Padre Beto 15 de agosto de 2018

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Ben Thomas é um homem que foge de uma culpa do passado salvando vidas de completos desconhecidos. Porém, sua interpretação sobre o passado e sobre si mesmo sofre radical transformação quando conhece a frágil Emily, um encontro que vai resultar na maior libertação de Ben. O filme “Sete Vidas”, de Gabriele Muccino, nos ensina que, através de uma sincera relação com o outro, podemos nos encontrar verdadeiramente.

Tomé é uma das personagens mais significativas que encontramos no Evangelho de João. Com ele aprendemos a construir uma relação verdadeira e franca com Deus. Para compreendermos bem a presença de Tomé é necessária a informação que os versículos do capítulo 20 de 29 a 31 não pertencem ao texto original. Os versículos de 29 a 31 foram escritos mais tarde para a valorização daqueles que acreditavam em Jesus como Cristo, mas não o haviam conhecido pessoalmente. Mas, ao valorizar a fé destas pessoas, a “lição de moral” colocada na boca de Jesus acabou desvalorizando a figura de Tomé e o transformando em um exemplo negativo. Se ficarmos com o texto original que termina com a profissão de fé mais antiga do cristianismo (“Meu senhor e meu Deus!”) descobrimos em Tomé um exemplo que deveria ser o modelo ideal na relação entre homem e Deus.

Tomé aparece três vezes no Evangelho de João. Na primeira, Jesus e seus discípulos encontram-se fora da Judéia por estarem nesta ameaçados de morte. Ao receber a notícia da morte do amigo Lázaro, Jesus resolve voltar à Judéia. Os discípulos ficam tomados pelo medo e tentam convencer Jesus do contrário. Tomé toma a palavra e diz: “Vamos também nós, para morrermos com ele!” (Jo 11, 1-43). A segunda participação de Tomé acontece quando Jesus faz referência a sua morte e diz aos discípulos: “E para onde vou, conheceis o caminho”. Os discípulos ficam todos em silêncio, apesar de não compreenderem a fala do mestre. Tomé toma a palavra e questiona: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Desta forma, Tomé retira de Jesus uma das frases mais significativas dos Evangelhos: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 1-6). A terceira participação de Tomé ocorre depois da morte de Jesus. Os discípulos se encontram fechados em uma casa, com medo de terem o mesmo destino de Jesus. O único que não está fechado em casa é Tomé. Jesus, então, aparece a eles. Depois da chegada de Tomé, ele é informado da visita de Jesus. Tomé poderia ser hipócrita o suficiente para aceitar a notícia, mesmo não acreditando. Mas Tomé é transparente e expõe sua incredulidade neste fenômeno. Desta forma, Tomé provoca a segunda aparição de Jesus, a qual talvez não aconteceria se Tomé tivesse ficado quieto. Diante de Jesus ressuscitado, o discípulo faz a profissão de fé mais simples e profunda do cristianismo: “Meu senhor e meu Deus!”

Na figura de Tomé encontramos uma postura de fidelidade e, ao mesmo tempo, de questionamento diante de Jesus. Tomé é fiel a Jesus e esta fidelidade vai até o risco de sua própria vida. Mas, mesmo sendo fiel, Tomé não se torna cego. Ele quer compreender este Jesus e o questiona quando necessário. Em outras palavras, Tomé possui uma viva e verdadeira relação com Jesus. Desta mesma forma deve ser nossa relação com Deus. Deus é fonte de nossa vida. Amá-lo significa seguir seus mandamentos, sintetizados por Jesus no amor ao próximo como amamos a nós mesmos. No amor ao próximo está a medida de fidelidade que temos com Deus. Mas não podemos esquecer que ter fé em Deus é buscar a verdade. O Espírito de Deus é o espírito da verdade. Acreditar em Deus não significa ficar cego diante Dele, mas procurar compreendê-lo, se aproximando cada vez mais da verdade. Portanto, a dúvida racional não é sinônimo de falta de fé. Pelo contrário, somente quem tem fé em Deus se ocupa com suas dúvidas em relação a Ele e procura suas respostas e a verdade sobre Ele e a vida. Deus nos criou seres racionais e como tal temos que acreditar em Deus. Portanto, não podemos aceitar simplesmente verdades sobre a vida e sobre Deus que sejam contraditórias à nossa lógica racional. Toda afirmação sobre a vida e Deus deve ser compreendida através do questionamento e a busca da verdade, caso contrário, nossa fé corre o risco de se transformar em alienação e escravidão.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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