elza fraga 1 de novembro de 2018

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Não sou saudosista, não vivo de passado, gosto de fechar folhas já lidas do meu livro da vida e só abri-las nas emergências, quando preciso do resultado de lição antiga para não cair nos mesmos erros. Consulto, interiorizo, e novamente arquivo na prateleira mais alta, menos acessível.

Mas hoje bateu um remember danado de dolorido.

Saudade dos amigos que partiram cedo demais, deixaram rostos, gestos e frases inteiras comigo, tudo devidamente gravado.

Sinto um pouco de raiva desta memória que alguns chamam de privilegiada, ela chega sorrateira só pra machucar.

Cadê você e seus poemas, Fernandinho?

Por que tinha que sair do plano aos 36 anos? Quero mais poesia feitas pela sua mente brilhante, com dedicatórias lindas e engraçadas ao mesmo tempo. Quero o som da sua voz rouca, quero suas tiradas geniais, quero sua presença, seu braço no meu ombro, sua amizade que nunca me faltava.

E você, Renato? Tão introspectivo, tão “hoje não estou pra papo”, mas era só botar pilha e a gente trazia você pro chão novamente.

Em que estrela fez morada? Manda as coordenadas, sei que ainda nos encontraremos para fazer poemas juntos. Meu amigo, meu digitador oficial, de todos nós talvez o mais lúcido. E se foi tão cedo, tão de repente, sinto falta do seu jeito menino.

E o Hélio, o que trabalhava em duas frentes, lecionava, e fotografava. Sempre na atividade. Não tive tempo de dizer a ele que meu amor por fotografia veio dele. Herdei, Ele me deixou a sensibilidade de ver beleza, ver ângulos, onde os outros passam e enxergam o vazio.

Abraçava apertado, doava amizade sem economia. Ousava poesia nas horas vagas. Aceitava qualquer programa de índio. Até panfletar, colar cartazes, chamar o povo pra cultura.

E tantos outros que sumiram em vida, se exilaram como eu. Querem se esconder nas sombras, nas cavernas, nas estrelas.

Querem também voltar pra casa derradeira, a que fica muito além do arco-íris.

Querem encontrar os amigos que já fizeram a mudança…

As vezes tento me confortar dizendo que a saudade vai ficando mais distante, menos dura, minto tentando não doer desse jeito que sufoca a alma.

Mas hoje a saudade veio sem avisar, sem me dar tempo de fugir pra algum lugar onde o barulho a abafasse e afastasse, a levasse de volta pras páginas antigas e amareladas do meu livro.

Obs: em texto fazendo um ano, mas de uma saudade que já faz um tempinho longo de aguentar.

Quero meus amigos de volta, quero ir morar nas estrelas!

All my troubles seemed so far away. Now it looks as though they’re here to stay. Oh, i believe in yesterday…

(YESTERDAY / JOHN LENNON)

(Todos os meus problemas pareciam tão distantes. Agora, porém, parece que eles estão aqui para ficar. Ah, eu acredito em ontem)

Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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