Djanira Silva 15 de novembro de 2018

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Durante muito tempo relutei em voltar. Voltar por quê? Bastava-me fechar os olhos para abrir as portas de um outro mundo e nele esquecer o primeiro onde me plantaram ainda virgem.
De repente, tudo era real. Imagens deslizavam pelas paredes alcançavam a porta e, feito quadros pendurados nas salas e nos corredores revelavam histórias. Alegria que me deram para o tempo estragar. A traça roeu o vestido da primeira comunhão. As flores do buquê murcharam em minhas mãos, o vestido branco amarelou e se desfez em trapos. O passado tornou-se eternidade. A vida uma mentira, longa, cheia de lutas, derrotas e desistências. Valeria a pena esperar? A única coisa que tenho de real, de verdadeiro é o sonho. Desde que comecei a aprender o mundo, entendi que o homem sem sonhos não é nada. Meus pensamentos destacavam-se um a um em detalhes, sem explicações, num mundo que me parecia obscuro onde eu me reconhecia quase intolerável. Davam-me notícias de um ontem que tenho vontade de esquecer, apagar da minha história jogar num escuro qualquer desses que guardo comigo. E se ficasse no meio do caminho? Como saber a hora de parar ou seguir? Quem sinalizou os caminhos para o que se foi?
O que foi feito dele? Do último pensamento? Do derradeiro suspiro? Sei apenas que esta lágrima não será a última. E nem serão os últimos os passos que darei em direção ao nada. Tu és pó e ao nada hás de tornar. Assim me vejo. Assim caminho para o grande infinito.
Os acordes da Ave Maria cadenciam meus passos. No altar velas se incendeiam. Nas palavras do sacerdote as previsões.
O que partiu, para onde foi?

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Doido é quem tem Juízo (2012); Saudade presa (2014); O Sorriso da Borboleta (2018)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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