Padre Beto 15 de novembro de 2018

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Estar de bem com a vida, mesmo quando as coisas não vão bem, é um dom ou um exercício? Acredito que seja a consequência de uma compreensão profunda sobre a existência e sobre o sentido da vida. Esta compreensão está representada na personagem Poppy, uma jovem professora de escola primária, que dificilmente se chateia e leva a vida com uma leveza invejável. Poppy divide um apartamento com Zoe, sua melhor amiga e confidente. Determinada a aprender a dirigir, a protagonista encontra-se com Scott, um instrutor ansioso e perturbado, que testa todo o bom humor de Poppy. Do Diretor Mike Leigh, “Simplesmente Feliz” é uma comédia que nos provoca e nos questiona sobre o sentido de conduzir os diversos momentos que a vida nos oferece.

Jesus ressuscitado, ao aparecer a seus discípulos, diz: “Recebei o Espírito Santo.” Imediatamente após, Ele continua: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. Esta cena nos lança um questionamento importantíssimo. Por que Jesus fala do poder de perdoar os pecados ao despertar o Espírito Santo em seus discípulos? A resposta é simples: perdoar é algo extraordinário e libertador. O perdão não é normal. Normal é não perdoar, normal é revidar o pecado, a vingança, a regra do “olho por olho, dente por dente”. O perdão é extraordinário, porque rompe com a lei natural de causa e efeito. Isso exige uma mudança (metanóia) de mentalidade, o que significa despertar o Espírito Santo em nós. Se perdoamos, transformamos nossa realidade em algo novo, mas se não perdoamos, deixamos a realidade escravizada ao pecado, aos atos destrutivos da vida. Porém, é necessário compreender o que significa o perdão. Para compreendê-lo melhor, gostaria de utilizar uma história hassídica contada pelo rabino Nilton Bonder em um de seus livros, modificando-a em seu final: conta a história que um rabino estava viajando em uma carruagem. No meio do caminho, o homem que conduzia a carruagem avistou três sacos de trigo à beira de uma plantação. Ele parou a carruagem e disse ao rabino: “eu vou pegar estes três sacos de trigo. Caso alguém veja, você imediatamente grita”. O homem desceu da carruagem e, quando se aproximou dos sacos, o rabino gritou. O homem assustado correu para a carruagem e acelerou os cavalos, mas olhando para trás não avistou ninguém. Imediatamente ele parou e perguntou ao rabino: “eu não estou vendo ninguém, por que você gritou?” O rabino respondeu: “eu fiz o que você mandou, se alguém lhe visse eu deveria gritar. Eu estava lhe vendo!”

O olhar do rabino não foi um olhar de omissão diante do ato do roubo, mas um verdadeiro olhar de perdão. Aqui está o sentido do perdão movido pelo Espírito Santo. Perdão é um ato ativo que transforma, mas transforma através de uma benção, transforma as circunstâncias para melhor. Para que isso aconteça, o perdão precisa ser o reconhecimento da mediocridade do outro. O reconhecimento de que o outro possui suas limitações, suas falhas humanas. Ao mesmo tempo em que o perdão reconhece as falhas, admite que este ser humano é passível de erros, ele acredita que este ser humano também pode um dia mudar. Portanto, o perdão é o reconhecimento do demasiadamente humano: o erro e a mudança. Mas, o perdão não se reduz a isso. O perdão não é justificar os erros do outro com a argumentação de que o outro é humano. Não é simplesmente o olhar do rabino, mas também o grito. O perdão é a correção ativa no sentido de metanóia, de transformação do outro. É por essa razão que o perdão surge do Espírito Santo. Espírito vem da palavra pneuma (em hebraico ruah) que quer dizer “sopro”. Mas, um sopro que movimenta a vida, que gera a vida, mesmo que seja através do conflito. O pneuma, o Espírito Divino que está em nós, é o poder, a energia de libertação, de benção. Abençoar é se tornar ativo para a mudança do outro e da realidade. Abençoar nos dá significado para o nosso estar aqui e nos oferece um verdadeiro prazer em viver.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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