(quando ele era criança)

Ronaldo, querido Príncipe Encantado,

Príncipe é um título de nobreza, e, encantado, é alguém que ainda não desencantou. Por isso, você é um Príncipe Encantado. Príncipe você nunca deixará de ser enquanto for nobre. O que é ser nobre? Oh, esqueci que você ainda não é adulto. Desculpe-me! Nobre é elevado, generoso. Oh! Parece que compliquei mais ainda, né? Mas, deixa prá lá. Um dia você compreenderá.

Agora, Encantado, Ronaldo, é possível que você deixará de ser quando perder o dom de se encantar com as coisas simples, os acontecimentos banais; o que poderá acontecer quando você se tornar adulto. Porque pra se tornar adulto a gente precisa ser desencantado.

Sabe, Ronaldo, os adultos acham que crescer, se tornar gente grande, é entender de números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: qual é o som da sua voz? Como sorri? O que dizem seus olhos? O que o deixa feliz ou triste? Mas perguntam logo: onde trabalha? Quem são seus pais? Em que bairro mora? Qual o nível de escolaridade? (Ah! Escola é o lugar onde as pessoas vão pra se desencantar). Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Ficarão intimamente convencidas e não amolarão mais com perguntas.

Elas são assim mesmo Ronaldo. É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser tolerantes com os adultos.

Mas, nós, Ronaldo, que compreendemos a vida, nós não ligamos pra números. Você corre o risco de ficar como as pessoas adultas, que só se interessam por números. Foi por causa disso que resolvi conversar com você. Quanto estou com você, você nunca dá explicações. Talvez julga-me capaz de entender tua linguagem nos teus olhos, no teu sorriso, no teu jeito. Mas infelizmente estou ficando desencantada. Já sou um pouco como as pessoas adultas.

Experimentarei, é claro, dialogar contigo. Mas não tenho muita certeza de conseguir. Irei arriscando, acertando aqui, errando ali. Enganar-me-ei provavelmente em detalhes dos mais importantes. Mas é preciso que não se desencante comigo. Eu também fui enganada pelas pessoas adultas. Eu queria ser gente grande e não sabia como fazer isso. Achava que ser gente e grande era me interessar por números. Mas consegui escapar Ronaldo. Fugi da escola dos adultos.

Agora vou te contar uma história que um anjo me contou:

Em uma profunda Poesia que explica a queda de alguns anjos.

Deus dera aos anjos a luz e a vida, depois disse-lhes:
amai!
o que é amar? Responderam os anjos.
amar, disse Deus, é dar-se aos outros. Os que amam morrem como unidade e vivem na multiplicidade.
temos livre-arbítrio e portanto o direito de não querermos amar e nada queremos dar, disseram os anjos inimigos do amor.
ficai no vosso direito, respondeu Deus, e, separemo-nos. Eu, e os que ficam comigo, aceitam se multiplicar em milhões de luzes que iluminarão o mundo.

Então os anjos que recusaram a amar perderam sua luz, caíram nas trevas. Não brilham e é todo o seu suplício; não sofrem e é todo seu vazio; não morrem e é todo seu inferno; não compartilham e é toda sua miséria.

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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