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“Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa”. Texto atribuído a Fernando Pessoa.

Nessa sexta-feira, 14 de dezembro, o nosso grande profeta contemporâneo, LEONARDO BOFF, celebrou 80 anos de uma vida dedicada a promoção da dignidade humana.

Não poderia ter nascido em uma cidade com um nome que mais combinasse com ele: Concórdia, em Santa Catarina, mensageiro da Boa Nova que é e defensor da paz, através da justiça social.

Se fosse para falar aqui de seu currículo, teria que escrever muito e não é esse o nosso foco. Basta-nos falar que ele fez o curso de Teologia no Instituto Franciscano de Petrópolis, no Rio de Janeiro e fez doutorado em Filosofia e Teologia na Universidade de Munique, na Alemanha, em 1970.

Também não poderia escolher outra ordem para ingressar se não a dos frades franciscanos pois, como Francisco de Assis, a humildade e a simplicidade são duas das suas grandes características, assim como a ternura com que trata a pessoa e a doçura com a qual fala em suas palestras ou nas conversas em rodas de amigos.

Um dos pilares da Teologia da Libertação no Brasil, por conta da repercussão de seu livro IGREJA, CARISMA E PODER, publicado em 1981, foi, em 1985, condenado pela “Congregação da Doutrina da Fé”, a antiga “Santa Inquisição”, inicialmente a um “silêncio obsequioso”, que proibia que ele desse entrevistas, fizesse conferências, publicasse livros, etc perdendo sua cátedra e suas funções editoriais na Igreja Católica, sendo, inclusive, afastado da direção da editora Vozes. Diante de tantas perseguições e proibições, em 1991 Boff deu uma entrevista anunciando que “desistia”, desligando-se da ordem franciscana. O Brasil perdeu um frade e o mundo ganhou um incansável profeta.

Tivemos, eu e meu esposo, o privilégio de conhecer Leonardo Boff e Márcia Miranda, sua companheira, no final de 1998, quando, por um desses acasos de última hora que não sabemos explicar, coube-nos pegar os dois no antigo colégio Geo, onde participavam de evento na área de educação e levar para gravar um depoimento para o vídeo em homenagem aos 90 anos de Dom Helder.

E, por telefone quando ainda sem conhece-los pessoalmente, combinávamos a hora para pegá-los, ele nos fez um pedido: queria visitar Dom Heder.

Apresentada à Teologia da Libertação ainda na adolescência, para mim foi uma emoção enorme conhecer pessoalmente um dos meus mestres, um nome conhecido e respeitado mundialmente e por quem sempre tive muita admiração.

Imaginem a emoção que tive ao ter a oportunidade de viver aquele momento único: o encontro de dois grandes profetas, onde o mais jovem, ajoelhado, pedia a bênção do mais velho, a quem considerava um mestre, um guru.

Nascia ali, naquele dia, uma amizade que perdura até hoje e que me faz sentir privilegiada, ou como diz Frei Betto, “ter um santo orgulho” de tê-los como amigos.

No dia 28 de novembro a editora Vozes e a família de Leonardo comemoraram os seus oitenta anos com uma celebração conduzida pelo monge beneditino Marcelo Barros e o lançamento de dois livros. O primeiro, Reflexões de um Velho Teólogo e Pensador, sua mais recente publicação e, o segundo, um presente surpresa, para homenagear o grande profeta: Ternura Cósmica, coordenado por Marcelo Barros e Maria Helena Arrocheles que, em poucos meses, convidaram e recolheram textos de mais de uma centena de pessoas, entre familiares, amigos, companheiros de luta, de caminhada, de vida.

São 130 textos escritos algumas vezes em grupo, em duplas ou individualmente, que contam, à sua maneira, a história de Leonardo.

Tivemos, eu e Sérgio, a honra de sermos convidados para escrever para o livro. Honra por podermos externar, publicamente, a admiração e o carinho que temos por Leonardo, mas também nos sentimos honrados em estarmos ao lado de tantas pessoas que admiramos como Marcelo Barros, Frei Betto, Ivone Gebara, Oscar Beozzo, Eduardo Hoornaert, Carlos Mesters, Emir Sader, Dom Mauro Morelli, Márcia Mendes, Gustavo Gutierres, Maria Clara Bingemer e tantos outros.

O livro expressa toda a admiração, carinho e ternura que todas as pessoas que nele escreveram, sentem por Leonardo.

A editora Vozes distribuiu o livro no dia da comemoração e não sei se vai ser vendido. Mas espero que seja e que essa ternura cósmica se espalhe pelo Brasil, mostrando que Leonardo Boff é um verdadeiro profeta que denuncia o que está errado e precisa ser mudado e anuncia a boa nova e a maneira como podemos recomeçar.

Parabéns meu querido amigo. Que a vida lhe reserva ainda muitos anos, para que possamos saciar a nossa fome e a nossa sede de sabedoria.Um grande abraço.

VÍDEO DA CELEBRAÇÃO DOS 80 ANOS DE LEONARDO BOFF-PETRÓPOLIS “028.11.201

https://m.youtube.com/watch?feature=share&v=j1FEYaINcs

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagens e vídeo enviados pela autora.