Padre Beto 26 de setembro de 2018

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Salma, uma viúva Palestina, vê sua plantação ser ameaçada quando seu novo vizinho, o Ministro de Defesa de Israel, se muda para a casa ao lado. A Força de Segurança Israelense logo declara que os limoeiros de Salma colocam em risco a segurança do ministro e, por isso, precisam ser derrubados. Salma leva o caso à Suprema Corte de Israel para tentar salvar a plantação. O filme Lemon Tree, de Eran Riklis, apresenta o absurdo das diferenças impostas entre iguais, ou seja, seres humanos. Quando Jesus diz: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15, 1-8) não está discursando sobre sua pessoa como homem, mas como a encarnação do Verbo, do Logos, da Luz, de Deus. Nós não adoramos o homem Jesus, mas o Logos, a Vida, a Luz que se encarnaram nele. É preciso compreender isso, pois, caso contrário, perdemos nossa autonomia, como também podemos ter um Jesus egocêntrico. Jesus não era um ser que possuía um ego exacerbado, mas alguém que transmitia a Luz ao mundo. Esta Luz é o impulso de Vida que movimenta Jesus em plenitude e que está em nós em um estado imperfeito. Este impulso de vida é Deus. Deus se encarna em Jesus, sendo Deus a videira. Mas, também aqui, eu preciso compreender bem a noção de Deus. Por que chamamos o Criador de Deus? O que significa a palavra Deus? Etimologicamente Deus vem da expressão latina Dies que quer dizer Dia, Luz. Sua origem no grego também nos dá uma grande pista para a sua compreensão. Deus vem do grego theos que dá origem a theoria que quer dizer ver com clareza. A videira é a Luz que nos faz ver com clareza. A Luz interior se manifesta concretamente em nossa vida através da verdade e do amor, isto é, viver o amor e a veracidade. Porém, as duas são indissociáveis. O amor e a verdade devem permanecer juntos para que a luz de Deus cresça em nós. Afinal, a verdade sem amor é agressão, ofensa, pode magoar o outro, é inquisição e coloca o outro na fogueira em nome da verdade. O amor sem verdade pode se tornar ciúme, possessividade, hipocrisia e até mesmo matar. 

Ser ramo da videira não significa dependência, mas aderência. Nós somos convidados a ser a Luz que nos deu origem e habita em cada um de nós. Esta Luz está presente em todo ser vivo, pois é vida e vida não é propriedade de uma raça, de uma seita ou religião. Um descrente pode resplandecer uma grande luz dentro de si e um crente viver na escuridão. Tomás de Aquino diz que toda a verdade, não importa sua origem, é inspirada pelo Espírito Santo. O Espírito de Deus sopra onde quiser e para onde quiser. Mestre Eckhart reconhecia o avanço espiritual de um noviço ao vê-lo se alegrar com o sucesso do outro. Ao invés de ficarmos com ciúmes ou inveja diante do sucesso alheio, deveríamos nos alegrar por ver Deus se manifestar ao mundo. A nossa sociedade nos leva a ver o sucesso do outro como ameaça. Nós deveríamos ver o sucesso do outro como manifestação de Deus nele. Resplandecer a Luz interior é buscar uma aderência concreta com esta luz. Para o cristão, isso deve ser mais nítido do que para um descrente. Afinal, ter fé não é simplesmente acreditar, mas viver. Ter fé em hebraico significa aman que dará origem a amin (ou amém – o que resta de latim em nossas liturgias é uma palavra hebraica). Amin significa “formar uma coisa só com…”, ou seja, aderir. Aderir significa encarnar com veracidade o amor, o querer bem à vida e ao próximo. Para que a luz seja plenamente em nós é necessário a negação do ego para a afirmação do Self, ou seja, daquilo que realmente sou. E isso só acontece, paradoxalmente, na alteridade. Quanto mais tento enaltecer o meu ego menos eu consigo ser, mas se de verdade amo a vida e os outros consigo ser com mais solidez e profundidade. Por isso lemos em 1 Jo 3, 18-24: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade”. Na ação verdadeira que não possui uma intenção por traz além da própria ação de gerar vida é que a luz se manifesta e somos um com o Pai. Viver na verdade e no amor é o desafio que temos como filhos de Deus, pois a sociedade de consumo nos leva para o caminho oposto. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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