Angela Borges 1 de agosto de 2018

Solitário, todo envergado pelo tempo, cabelos de um encaracolado repugnante, lá ia ele. De andar trôpego, subia e descia ladeira silenciosamente, sem reclamar nem contestar nada nem ninguém.Solitário, todo envergado pelo tempo, cabelos de um encaracolado repugnante, lá ia ele. De andar trôpego, subia e descia ladeira silenciosamente, sem reclamar nem contestar nada nem ninguém.

“Olá, sr. Severino, gritavam alguns que passavam.”. Ele acenava suavemente, mal podendo falar. Talvez a fome ou a sujeira que o corpo carregava dificultassem a emissão de voz. A cabeça pendia para frente, e o corpo maltrapilho, cansado da vida, seguia sem horizontes. Meramente seguia sem teto, sem família, sem nada. A solidão de sr. Severino doía em alguns. Em mim, corroía-me a alma, e era frustrante para mim não poder mudar aquele cenário de vida. Um corpo que apenas transitava no silêncio, raramente esboçando um ligeiro sorriso. Talvez fizesse isso como forma de alimentar a alma com uma pequena dose de felicidade. Ser reconhecido e cumprimentado por alguns servia de bálsamo para o coração, para prosseguir.

Pobre do senhor Severino !!!

Lá ia ele seguindo a vida numa miséria de dar dó… Lá ia eu e tantos seguindo a vida transbordante de materialismos …

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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