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Nada de doença terminal descoberta recentemente. Problemas do coração, diabetes e outras doenças feias… Nada disso! Aparentemente, a vida pulsava naquele ser. E se não tinha doença curável ou incurável, não havia do porque se pensar em unção, nas exéquias e no cafezinho do velório. E quando digo que a morte chegou mesmo depressa, embora para morrer, basta estar vivo, é que esta vida definhou no tempo dos versos do Ruy Barata: “(…) ao tempo da noite que vai correr…” E correu a vida na noite…

Quando a consciência se fez consciente é que vi ali um cadáver incapaz de ser sepultado: secou. Mas afinal, qual o laudo do óbito? Pois eu, que vi o defunto com meus próprios olhos que um dia a terra há de comer, também desconheço se realmente foi morte morrida ou morte matada. E o pior, meu caro leitor, morte encantada.

Dona Pimenteira era alegre, florida. Chamava atenção para si. No quintal, apesar da baixa estatura, era vistosa e sempre despertava fervor em muitos olhares. E nas bandas de cá do amazonas o olhar é uma faca de dois gumes. E dizem até que alguns por aqui são capazes de matar com um só olhado. Que mal olhado, heim? Olhar de seca pimenteira…

Depois que me contaram isso retornei ao insepulto corpo de dona Pimenteira. Não quis acreditar na crendice do povo. Busquei nos livros uma explicação condizente para essa súbita morte, mas não encontrei. Falaram-me também que poderia ter sido a Boiúna – cobra mítica das águas daqui. E falaram… Falaram… Possíveis causas suspeitas não faltaram. Quebranto, mal olhado, reza má, feitiço… Tudo foi lembrado na tentativa de se desvendar a súbita morte.

De tudo, certo mesmo, é que a pimenteira do meu quintal morreu e minha mulher, nos almoços de domingo, não tem mais aquela “ardosa” para comer com peixe.

Obs: O autor é poeta e fotógrafo amador. Trabalha na UFOPA / campus de Óbidos.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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