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Os poetas formam a classe mais desnecessária no planeta.
Por isso, sua desimportância e que tais.
Sua única missão é fracassar.
O poeta não se adequa ao mundo,
mas se agarra às pequenas ternuras do universo,
tentando costurar, entre o sonho e o sono,
uma tirinha de encantamento chamada sentir.
Na contemplação de uma flor silvestre;
na compaixão de ver o pedinte ermando à procura de humanidade;
na tristeza do passarinho recém-nascido que acabou de cair do ninho;
no guardar de pedras, conchas e outras miudezas,
e canetas e isqueiros presenteados, mas que já não funcionam;
no não enferrujamento do olhar o mesmo e velho e novo por-do-sol;
no transe ao enxergar velhos troncos, musgos e liquens;
nas pequenas coisas que os olhos do Homem moderno já não mais enxergam.
Depois dessa colheita,
formada nos seres, estares e sentires,
juntam tudo isso e coam no filtro da alegria e da dor,
e servem versos que ninguém irá ler.
São miudezas, insignificâncias e menoridades,
coisas que necessitam que alguém
lhes vejam ou, ao menos, lhes pressintam.
Os poetas têm o fracasso como visível e escancarada missão por aqui,
diante de um mundo pragmático, sádico e cético.
Disfarçadores da humilhação terrestre,
revelam que o que nos prende
é tudo aquilo que seguramos em nossas mãos,
e que tudo aquilo que possuímos é o que nos priva.
Enquanto a maioria regra sua vida por meio de operações matemáticas,
sua existência é tão só improvisação, tonteira e desvario.
Além de maldizerem o mal-estar dessa pós-modernidade,
denunciam sim, o mal-ser dessa desumanidade.
Porque sabem, que tudo o que sobra no Homem
é o que realmente interessa, e que,
o fundamental em cada um é o supérfluo.
Sobras e supérfluos,
coisinhas únicas que nos legaram,
mas sem o manual de instruções.
Os poetas, com o único senso que lhes cabe, o não-pertencimento,
tentam, ternamente, colocar ordem no abecedário louco dos viventes.
Porque sabem, mudamente, que não temos palavras para tudo.
Obs: Imagem enviada pelo autor.