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Num início de setembro com gosto de agosto esturricado, derreio meu Voyage em viagem de Palmas à Gurupi. No sentido, apeio em Taquaralto para sacar royalties num caixa eletrônico pru modi da travessia de cerca de 3 horas, gasosa e otras cositas más. Tô lá, descendo, e passa um picolezeiro gritando: “picolé de maconha! Picolé de maconha!”. Surtei na hora, tentando construir aquele sabor por entre as salivas. O que o cara queria dizer com aquilo? Picolé de maconha? Era para anestesiar e o consumidor esquecer do fastio, do calor, da insolência? Ou era para o cara ficar diboas, salivando o néctar dos loucos?
Num início de setembro com gosto de agosto esturricado, derreio meu Voyage em viagem de Palmas à Gurupi. No sentido, apeio em Taquaralto para sacar royalties num caixa eletrônico pru modi da travessia de cerca de 3 horas, gasosa e otras cositas más. Tô lá, descendo, e passa um picolezeiro gritando: “picolé de maconha! Picolé de maconha!”. Surtei na hora, tentando construir aquele sabor por entre as salivas.
Isso foi na boca de um feriadão, quarta, dia 7 de setembro, data da independência – de quem ou do quê, não me pergunte – e a chuvinha do caju, que antigamente caía em julho, depois passou para agosto, ainda não havia descido. (Ela só veio dar as caras na Capital na sexta, dia 9. Em Araguaina, por exemplo, ela sucumbiu no final de agosto. No Gurupas, hoje são 10 de setembro e nada dela, sequer lubrinizar. Bem que desconfiava: tem muitas cabeças de jeque enterradas em terras gurupiaras).
Mas tudo isso para dizer que fiquei – como qualquer um ficaria – com a pulga atrás da orelha. O que o cara queria dizer com aquilo? Picolé de maconha? Era para anestesiar e o consumidor esquecer do fastio, do calor, da insolência? Ou era para o cara ficar diboas, salivando o néctar dos loucos?
Porque no cerrado tocantino, enquanto a chuva não vem, entre os meses de julho e setembro, nego fica com a língua de fora o tempo todo, tentando captar no ar o mais fino grão de umidade que nunca chega, que nunca há. Se antes, Teresina, no Piauí, tinha a fama de capital mais quente do país, perdeu o título para a Sereia do Cerrado: Palmas. Título granjeado pelo lago, panela de pressão que se formou e bafeja o dia todo, todos os dias do ano, sufocando o generoso Rio Tocantins. Moeda cara, paga no status da beleza.
Neguim safo vai dizer: esse cronista ou é fdp ou tá querendo zuar. Mas é que o lance foi tão surreal que eu, com um celular de última geração, comprado há cerca de duas semanas, não tive o acerto de sacá-lo e, imediatamente, printar e sonorizar aquela cena simplesmente impensável. Caco de cronista, caco de jornalista que sou.
Saldo da cena pantagruélica: me restou acompanhar olhovisando o incauto vendedor de picolé de maconha, descer, avenida abaixo. Mas, estranho, mesmo com o calor de perto de 40 graus com bafo de 50, naquelas 9 horas e pouca da manhã, não vi ninguém, sequer um maluco beleza, se acercar do carrinho. Das duas, uma: ou o pessoal não acreditou na verborragia canabiana do vendedor, ou todo mundo já tava era pra lá de Bagdá naquele primeiro dia de feriadão sem fundo. Brasilianamente e tocantinamente surreal.
Obs: Imagem enviada pelo autor.