Todos somos aprendizes em contar os nossos dias, para podermos chegar à sabedoria do coração
Para o Dia Mundial do Doente deste ano, 11 de fevereiro, o papa Francisco escreveu uma linda mensagem que fala da importância de colocarmos em prática a “sabedoria do coração”. Não se trata de um conhecimento abstrato, mas é um dom de Deus, infundido em nós pelo Espírito Santo, segundo o papa. Esse dom faz com que nos abramos aos irmãos e neles reconheçamos a imagem de Deus (“Estive enfermo e”…). Todos somos aprendizes em “contar os nossos dias, para podermos chegar à sabedoria do coração” (Salmo 89/90,12). Essa “sabedoria do coração” se dá em quatro momentos, a saber: sair de si mesmo e ir ao encontro, estar com o outro, ser solidário e servir o irmão.
Sair de si e ir ao encontro do irmão − Somos chamados a fazer um “êxodo pessoal” e partir para um encontro. Nessa experiência, descobrimos o valor especial que o tempo tem (kairós) quando estamos à cabeceira do doente. Hoje vivemos na tirania do fazer, do produzir e tudo muito rápido. E nos esquecemos do valor da gratuidade, e nossa “fé morna” se esqueceu da Palavra, que diz: “A mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40). As pessoas, imersas no mistério do sofrimento e da dor, iluminadas pela fé, transformam-se em testemunhas vivas, ao abraçarem o próprio sofrimento. Jó, no final de sua experiência de sofrimento, dirigindo-se a Deus, afirma: “Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora veem-Te os meus próprios olhos” (Jó 42,5).
Estar junto com o irmão − O tempo gasto junto ao doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que veio para servir e dar a vida O papa nos convida a orar ao Espírito Santo, para que nos dê a graça de compreender o valor do cuidar, do estar junto com o outro no seu calvário, muitas vezes em silêncio, como Maria. Mas quanto conforto isso traz para os doentes! A vida humana não perde seu valor, merece ser vivida, mesmo quando ferida por enfermidades graves. Segundo o papa, devemos denunciar como nociva uma visão que em nome de um conceito de “qualidade de vida”, descarta vidas…
Ser solidário, no sofrimento alheio, sem julgar − É necessário cultivar tempo para visitar, para estar junto e cuidar, como fizeram os amigos de Jó (cf. Jó 2,13). Mas é necessário evitar o julgamento negativo que eles fizeram de Jó: pensavam que a sua infelicidade fosse castigo de Deus por alguma culpa dele. A verdadeira caridade “é partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro”, diz o papa. Importante ouvir em silêncio, o que é dito, mas principalmente o que não precisa ser dito… Somente na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para com a humanidade, é que encontramos um sentido para a experiência de Jó, uma luz e resposta ao sofrimento do inocente!
Servir o irmão samaritanamente − Em Jó, também conhecido como o “justo sofredor”, quando afirma “eu era os olhos do cego e os pés do coxo” (Jó, 29,15), vemos a dimensão de serviço aos necessitados. Sua estatura moral manifesta-se no serviço ao pobre que clama por ajuda, bem como no cuidado do órfão e da viúva. O papa lembra que hoje ser “os olhos do cego” e “os pés para o coxo” é o testemunho dos que estão junto aos doentes que necessitam de cuidados contínuos, para se lavar, vestir e alimentar. Esse serviço (“caminho de santificação”) pode se tornar cansativo, pesado e difícil, principalmente quando dura meses, anos e quando a pessoa já não é nem mais capaz de agradecer!