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Passo pela porta do antigo restaurante e o encontro reformado. Curiosa que sou, observo a transformação. Vazio assim, manhã ainda, parece-me bem agradável. Seu nome português me chama à necessidade de solidariedade, com que alimento minha cultura irmã, e penso: “Venho aqui, dia desses…”

Dou dois passos e desperto para a realidade: agradável está assim, vazio. Logo imagino a casa lotada e a zoeira de vozes quase gritadas em todas as mesas, formando um atordoante fundo ruidoso, sem nenhuma harmonia, que parece ir me despotencializando  a voz e tamponando os ouvidos.

Logo passa o desejo de experimentar o lugar.

Mas será que as coisas foram sempre assim? Não, não foi, acreditem os mais novos.

Era possível, antigamente, passar horas esquecidas em conversas deliciosas num bar ou restaurante, sem ter que berrar publicamente sua opinião, seu amor, sua dor, sua reclamação, seu elogio, seu silêncio, para ser entendido por alguém, do outro lado da mesa.

Faz pouquíssimo tempo inauguraram um bistrô/paraíso no templo profano da Cobal. Ar refrigerado, música ambiente, julguei que viesse a atrair pessoas interessadas no prazer da boa refeição, do papo gostoso, da reflexão solitária, do simples cafezinho e leitura de jornal, que fosse.

Pois até lá, outro dia, foi preciso lutar comigo mesma, para terminar meu jantar. Na mesa ao lado (ampliada, é óbvio, que quem é “feliz” vivem em bando!) um grupo comia e bebia, com essa postura, que não sei denominar exatamente, que quer parecer alegria e descontração intensas, mas está mais para euforia e falta de educação imensas! Uma forma de ser de um egoísmo só natural na primeiríssima infância, que sequer reconhece que existam outros, quiçá seus direitos.

Espero não estar sozinha nesse meu desespero. Ou me restará ficar na minha casinha, no alto da colina, saboreando solitariamente meu café e lembrando, saudosa, de deliciosos e infindáveis papos com amigos tão queridos, numa época em que intimidade ainda era valor.

PS E não esqueçam os que me conhecem, que não sou exatamente um pessoa de sussurros…

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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