A espiritualidade diz respeito a busca do ser humano por um sentido e significado transcendente da vida. A religião, por outro lado, é um conjunto de crenças, práticas rituais e linguagem litúrgica que caracteriza uma comunidade que está procurando dar um significado transcendente as situações fundamentais da vida, desde o nascer até o morrer.

A filosofia dos cuidados paliativos desde suas origens, a partir do cultivo de uma visão antropológica biopsicossocial e espiritual, propõe um modelo de cuidados holísticos, que vá de encontro às necessidades das várias dimensões do ser humano, seja no nível físico, psíquico, social ou espiritual. A própria definição da Organização Mundial da Saúde contempla esta perspectiva.

Hoje se reforça a convicção de que os cuidados paliativos devem expandir seu foco para além do controle da dor e dos sintomas físicos, para incluir abordagem psiquiátrica, psicológica, existencial e espiritual nos cuidados de final de vida e talvez em situações específicas culminar no processo de aceitação com serenidade e em paz da própria morte.

A provisão para controle da dor e dos sintomas físicos, continua sendo o objetivo básico e fundamental para os paliativistas. Isto porque tais sintomas se transformam em fonte de angústia e sofrimento para o paciente e os paliativistas têm as ferramentas e as habilidades para efetivamente lidar com estes sintomas.

Os objetivos da medicina podem ser resumidos em: prolongar, proteger e preservar a vida humana. Como estes objetivos podem ser aplicados em cuidados paliativos? Prolongar a vida não é um objetivo clínico em cuidados paliativos. Paradoxalmente estudos recentes mostram que pacientes que são cuidados em hospices, sobrevivem por mais tempo que os pacientes em fase final que são cuidados em outros contextos clínicos. Proteger o paciente de danos apresenta-se como razoável em cuidados paliativos. O que significa preservar a vida como um objetivo em cuidados paliativos?

Significa fazer tudo o que for possível para o paciente manter a essência de quem ele é, seu senso de identidade, significado e dignidade na última fase da vida e no processo do morrer. Isto pode se conseguir através do controle dos sintomas, cuidados humanizados, facilitando o relacionamento com as pessoas queridas, focando em questões existenciais que necessitam ser finalizadas e cuidar do legado (o que a pessoa deixa). Portanto em cuidados paliativos, os objetivos são raramente prolongar a vida, frequentemente proteger a vida, mas sempre preservar e cuidar da vida.

A compaixão é um importante elemento humano em todas as interações em cuidados paliativos e pode ser definida pela hospitalidade, presença e abertura para ouvir. O termo “hospitalidade” é a raiz das expressões “hospital” e “hospice”. O encontro clínico dos cuidadores com o doente, implica em que comunique a este um senso que todos nós estamos relacionados uns com os outros, enfrentamos as mesmas realidades e questões existenciais, por exemplo nossa finitude (continua).

Obs: Texto retirado de   www.a12.com/redacaoa12/pe-leo-pessini

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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