão e acariciasse sua pele áspera e maltratada.

Pensando dessa forma, infiltrou-se dentro do homem, querendo manipular sua vontade, para que ele se apegasse a sua triste e medíocre “pessoa”.

Porém, qual não foi a sua surpresa, quando foi derrubada de seu pedestal. Nada tinha valido a pena, nem suas lambidas, nem suas entradas frias, nada foi capaz de fazê-la retornar ao lugar de onde ela nunca deveria ter chegado.

O homem não era o gato que corria atrás do rato, e ela, lagartixa devia correr da gata, desorientada e arrebatada que não abria trégua para ela. Suas narinas estavam dilatadas e pressentiam seu cheiro a quilômetros de distância.

Melhor pensar e escolher outro par de sapatos, de preferência que não tivesse envolvimento com gata e gatinhos, mesmo que para isto, levasse uma vida toda, ela mudaria seu status de lagartixa folgada e desbancada.

Triste fim para quem queria subir na vida, pelas pernas lisas daquele que não queria aquecer seu corpo frio e pegajoso.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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