Dênis Athanázio 15 de novembro de 2018

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Dizem por aí que  temos uma criança interior. Concordo. Mas vejo que eu também tenho  um velho interior. Gosto dos livros clássicos, empoeirados, casas rústicas e músicas que não são da minha época.

 Também me identifico com as pessoas mais velhas. Sou ranzinza e teimoso  como algumas delas. Meu avô comia duas pratadas de comida no almoço e logo em seguida reclamava que a comida estava “ruim”. Sou apreciador  de um bom bolo de fubá com café,  assim como  gosto de contar e ouvir histórias também. Geralmente, gosto muito das crianças assim como a maioria dos velhinhos. Confesso uma coisa:  se um dia  tiver filhos,  tenho um ligeiro medo de ser mais avô do que pai.

Encanto-me com os poetas velhinhos em atividade. É a poesia que lhes  mantém vivos, criativos e em atividade. Tenho amigos muito mais velhos  que eu.  Dolores, minha supervisora de psicanálise era sábia e gentil. Para mim, sua sabedoria não vinha dos livros ou da sua formação acadêmica. Vinham do seu jeito de ser. Meu amigo Joao Lisboa, que se foi hoje, era um dos senhorzinhos mais humildes que eu conheci. Sabe aqueles profissionais do tipo que conserta tudo o que vê pela frente? E se  ele não conseguia dar um jeito, então era porque tinha que jogar fora mesmo.  Até hoje, sento ao lado minha avó pra conversar sobre o Corinthians, nosso time do coração. Ela acha  o Tite bonitão e o Cássio também. Mario Quintana, Suassuna, Rubem Alves e Abujamra eram  meus amigos sem nem mesmo eles saberem.

Vejo comentários  de especialistas de que essa não é a era dos mais velhos. Quando,  na história da humanidade, que um jovem de 22 anos seria chefe em uma empresa de um senhor de 60? É uma realidade dura para eles! Não é questão de falta de humildade, é que os antigos sempre priorizavam a experiência de vida, a velha sabedoria. Hoje o mais importante não é a sua idade e o que você viveu, e sim o seu conhecimento adquirido. Ninguém escuta  mais gente velha.  Muitos os maltratam. Alguns se deprimem, pois a todo tempo o mundo pós moderno diz a eles que são inúteis para esse século.  Então, o que sobra para eles? Tentarem sempre serem “jovens”.  Uma das maiores batalhas de hoje não é contra a fome e sim contra o envelhecimento.  São Cosméticos, simpatias e cirurgias de todos os tipos para retardar a idade que têm.  Claro que não faltam charlatões nesse meio e gente passando muito mal acreditando em suas bobagens científicas.

Sinal de velhice é sinal de morte, de infelicidade e de descarte. Até hoje não entendo porque é indelicado perguntar a idade das mulheres.  Aí, quando não podemos evitar essa pergunta, jogamos nosso palpite de 5 a 10 anos para baixo para não errar e não nos “queimar” com a mulher em questão.

Não, não acho que os mais velhos sempre estão certos. Alguns fizeram ou fazem atrocidades que até Deus duvida. E não acho também, que temos que respeitá-los e tratá-los bem só porque um dia teremos a idade deles.  É  um pensamento egoísta, você está pensando no seu futuro e não no dele. É só questão de humanidade, amor, compreensão e de respeito.  Eles têm muito a nos ensinar ainda. Eu já aprendi e aprendo muito com eles sempre. Inclusive as coisas que não queria aprender.

Faça um teste: caminhe alguns metros com um velhinho(a) que anda bem devagar.  O que sentiu?  Você pode perder a paciência, brigar ou reduzir as passadas para andar junto a ele(a). É disso que precisamos hoje. Não  de pessoas que acelerem sempre as passadas. Precisamos sim, de pessoas, que reduzam seus passos para  que, a pessoa que estiver atrás, consiga  andar com a gente. Lembre-se que esses mesmos velhos, já reduziram os passos para andar ao nosso lado quando éramos crianças. É eu sei, você não se lembra, mas aconteceu.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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