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Nos últimos tempos babá virou artigo de luxo. Impressionante mas encontrar uma boa pessoa para trabalhar em casa de família ficou mais difícil do que encontrar graviola na bandeja de hortifrúti do supermercado. Mesmo havendo alta demanda quem procura pena, e não acha. E faz falta. Eu que o diga! Já são quarenta e cinco dias sem uma ajudante do lar.

Na minha trajetória como mãe já tive seis babás em menos de 2 anos. Isso mesmo seis! E antes que alguém venha dizer que sou uma má patroa, não fui eu. Aliás, não foi nós! Porque segundo  meia dúzia de amigas que também estão procurando babá não adianta você dar casa, comida e roupa lavada simplesmente numa sexta-feira (ou terça) elas dão tchau e não voltam.

É sempre igual. Ela pode ter vindo de Marte ou de Vênus, mas quando chegar a hora ela vai deixar sua filha limpinha, cabelo penteado, exalando alguma fragrância infantil, irá sorrir, puxará algum assunto tolo, vai calçar a sandália havaiana e partir, até nunca mais! Ou então vai falar que precisa ir ao médico e três dias depois você liga pro celular dela acreditando que a moça não está bem, está internada, foi submetida à cirurgia e lá pela décima vez ela atende o celular e você descobre que a sua babá agora é babá de outro alguém. Claro, tem a outra situação ela é uma moça trabalhadora até que arranja um namorado que no começo é bem legal, mas depois acha que você não precisa passar o dia todo na casa de estranhos, que você merece algo melhor e depois de todo um discurso ideológico consegue enfim convencê-la de que amor enche barriga e ela desiste do trabalho.

Isso não é papo de patroa. Você aí pode questionar, mas e aí você paga um salário mínimo, dá férias, plano de saúde e vale-transporte? Dando ou não, a diferença é mínima, babás continuam em falta. Já vi propostas tão tentadoras que se não tivesse uma pilha de projetos para terminar quem sabe até eu enveredasse no ramo de babá. Sei que cuidar de crianças requer paciência. É quase uma arte. Mas se agora entramos no mérito da falta de babás, necessariamente precisamos também de boas profissionais.

Quando era criança, lembro das jovens que vinham do interior para estudar. Convivi pelo menos com uma dezena delas das fraldas a minha adolescência. Mas do que uma pessoa que cuidava de mim, essas garotas e até em outras situações mulheres e senhoras faziam parte da família, da minha rotina. Pra mim naquela relação existia para além de um compromisso de trabalho, mas de amizade. E até hoje tenho algumas ‘tias’ por aí que valorizo por toda a paciência e dedicação que tiveram comigo e meu irmão quando meus pais estavam fora de casa. Essas babás na atualidade são raras. Mudaram-se os tempos e o perfil de quem ocupa a profissão.

Dias desses vi a moça que trabalhava em uma vizinha dando um show a parte. Não se tratava de agressão, Deus me livre, se fosse quem tinha partido para porrada era eu (sou mãe entenda, espirito materno, proteger a cria). Numa cena típica de um dramalhão, a jovem se debulhava para uma criança de uns dois anos “Eu não aguento mais. Porque você não some?”. Se existe cara de interrogação acho que foi a expressão que fiquei naquele momento. Será que ela esperava que o garoto arrumasse as coisas dele, abrisse o cadeado do portão e fosse embora? Mas que isso será que ela em algum momento daquele discurso lembrou que do outro lado estava uma criança que ainda não entendia todos os pormenores do mundo?  O fato é que aquela tarde correu. O pequeno continuou brincando e horas depois tudo passou. Toda a situação ao lado me fez pensar no que minha filha enfrentava quando estava fora de casa. Deu um frio na espinha. Esse não é um temor exclusivo. É de toda mãe! Tem horas que bate a paranoia e quando você chega vasculha a menina de cima a baixo principalmente depois que viu aquela ajudante maltratando um guri no vídeo da televisão. Complicado…

Eu sei que tem gente que vai me chamar de mãe desnaturada. Para essas pessoas a melhor resposta é … fralda custa caro, crianças tomam leite e comem frutas, aluguel não é de graça e você não precisa deixar de ser uma profissional porque virou mãe. Desde que o mundo é mundo as mulheres estão aí dividindo mil e tantas funções e nunca deixaram de ser competentes por isso. Eu poderia falar de centenas e outras teorias sobre os benefícios na carreira vindas com a maternidade, mas isso é outra história. No final das contas quem vai ficar com a minha filha e com seus filhos?

A procura pela babá continua.

Obs: Imagem enviada pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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