Padre Beto 1 de novembro de 2018

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Durante uma viagem, Alex Hughes oferece carona à Vivienne, mas acaba se envolvendo em um terrível acidente de carro, causando a morte da garota. Atormentado pela culpa, Alex resolve procurar a mãe de Vivienne e encontra Linda, uma mulher muito especial que enxerga o mundo de uma forma diferente. Enquanto eles tentam lidar com suas perdas de diferentes maneiras, Alex se envolve com a vizinha de Linda e experimenta uma profunda cadeia de emoções. O belíssimo filme “Um Certo Olhar”, de Marc Evans, tematiza assuntos essenciais como confiança, aceitação e a amizade nas mais diversas formas. Um discurso sobre a afirmação do ser em nossa existência e, ao mesmo tempo, a necessidade de eliminar toda forma de limitação da felicidade humana. 
No Prólogo do Evangelho de João encontramos a afirmação: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Habitar é escrito em grego com o verbo skené, tradução da palavra hebraica ohal que significa tenda. Em uma tradução mais exata, “o Verbo acampou no mundo”. Sua morada foi provisória: tempo de afirmar e manifestar a nossa essência. Neste sentido, o autor de Atos dos Apóstolos (1, 11) nos chama a atenção: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” O que nos faz lembrar as muitas pessoas que, hoje em dia, aguardam uma intervenção divina para a solução de seus problemas. São pessoas que esperam que algo “caia do céu” e transforme sua vida. São pessoas que não percebem algo fundamental: Deus é que espera de nós. O que Ele poderia ter feito já fez, ou seja, nos deu o dom de ser, a inteligência, o poder da busca de sabedoria e os dons infinitos em nossa existência finita. Mas a afirmação contida nos Atos também nos faz recordar a onda de peregrinações à Terra Santa para visitar os chamados “lugares sagrados”. Se estas peregrinações forem assumidamente culturais, não vejo nada contra. O problema se encontra em fazer disso algo de religioso. O re-ligare não se encontra nos lugares onde Jesus supostamente esteve, mas dentro de nós mesmos e dentro de nosso universo contemporâneo. A chamada de atenção do autor de Atos dos Apóstolos diz respeito a nossa afirmação como cristãos, como aqueles que devem ter um Ser nesta existência. Em outras palavras, a partir do momento que Jesus como Cristo terminou sua missão na Terra, deu-se o inicio da nossa missão. Não há mais nada a esperar dos céus, mas Deus é que espera de cada um de nós. Esta missão vem claramente descrita em Mc 16, 16: “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado”. A palavra crer vem do hebraico aman, que deu origem a amin, que significa “formar uma coisa só, aderir”. Por sua vez, a palavra batismo (baptizein) significa mergulhar. A nossa missão se inicia no aderir ao Cristo e no mergulho que fazemos ao vivermos seus valores na dinâmica do dia-a-dia. Mestre Eckhart escreve: “Que importa que o Cristo tenha nascido há dois mil anos em Belém, se hoje ele não nasce em mim?” Aqui nós compreendemos que a nossa missão na existência é a afirmação do Cristo em nós. Assim, estamos salvos, caso contrário, condenados. Por quê? Porque a existência é uma mescla de “ser” e “não-ser”. O Cristo, a soma de valores vividos e pregados por Jesus, é o Ser na existência e a eliminação do “não-ser”. Por isso, Jesus afirma várias vezes no Evangelho de João “Ego Eimi” (Eu sou). Afirmação que nos leva à passagem do Antigo Testamento, na qual Moisés se encontra com a sarça ardente. Ele pergunta qual seria o nome do Deus de Abraão, de Isaac e Jacó. A resposta é mais do que clara: “Eu sou aquele que é” (Ex. 3, 14). O verbo em hebraico “hayal” quer dizer devir, um ser que se manifesta por uma atividade. Seguir a Jesus como Cristo é afirmar o “Eu sou” dentro de nós. Isso quer dizer ser ativo e criativo gerando vida e eliminando toda forma de “não-ser” em nossa existência. Deixar fluir o “Eu Sou” é afirmar com atitudes concretas o amor à vida. Em outras palavras, ser contra a toda estrutura de destruição que nos circunda. Isso, no linguajar do Cristo é ser sal na terra e luz no mundo. É não ter uma vida morna que, um dia, será simplesmente vomitada da existência. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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