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Seu dia começou mau e com previsão de piorar. Você sente o corpo e a alma em total desequilíbrio, feito bêbado tentando encontrar o caminho de casa. Está com a agenda lotada de tarefas e compromissos, então, tenta melhorar de qualquer jeito o seu dia. Vã tentativa. Com uma respiração profunda, reflete que era melhor não ter saído de casa hoje, mas não podia ficar.
Os adultos que gozaram de uma boa infância, nesses dias difíceis, tentam lembrar dos bons tempos sem responsabilidades, ou melhor dizendo, onde sua maior responsabilidade era a de brincar quase o tempo todo. Então, por puro saudosismo, você reflete que só aquela época era boa, mas, na verdade, tem muita coisa que não mudou. É você que não percebia o que estava acontecendo ao seu redor. Agora que se é adulto, é preciso entender e conviver com essa realidade de suor, trabalho e cotidiano.
Sobre esses dias ruins, Jesus nos ensinou com sabedoria: “É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo”. Pois quando se está em um dia ruim, tendemos a pensar que serão todos os dias da mesma forma. Existem dias que nasceram para ser ruins mesmo. Que são dias de mares agitados e não de marola e piscina.
Algumas vezes seria mais fácil tentarmos suportar o dia à espera de que ele acabe em vez de mudá-lo. Não conseguimos abrandar o vento frio, apenas podemos nos aquecer até ele passar.
O consagrado tenista espanhol Rafael Nadal, quando perguntado sobre o segredo do seu sucesso, respondeu sem titubear: “Existem dias que não estamos jogando bem e muitas jogadas não dão certo, então devemos fazer o mais básico para ganhar a partida e se contentar com isso”.
A minha pergunta é: Como você vive esses dias maus? Estamos vivendo um momento da nossa sociedade em que o sofrimento é sinônimo de fracasso. As pessoas não podem ver cair lágrimas dos olhos de alguém sem logo fugirem dela ou correrem para secá-la. Não aguentamos a nossa angústia nem a do outro. E nessa negação da realidade e evitação da mesma, não aprendemos com o sofrimento, esse um dos maiores professores que a vida pode nos oferecer.
Saber reconhecer os dias maus na tentativa de simplesmente suportá-lo, entendendo que não há mais o que se fazer no momento, é desafio de gente adulta. Existem dias que precisamos nos recolher e fazer apenas o necessário, guardando energia para o próximo jogo amanhã. Quem não enxerga esse limite, se esgota mais ainda e o dia ruim vira catástrofe.
Acredito, do fundo do meu coração, que algumas respostas para o sofrimento não precisariam ser dadas se nós fôssemos as próprias respostas. Se fôssemos mais presentes e acolhedores do que somos. Talvez, esses mesmos, terão a mesma postura com a gente nas tempestades cotidianas que enfrentamos. De vez em quando, devemos ser como Clarice: “um amigo me chamou pra cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso e fui.”
Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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