Tenho assistido debates e entrevistas dos candidatos à Presidência. Mesmo sabedor que os seres humanos ainda estão em processo de evolução e que faltam alguns milhares de anos, se não milhões, para que o Homo Sapiens se torne Homo Humanus, confesso que estou estupefato com o processo de involução civilizatória que testemunho. Como a dissimulação também faz parte do exercício da política vou tentar “clarear”, ou “desvelar”, o que alguns candidatos acreditam, mas não podem ou não querem deixar explícito. Em relação à competitividade laboral, se o foco é diminuir o custo da força de trabalho, não precisamos de reformas trabalhistas polêmicas. Na história da humanidade o trabalho escravo sempre foi mais “eficaz”. E aqueles que ficarem constrangidos por terem escravos como funcionários podem adotar uma “excelente” alternativa que é a “administração por estresse”, abertamente e sem receios de estarem assediando ou adoecendo seus empregados. Lembrando que quanto maior o estresse, maior a produtividade. E tanto faz se for muito ou pouco, porque a maleficência biopsicossocial é quase a mesma. Portanto, enterremos logo essa excrecência que foi o fim da escravatura. E se a melhor maneira para lidar com a violência for mais violência, sugiro outros “eficientes” e mais baratos métodos, preferíveis a trocar tiros com bandidos e correr riscos de “danos colaterais” (atenuante para “assassinato de inocentes”) e dos custosos cercos às comunidades. O esquartejamento de “criminosos”, seguida de distribuição dos pedaços do corpo por várias localidades, funcionou “muito bem”, inclusive entre nós. Também acho que a crucificação ao longo dos principais corredores viários, como os romanos faziam, também causaria um “ótimo” impacto educativo na população, valendo recordar que a tortura é muito mais barata e “efetiva” do que aparatos de inteligência. Não devemos esquecer-nos da necessidade de branqueamento da população brasileira para combater essa chaga que é a nossa miscigenação racial e cultural. Isso já foi tentado durante o império e precisa ser retomado. Vai ser um pouco mais difícil arrumar terras para doar aos novos colonos europeus, mas sempre podemos dar um jeitinho. Sugiro as terras “improdutivas” das reservas indígenas e das comunidades quilombolas. Não esquecendo que a Educação deve ser de qualidade, mas apenas técnica. Nada de humanidades. Quanto mais próximo a uma robotização, melhor. Autonomia intelectual, pensamento crítico reflexivo e criatividade são perigosos. Quem pensa muito pensa besteira, não é? E, por favor, vamos acabar logo com esses resquícios do Iluminismo e dos valores republicanos. Ridículo essa estória de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. A ordem é: pensamento único! Pensou fora da caixinha: “defenestra” em alto mar, via aérea, ou queima na fogueira (artisticamente é “melhor”). Por fim, vamos parar com essa dispendiosa brincadeira de fazer eleições. Basta perguntar aos reais donos do poder quem serão os próximos governados, ops, governantes, isto é, aqueles que lhes ajudarão a concentrar mais renda e poder. Assim sendo, viveremos “produtivamente”. Mas amedrontados, submissos, tristes, empobrecidos e doentes. Até a morte, pois aposentadoria é coisa de vagabundo. Ah, e esterilizados também. De preferência sem descendentes. 

Publicado no jornal Diário de Pernambuco, 14-9-2018, página 1.2

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina, professor da UPE, Coordenador do Programa Ganhe o Mundo

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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